terça-feira, 26 de junho de 2007

Os seus, os meus, os nossos filhos

É revoltante o assalto e espancamento da empregada doméstica Sirlei Dias Carvalho Pinto, 32 anos, em um ponto de ônibus, por cinco jovens de classe média alta, entre 19 e 21 anos, moradores na Barra da Tijuca (RJ). Veja aqui.

Ela seguia para uma consulta médica. Foi abordada e agredida "por engano". O motivo dos agressores, bastante singelo: "Pensamos que fosse uma prostituta."

O microempresário Ludovico Ramalho Bruno, 46, pai de um dos agressores, disse acreditar que o filho Rubens Arruda, 19, estava alcoolizado ou drogado quando participou do espancamento da empregada doméstica. "Uma pessoa normal vai fazer uma agressão dessa?", pergunta.

Ele complementa: "Queria dizer à sociedade que nós, pais, não temos culpa nisso". Talvez sim, talvez não. Difícil dizer. Quem tem filhos, sabe que eles não são "controláveis" 24 horas por dia. Até que ponto a formação que têm em casa e a base familiar impedem que um jovem cometa atrocidades como essa?

"Existem crimes piores", diz o pai do jovem agressor. Será? Qual a escala desse julgamento subjetivo? Piores aos olhos de quem bate ou de quem apanha? A filosofia do "estupra, mas não mata" está disseminada na sociedade?

O pai prossegue: "Eles cometeram erro? Cometeram. Mas não vai ser justo manter crianças que estão na faculdade, estão estudando, trabalham, presos. É desnecessário, vai marginalizar lá dentro. Foi uma coisa feia que eles fizeram? Foi. Não justifica o que fizeram. Mas prender, botar preso, juntar eles com outros bandidos... Essas pessoas que têm estudo, que têm caráter, junto com uns caras desses? Existem crimes piores."

Há dez anos, cinco rapazes de classe média de Brasília atearam fogo e mataram o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos. Alegaram "brincadeira". Quatro maiores foram condenados a 14 anos de prisão. Eron Chaves de Oliveira, Max Rogério Alves, Antonio Novély Cardoso Vilanova e Tomás Oliveira de Almeida cumpriram parte da pena em regime fechado. Já estão na rua.

Como bem comparou o jornalista Nelson de Sá, na Folha de hoje:

Jovens não, bandidos

Ontem na Globo, sobre episódio no Rio de Janeiro:

- Grupo espancou e roubou empregada. Os jovens são de classe média alta... Jovens moradores de condomínios de luxo da Barra... Jovens... Os jovens são o centro desta questão perturbadora.

Dias antes na Globo, sobre episódio em São Paulo:

- Quadrilha aterrorizou moradores do Morumbi. Assalto a casa de luxo... Vários bandidos.

Para um lado, um "grupo" de "jovens". Para outro, uma "quadrilha" de "bandidos".