quinta-feira, 27 de junho de 2013

Como o PT manobra para aprovar CPI "chapa-branca"?

O que todo mundo já noticiou: havia duas propostas de CPI do Transporte Público protocoladas na Câmara Municipal. A primeira, desde fevereiro deste ano, do vereador da base governista Paulo Frange (PTB); a segunda, no contexto das manifestações ocorridas nas últimas semanas, do vereador Ricardo Young (PPS); e, desde ontem, uma terceira, quando o PT finalmente cedeu às pressões da opinião pública e percebeu que uma CPI seria inevitável, apresentada pelo próprio governo, do petista Paulo Fiorilo (ex-chefe de gabinete da prefeita Marta Suplicy, ex-presidente do PT paulistano e coordenador da campanha presidencial de Lula).

O que ninguém noticiou, ainda, que ocorre nos bastidores da Câmara: em vez de prevalecer a ordem cronológica dos pedidos, ou serem analisados e votados um a um, o PT faz mais uma manobra regimental para que o seu pedido - o último apresentado - seja votado e aprovado: a assessoria do vereador Paulo Fiorillo está desde às 6h da manhã na "fila" do protocolo, que será aberto no início da sessão, às 15h, para que o pedido de "preferência" da CPI "chapa-branca" seja votado em primeiro lugar.

Com essa manobra - graças às 9 horas em uma "fila" virtual - o PT completa a encenação: aprova uma CPI, justificando ouvir a "voz das ruas", que clama pela abertura da "caixa preta" do sistema de transporte em São Paulo, ao mesmo tempo em que tenta manter o controle sobre as investigações - o que não estaria garantido nas mãos de um vereador não cooPTado pelo governo. E também evita o desgaste político de justificar a rejeição ao pedido de Ricardo Young, apoiado pela opinião pública.

Veja que o PT mudou de posição em 24 horas. Primeiro era totalmente contrário à CPI, com o governo e os vereadores da base garantindo que todas as informações do sistema, planilhas de custos etc. já estavam à disposição da Câmara e da sociedade. Tanto que o secretário de Transportes Jilmar Tatto afirmou, em nome do governo Hadadd, que uma CPI serviria apenas para "achacar os empresários do setor".

Percebendo a bobagem dita, que constrangeu os vereadores e fez aumentar a presença de manifestantes pró-CPI na Câmara, o governo mudou radicalmente a estratégia: decidiu "responder à sociedade" (aham!) e aprovar a CPI tão reivindicada, desde que, obviamente, mantivesse o controle sobre a comissão.

O discurso oficial: a CPI proposta pelo PT, ao contrário dos pedidos anteriores, é a única que tem um "escopo claro" (nas palavras de Paulo Fiorilo), ou seja, "discutir as planilhas das concessões e entender o custo do sistema". Como se não fosse este o mesmíssimo objetivo dos requerimentos de Paulo Frange e de Ricardo Young  - a não ser pelo fato de serem menos palatáveis ao governo do que ter o vereador Paulo Fiorilo na presidência.

Outra manobra ainda possível, para alegar uma suposta "independência" e "isenção" da CPI, é o PT abrir mão da presidência e entregá-la a outro vereador da tropa-de-choque governista; por exemplo, Dalton Silvano (PV) - que de opositor ferrenho da gestão de Marta Suplicy (2001/2004) passou a ser um dos mais fiéis e confiáveis aliados do PT.

Se não bastasse a declaração infeliz do secretário Jilmar Tatto (irmão de dois vereadores da bancada petista: o novato Jair Tatto e o líder do governo na Câmara, o veterano Arselino Tatto), foi ele próprio o responsável e signatário dos contratos de transporte ainda em vigor, licitados na gestão de Marta Suplicy, continuados nas administrações de José Serra e Gilberto Kassab, e que seriam submetidos à nova licitação agora, pelo prefeito Fernando Haddad, cancelada ontem por alegada "falta de transparência". Vai entender...

Leia também:

CPI "chapa-branca" não abre "caixa-preta"

Vamos falar sério, prefeito Fernando Haddad?

PT e PSDB: os dois lados da moeda de 20 centavos 

CPI "chapa-branca" não abre "caixa-preta"

Anunciado o golpe da bancada governista: o vereador Paulo Fiorilo (PT) protocolou um pedido de CPI do Transporte Público para derrubar os pedidos anteriores, do também governista Paulo Frange (PTB) e do oposicionista Ricardo Young (PPS).

Traduzindo: os vereadores fizeram nesta quarta-feira uma encenação, em resposta à pressão da opinião pública, indicando a aprovação de uma terceira CPI (além de duas obrigatórias, já em funcionamento). Nesta quinta-feira, 27 de junho, será definida qual terá "preferência" para aprovação. Ou seja, a maioria governista decidirá pela CPI mais palatável. Simples assim.

Pelo acordo ventilado, o petista Paulo Fiorilo assumirá a presidência da CPI genérica, com relatoria de Milton Leite (Bloco DEM/PR) e integrada possivemente por Dalton Silvano (PV), Paulo Frange (PTB), um peemedebista (Nello Rodolfo ou Ricardo Nunes) e mais um integrante do PSD kassabista - compondo maioria folgada para o governo.

A oposição ficaria restrita a um representante do PSDB, a ser indicado pelo líder Floriano Pesaro, que ainda dizia acreditar num improvável acordo para que um vereador tucano ocupasse a presidência ou a relatoria da CPI. Aham, então tá bom.

No twitter @md33sp comentamos os acontecimentos na Câmara Municipal:

CPI "chapa-branca" não abre "caixa-preta"! O povo não é bobo, PT! Não venha tentar nos manipular! Por uma CPI isenta!

Será que PT acha que população de SP acreditará em CPI controlada pelo governo? O povo não é bobo! Exige CPI isenta p/ abrir "caixa preta"!

CPI deve ser isenta, não pode ser encenação do PT ‏ AO VIVO votação da CPI dos transportes na Câmara/SP

"São políticos se investigando, CPI não é fundamental", diz integrante do MPL (leia) Se for CPI do PT, é isso!

Em SP, Movimento Passe Livre convoca novo protesto por CPI dos Transportes

Base de Haddad manobra para impedir CPI dos Ônibus. Vereadores paulistanos não ouvem "voz das ruas"

Falta aprovar CPI isenta. E agora, PT? ‏ Integrante do MPL elogia decisão de Haddad de cancelar licitação.

"Esperteza" governista na Câmara: o próprio PT vai apresentar pedido de CPI para encenar resposta à sociedade e manter tudo "sob controle".

Dia de ontem na Câmara de SP com Delfim e as manobras do PT superaram a ficção de . Leia aqui.

Presidente da Câmara debocha dos manifestantes no plenário: "Imagina se eles trouxessem 300 pessoas, se só 80 estão assim!"

"Eu tô brincando com vocês", diz à platéia, depois de ironizar manifestantes, soltar vários PSIU! e soltar "só atrapalham!"

Os tempos mudaram, caros políticos. Deixem de lado as velhas cartilhas. O povo exige um novo patamar de representação política e democracia!

PT realmente não consegue entender manifestações espontâneas nas ruas, já que cooPTou todos os movimentos e entidades organizadas. Difícil!

Movimento prova que não eram só os 20 centavos: é a transparência do sistema e a qualidade do transporte público. "Quanto Custa?"

Era possível ou não o desconto na tarifa? Pq disse e "desdisse" que era inviável? Pressão? E as contas, cadê? Venha, CPI!

Lamentável que PT tenha trocado de lado: fez história como partido-modelo na oposição e hoje é maior traidor dos movimentos e causas sociais

PT dá mais um tiro no pé ao manobrar contra CPI do Transporte Público na Câmara de SP. Não escuta a sociedade e vai pagar caro pela sandice!

Será coincidência que atual Secretário de Transportes, Jilmar Tatto, seja o mesmo envolvido em escândalos na gestão de Marta Suplicy? Hmmm!

Nos tempos em que fazia oposição, o PT defendia CPI para tudo. Hoje diz que é "irresponsabilidade" aprovar CPI do Transporte em SP. Pq????

Aumento do ônibus foi congelado a pedido de Dilma. Depois aumentou R$ 0,20. Haddad afirmou que seria populismo revogar. E o que fez? Revogou!

Métodos do PT para barrar CPI do Transporte Público em SP são deploráveis. Reúne o que aprendeu de pior nos governos Collor, Maluf & cia.

Vergonhosa atuação do PT e base para barrar CPI do Transporte Público na Movimento Passe Livre alerta na fiscalização!

Estudantes do têm mais maturidade política que base governista. Incrível! PT perdido e desconectado da realidade!

Que papelão, hein, PT e base governista: CPI "chapa-branca" de vai abrir a "caixa-preta" do transporte em SP? Ah, tá bom! Kkkk

Proporcionalidade de forças para compor a CPI significa "sob controle" do governo? Que fase!

Vereador Nabil não sejamos hipócritas: CPI "chapa-branca" não vai abrir "caixa-preta". Seu partido manipula a verdade!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Causos da Câmara Municipal de Saramandaia

Ops! Ainda se fosse na fictícia Câmara Municipal de Bole-Bole, ou Saramandaia, remake da série dos anos 70 de Dias Gomes na Globo, vá lá! Mas o realismo fantástico da Câmara de São Paulo supera quase sempre o surrealismo da ficção. Na obra da TV, tem vereador que morre e "desmorre". Aqui, os vereadores da vida real "matam" (de vergonha alheia!).

Num dia como essa terça-feira, 25 de junho, em que a maioria governista estava empenhada em fazer manobras regimentais para barrar a CPI dos Ônibus, não faltaram cenas impagáveis.

Na reunião do "colégio de líderes", espécie de Escolinha do Professor Raimundo em que representantes de todas as bancadas se reúnem semanalmente para ensaiar acordos de votação, seguindo o script governista, o vereador Milton Leite surpreendeu pela indignação contra os vereadores Toninho Vespoli (PSOL) e Ricardo Young (PPS), que defendiam a CPI para abrir a "caixa preta" do sistema de transportes na cidade.

"Eu não admito que se fale em caixa preta", bradava Milton Leite, líder do bloco DEM/PR. "Por que não falam caixa branca, ou caixa que precisa ser aberta? Caixa preta é preconceito!". O advogado Sergio Arruda (foto), na platéia, não resistiu: "Eu sou negro e não me considero ofendido, caixa preta é um termo utilizado na aviação!".

Não bastou constatar o óbvio. Sob apupos do público que lotava a sala do "colégio de líderes", à espera da votação da CPI, o vereador Milton Leite não se deu por satisfeito: "Vá disputar uma eleição, ter votos e se eleger para poder discutir comigo!", rebateu. A discussão nonsense acabou por aí, mas os momentos memoráveis prosseguiram.

Líder do PSDB, o vereador Floriano Pesaro criticava o secretário de Transportes por ter afirmado que qualquer CPI serviria para "achacar os empresários do setor". Comportamento emblemático deste "novo" PT. "É um desrespeito à Câmara essa afirmação do secretário Jair Tatto!". Foi interrompido pelo líder do Governo, Arselino Tatto: "O meu irmão Jair Tatto também é vereador, assim como eu; mas o secretário é o Jilmar Tatto". O tucano não perdeu a piada: "É verdade, é tanto Tatto na política que a gente confunde".  Seguiram-se risos de todos os presentes (e, aos que presenciaram a cena, foi impossível não lembrar da claque típica dos programas de humor).

O decano Wadih Mutran, que se diz o vereador mais "independente" da Câmara (pois independente do prefeito eleito, ele permanece na base governista há décadas), gosta de contar anos, meses, dias, horas e minutos do seu interminável mandato ("Sou vereador há 30 anos, seis meses, 25 dias, duas horas e 49 minutos", anuncia como um cuco do PP malufista). Ele bolou um argumento irrefutável para não aprovar a CPI "da oposição".

"Não podemos aprovar essa CPI dos Ônibus só porque a população foi às ruas criticar o prefeito Haddad e pressionar a Câmara", afirmou, com autoridade inquestionável. "Somos nós, vereadores, que decidimos qual CPI devemos aprovar e quando, não temos urgência nenhuma, então vamos deixar para depois do recesso e aprovar a CPI do Paulo Frange, que está na pauta há 12 anos". Realmente, uma sensibilidade ímpar com a "voz das ruas".

O desespero que tomou conta do PT ficou evidente com os crescentes desentendimentos entre o líder do Governo, Arselino Tatto, e o presidente da Câmara, José Américo, ambos petistas. Como estavam todos os líderes na reunião do oitavo andar, o presidente recomendou que o 1º vice, Marco Aurélio Cunha (PSD), ou o secretário Claudinho de Sousa (PSDB) abrissem e suspendessem a sessão ordinária do dia, às 15h, para possibilitar o prosseguimento dos debates quando todos descessem ao plenário no primeiro andar.

Porém, em mais uma tentativa de barrar a CPI, Arselino Tatto alegou que não havia 19 vereadores presentes para a abertura da sessão e a consequente suspensão dos trabalhos. Assim, no entendimento do líder do Governo, regimentalmente a sessão não poderia ser "reaberta", como queria José Américo.

"Está aqui a lista de presença oficial da Casa: não havia 19 vereadores para abrir nos 15 minutos regimentais, e o presidente encerrou a sessão por falta de quórum", mostrava Tatto. Nervoso e preocupado com o desgaste da Câmara diante dos manifestantes, Américo rebateu com um singelo: "Ele se enganou, não viu que havia quórum e vamos retomar a sessão."

O presidente José Américo conduz as sessões com um humor peculiar. Troca o nome dos colegas (Wadih Mutran vira Valdir; Dalton Silvano é Danton; Milton Leite é chamado de Mailton Milk e Alfredinho, de Little Alfred), inventa citações de "filósofos" como Zeca Pagodinho ("Vamos em frente que atrás vem gente") e Paulo Cintura ("Votar é o que interessa, o resto não tem pressa"), e se gaba de ter lido apenas a "orelha" dos livros de Direito.

Vereadores tentaram fazer graça também com a representante do Movimento Passe Livre, Mayara Vivian, presente ao "colégio de líderes" e direta no recado: "Para os manifestantes não há recesso; se não for aprovada a CPI, vamos atrás dos vereadores na praia, na piscina, onde for necessário".

A "provocação" à jovem foi questionar se ela seria mais fã do senador Eduardo Suplicy ou do presidente da Câmara, José Américo. A resposta foi rápida: "Não sou fã de político ou de partido nenhum, sou fã dos Ramones e de algumas outras bandas."

Pouco antes, durante audiência da Comissão da Verdade com o ex-ministro da Fazenda nos anos de chumbo da ditadura, Delfim Netto, signatário convicto do AI-5 ("assinei e assinaria de novo"), houve outro momento digno de nota. Delfim simplesmente alegou desconhecer qualquer episódio de tortura ou ligação do "governo civil" com o regime militar: "Linha dura? Que linha dura? Era um bando de maluquetes!". Risos pelo humor involuntário. Nem Freud explica.

Esse é o relato de uma única tarde na Câmara Municipal de São Paulo. Digna de qualquer antologia. E ainda tem gente que se surpreende com Saramandaia... Eis o retrato do Brasil!

Delfim Netto: Fotos de RenattodSousa/CMSP

Leia também:



Base de Haddad manobra para impedir CPI dos Ônibus

O PT e a base governista na Câmara de São Paulo estão usando todas as manobras regimentais possíveis para barrar a CPI do Transporte Público. Alheios à pressão da população e dos movimentos sociais, os vereadores não querem aprovar uma investigação que abra a chamada "caixa preta" do sistema, tornando transparentes as planilhas de custos e quanto dinheiro público é repassado para as empresas e cooperativas de ônibus.

São necessários 28 votos para decidir por mais uma CPI na Câmara (é obrigatório pelo regimento interno o funcionamento de pelo menos duas, e já estão instaladas a CPI dos Estacionamentos e a CPI da Exploração Sexual). Se aprovada a abertura de uma terceira, a pressão da opinião pública é favorável à CPI do Transporte Público proposta pelo vereador Ricardo Young (PPS), no contexto de todas as manifestações de rua ocorridas nas últimas semanas.

A manobra coordenada pelo líder do Governo, vereador Arselino Tatto (PT), e pelo líder da bancada petista, vereador Alfredinho, com apoio dos vereadores mais experientes da base governista - como Dalton Silvano (PV), Wadih Mutran (PP) e Nello Rodolfo (PMDB) - é votar rapidamente a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e iniciar o recesso parlamentar de julho, empurrando para o segundo semestre qualquer discussão sobre o transporte (e apostando no esfriamento do assunto).

Outra "esperteza" da bancada governista foi desarquivar uma CPI proposta pelo vereador Paulo Frange (PTB), segundo o próprio autor "há 12 anos, desde 2001", e reapresentada em fevereiro de 2013 (no início de cada legislatura várias CPIs são propostas, para que pelo menos duas de "consenso" sejam instauradas).

Será possível que uma CPI proposta desde 2001 possa dar as respostas que a população que foi às ruas está cobrando da Prefeitura e da Câmara Municipal? Difícil. Parece simplesmente uma CPI mais palatável para o governo, controlada pelos vereadores da base. Uma encenação em resposta à cobrança da sociedade. Porém, em tese alguns dos problemas do setor são crônicos.

Há até uma "coincidência" intrigante: o secretário municipal dos Transportes de Haddad, Jilmar Tatto,  ocupava o mesmo cargo na gestão de Marta Suplicy (2001/2004), foi na época o responsável pela assinatura dos contratos bilionários do sistema de transporte, em vigor até hoje, e esteve envolvido em uma série de polêmicas com a chamada "máfia do transporte". Tutti buona gente!

E a tal CPI genérica do governista Paulo Frange, por que não foi aprovada antes, se o vereador afirma que ela continua tão atual e oportuna? Segundo declaração do líder do PTB, porque o seu partido foi "atendido pelo governo em outros espaços políticos" (oi????? como assim?????). "O PTB, com quatro vereadores, ganhou a Secretaria de Esportes para o vereador Celso Jatene e colocou o vereador Adilson Amadeu na Mesa Diretora da Câmara; então aprovamos CPIs que atendiam outros colegas, pois o PTB já tinha o seu espaço." Sincero, explícito e revelador: os interesses da cidade ficam em segundo plano; a prioridade é o seu partido.

A CPI do Transporte Público proposta por Ricardo Young (PPS), com apoio de outros 20 vereadores, é defendida pelo MPL (Movimento Passe Livre) e por diretórios acadêmicos das principais faculdades paulistanas. Os jovens prometem retomar as manifestações de rua - agora com o foco voltado à Câmara Municipal - até a abertura da CPI.

De acordo com o líder do governo, Arselino Tatto, com a redução da tarifa de R$ 3,20 para R$ 3,00 a CPI tornou-se desnecessária, como se a única preocupação de todos fossem os tais 20 centavos. "É natural que a oposição queira surfar nisso. Mas nós vamos defender na base que o voto seja contrário", afirmou.

Estranho o comportamento do PT, que de partido-modelo na oposição e defensor intransigente das CPIs passou a classificar como "irresponsabilidade" a abertura de comissões parlamentares de inquérito. O secretário Jilmar Tatto (irmão de Arselino e de outro vereador paulistano, Jair Tatto) chegou a declarar publicamente que a CPI só serviria para o "achaque" de empresários. "Sou totalmente contra porque CPI, quando se instala, geralmente é para ficar achacando o setor, não é para resolver, tirar dúvidas", afirmou. Quem diria...

Leia também:

CPI dos Ônibus

Movimento Passe Livre defende CPI

Vamos falar sério, prefeito Fernando Haddad?

PT e PSDB: os dois lados da moeda de 20 centavos

terça-feira, 25 de junho de 2013

CPI DOS ÔNIBUS


(Editorial da Folha de S. Paulo desta terça-feira, 25 de junho de 2013)

Câmara Municipal debate hoje abertura de investigação sobre transportes públicos em São Paulo; setores do PT já trabalham contra comissão

Os vereadores de São Paulo terão hoje excelente oportunidade para dar uma primeira resposta às marchas que paralisaram a cidade. Basta que ponham em votação, e aprovem, a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o setor de transportes públicos da capital paulista.

O pedido para instalar a comissão foi protocolado pelo vereador Ricardo Young (PPS). Hoje, os líderes partidários na Câmara Municipal decidirão se a proposta entrará em pauta antes das que estão na fila há mais tempo. A depender do acordo, o plenário já poderá criar a CPI.

A ideia se tornou prioritária. Embora as manifestações tenham adquirido caráter eclético, elas começaram como um protesto contra o aumento de R$ 0,20 nas tarifas de ônibus e metrô.

Seria decepcionante, porém, se no plano municipal os protestos dos últimos dias se esgotassem na reversão do aumento (segundo o Datafolha, 66% dos paulistanos querem que as manifestações prossigam). A questão tarifária é só a primeira das pendências relativas às concessões de ônibus na cidade de São Paulo.

Reportagem desta Folha mostrou que o Ministério Público investiga uma situação "sui generis": o balanço de empresas de ônibus que operam na cidade apresenta prejuízo, mas seus proprietários fazem movimentações milionárias, algumas das quais consideradas atípicas pelo Coaf, órgão federal que apura lavagem de dinheiro.

Suspeita-se que os donos das companhias estejam envolvidos em desvio de recursos, troca de veículos novos por velhos e até venda de linhas de ônibus que não poderiam ser comercializadas, pois são uma concessão da prefeitura.

Talvez não seja coincidência que o Consórcio Leste 4, foco da averiguação, atue na zona leste paulistana, justamente onde é pior a qualidade do transporte público (informação da própria SPTrans, que gerencia as mais de 1.300 linhas de transporte de São Paulo).

Há ainda questões técnicas a serem elucidadas. Segundo o jornal "Valor Econômico", de 2006 a abril deste ano a receita média das empresas por passageiro cresceu 15% acima da inflação. Ainda que esse aumento decorra de cláusulas contratuais, seria oportuno esclarecer se foram feitos os investimentos previstos como contrapartida.

A Prefeitura de São Paulo, não é demais lembrar, fará no próximo mês licitação para selecionar novas empresas pelos próximos 15 anos. Estima-se que o negócio gire em torno de R$ 45 bilhões. É quase um truísmo cobrar maior controle sobre esse montante.

Como seria de esperar, o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto (PT), investiu contra a CPI. Será lamentável se ele prevalecer, ou se, sob a influência de seu partido, a comissão entrar para o rol das que fazem muito barulho e nada esclarecem.

CPI é para achacar, diz secretário de Haddad


Jilmar Tatto (PT) afirma ser 'totalmente contra' comissão na Câmara para investigar transporte público municipal

Frase põe o secretário em rota de colisão com o presidente da Câmara paulistana, o também petista José Américo

(Folha de S. Paulo)

O secretário de Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto, disse ontem que uma CPI na Câmara Municipal para investigar o sistema de transporte da cidade seria usada para achacar empresários.

"Sou totalmente contra, porque CPI, geralmente, quando se instala, é pra ficar achacando o setor, não é pra resolver, tirar dúvidas", disse Tatto, que é deputado federal licenciado pelo PT.

Há hoje na Casa dois pedidos de investigação sobre a área --um proposto por Ricardo Young (PPS) na última semana e outro de Paulo Frange (PTB), do início do ano.

Tatto afirmou ainda que não vê necessidade de uma CPI, pois, segundo ele, todas as informações do setor são enviadas à Câmara e a outros órgãos, como o Ministério Público. "Não tem caixa preta."

Para o secretário, é importante que a sociedade aproveite as manifestações pela redução das tarifas para debater a organização do sistema e até a lucratividade dos empresários, mas a criação de uma comissão iria "desviar o foco de como melhorar o sistema de transporte".

A Presidência da Câmara, comandada por José Américo (PT), rebateu a declaração do secretário do prefeito Fernando Haddad, também petista. Em nota, afirmou que as CPIs propostas estão fundamentadas em "princípios estritamente republicanos de transparência e zelo pelos recursos públicos". "Nenhuma comissão é criada com a intenção de prejudicar qualquer setor da sociedade."

Haddad já teve atritos com a bancada do PT na Câmara, após vetar, em maio, projetos de lei de vereadores da sigla.

Petistas procurados ontem pela Folha não quiseram comentar a fala de Tatto. A presidente municipal do partido, vereadora Juliana Cardoso, disse que precisava "ver o contexto" antes de falar.

Integrantes da oposição reagiram à fala de Tatto. Young insinuou que o petista atua a favor dos empresários do setor e quer convocá-lo para explicar a declaração, caso a CPI seja instalada.

"Não entendo o secretário dizer um absurdo desses. Ele está do lado de quem? Ele tem lado?", questionou. "Ele terá de se explicar."

Floriano Pesaro, líder do PSDB, ironizou a fala do petista. "Só posso lamentar que o secretário tenha essa visão de uma CPI, não sei se por experiência própria", afirmou.

O pedido de CPI protocolado por Young recebeu apoio de 23 vereadores, entre eles cinco petistas. Ele buscará hoje entendimento entre os líderes dos partidos na Câmara para que seja votada em plenário a criação de uma CPI em caráter excepcional --para isso são necessários votos de 28 dos 55 vereadores.

Líder do PT na Casa, o vereador Alfredinho diz que a assinatura de petistas no requerimento não significa que o partido votará pela abertura da investigação. Segundo ele, a Câmara precisa ter "cuidado" com CPIs criadas apenas com "intenção política".

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Líder? Que líder? Será o fim da velha política?

O que o Movimento #VemPraRua vem causando? Primeiro, a crise mais óbvia: os governantes estão perdidos, batem cabeça, fazem pronunciamentos vazios (quando não, desastrosos), anunciam uma medida de manhã e recuam à noite (como fez Haddad com a revogação do aumento da tarifa em São Paulo), mostram-se constrangidos ou simplesmente omissos.

Segundo, a crise mais grave e complexa: a maioria ainda não entendeu a força das redes sociais e o estrondoso sucesso de um movimento "(des)organizado", alheio às estruturas tradicionais da política e da sociedade (governos, partidos, sindicatos, igrejas, entidades), que surgiu como resposta espontânea da sociedade indignada com os desmandos e abusos dos atuais ocupantes do poder, clamando por uma nova forma de fazer política e a redemocratização da democracia.

Aí, qual é a reação automática dos políticos, seguindo a lógica das velhas cartilhas da política partidária, incluída a presidente Dilma Roussef no pronunciamento desta sexta-feira, 21 de junho? Anunciam a disposição de "dialogar com os líderes do movimento". Ora, ora. Não entenderam nada, realmente.

Não há líderes nesses movimentos populares surgidos espontaneamente nas redes, meus caros velhos políticos. Não existe comando, nem hierarquia. Predomina a horizontalidade. Não existe "núcleo", é a manifestação das "bordas". O que prevalece é um ativismo autoral (para usar os termos de alguém que compreende há algum tempo o que está acontecendo: Marina Silva).

É importante que se diga: nem o Movimento Passe Livre, que existe há oito anos com uma dezena de jovens inteligentes e bem articulados, lidera coisa alguma, apenas desencadeou a onda de protestos ao mostrar que é possível mobilizar a sociedade e pressionar os políticos por uma causa justa.

Aliás, vamos comparar o que dizem quatro políticos sobre os últimos acontecimentos. É um exercício bastante revelador. Leia abaixo a íntegra do pronunciamento de Dilma Roussef (PT), e na sequência artigos de Marina (Rede Sustentabilidade), de Fernando Gabeira (PV) e do deputado Arnaldo Jardim (PPS).

Íntegra do pronunciamento de Dilma Roussef 

Minhas amigas e meus amigos,

Todos nós, brasileiras e brasileiros, estamos acompanhando, com muita atenção, as manifestações que ocorrem no país. Elas mostram a força de nossa democracia e o desejo da juventude de fazer o Brasil avançar.

Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas. Mas, se deixarmos que a violência nos faça perder o rumo, estaremos não apenas desperdiçando uma grande oportunidade histórica, como também correndo o risco de colocar muita coisa a perder.

Como presidenta, eu tenho a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a democracia.

O Brasil lutou muito para se tornar um país democrático. E também está lutando muito para se tornar um país mais justo. Não foi fácil chegar onde chegamos, como também não é fácil chegar onde desejam muitos dos que foram às ruas. Só tornaremos isso realidade se fortalecermos a democracia – o poder cidadão e os poderes da República.

Os manifestantes têm o direito e a liberdade de questionar e criticar tudo, de propor e exigir mudanças, de lutar por mais qualidade de vida, de defender com paixão suas ideias e propostas, mas precisam fazer isso de forma pacífica e ordeira.

O governo e a sociedade não podem aceitar que uma minoria violenta e autoritária destrua o patrimônio público e privado, ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus e tente levar o caos aos nossos principais centros urbanos. Essa violência, promovida por uma pequena minoria, não pode manchar um movimento pacífico e democrático. Não podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil. Todas as instituições e os órgãos da Segurança Pública têm o dever de coibir, dentro dos limites da lei, toda forma de violência e vandalismo.

Com equilíbrio e serenidade, porém, com firmeza, vamos continuar garantindo o direito e a liberdade de todos. Asseguro a vocês: vamos manter a ordem.

Brasileiras e brasileiros,

As manifestações dessa semana trouxeram importantes lições: as tarifas baixaram e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional. Temos que aproveitar o vigor destas manifestações para produzir mais mudanças, mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira.

A minha geração lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram perseguidos, torturados e morreram por isso. A voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada, e ela não pode ser confundida com o barulho e a truculência de alguns arruaceiros.

Sou a presidenta de todos os brasileiros, dos que se manifestam e dos que não se manifestam. A mensagem direta das ruas é pacífica e democrática.

Ela reivindica um combate sistemático à corrupção e ao desvio de recursos públicos. Todos me conhecem. Disso eu não abro mão.

Esta mensagem exige serviços públicos de mais qualidade. Ela quer escolas de qualidade; ela quer atendimento de saúde de qualidade; ela quer um transporte público melhor e a preço justo; ela quer mais segurança. Ela quer mais. E para dar mais, as instituições e os governos devem mudar.

Irei conversar, nos próximos dias, com os chefes dos outros poderes para somarmos esforços. Vou convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do país para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos.

O foco será: primeiro, a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que privilegie o transporte coletivo. Segundo, a destinação de cem por cento dos recursos do petróleo para a educação. Terceiro, trazer de imediato milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde, o SUS.

Anuncio que vou receber os líderes das manifestações pacíficas, os representantes das organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das associações populares. Precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências, de sua energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente.

Brasileiras e brasileiros,

Precisamos oxigenar o nosso sistema político. Encontrar mecanismos que tornem nossas instituições mais transparentes, mais resistentes aos malfeitos e, acima de tudo, mais permeáveis à influência da sociedade. É a cidadania, e não o poder econômico, quem deve ser ouvido em primeiro lugar.

Quero contribuir para a construção de uma ampla e profunda reforma política, que amplie a participação popular. É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático. Temos de fazer um esforço para que o cidadão tenha mecanismos de controle mais abrangentes sobre os seus representantes.

Precisamos muito, mas muito mesmo, de formas mais eficazes de combate à corrupção. A Lei de Acesso à Informação, sancionada no meu governo, deve ser ampliada para todos os poderes da República e instâncias federativas. Ela é um poderoso instrumento do cidadão para fiscalizar o uso correto do dinheiro público. Aliás, a melhor forma de combater a corrupção é com transparência e rigor.

Em relação à Copa, quero esclarecer que o dinheiro do governo federal, gasto com as arenas é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e os governos que estão explorando estes estádios. Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a Saúde e a Educação.

Na realidade, nós ampliamos bastante os gastos com Saúde e Educação, e vamos ampliar cada vez mais. Confio que o Congresso Nacional aprovará o projeto que apresentei para que todos os royalties do petróleo sejam gastos exclusivamente com a Educação.

Não posso deixar de mencionar um tema muito importante, que tem a ver com a nossa alma e o nosso jeito de ser. O Brasil, único país que participou de todas as Copas, cinco vezes campeão mundial, sempre foi muito bem recebido em toda parte. Precisamos dar aos nossos povos irmãos a mesma acolhida generosa que recebemos deles. Respeito, carinho e alegria, é assim que devemos tratar os nossos hóspedes. O futebol e o esporte são símbolos de paz e convivência pacífica entre os povos. O Brasil merece e vai fazer uma grande Copa.

Minhas amigas e meus amigos,

Eu quero repetir que o meu governo está ouvindo as vozes democráticas que pedem mudança. Eu quero dizer a vocês que foram pacificamente às ruas: eu estou ouvindo vocês! E não vou transigir com a violência e a arruaça.

Será sempre em paz, com liberdade e democracia que vamos continuar construindo juntos este nosso grande país.

Boa noite!

Marina Silva: "Aprendizado essencial"

Ninguém deveria estar surpreso, sabíamos que iria ocorrer. A internet ajuda a mudar tudo: a cultura, os negócios, as comunicações. Por que só a política não seria afetada?

Carlos Nepomuceno diz que três fatores ajudaram a transformar o mundo: a impressão em papel, a Revolução Francesa e a independência dos EUA. Eles compuseram a realidade de dois séculos e nos trouxeram até aqui, mas são insuficientes para configurar um mundo com 7 bilhões de pessoas e uma ferramenta que quebra as estruturas convencionais para intermediar a informação, a internet.

Tenho falado, aqui mesmo na Folha, daquilo a que chamo movimentos de borda. Eles se afastam do centro político estagnado, das instituições enrijecidas, das disputas por dinheiro e poder. Neles predomina um ativismo autoral, não mais dirigido por partidos ou lideres carismáticos. A presença destes é residual e produz incômoda sensação de oportunismo. Não há comando único, há relação horizontal e lideranças móveis: hoje lidero, amanhã sou liderado; hoje sou arco, amanhã sou flecha.

Esse ativismo não tem porto, carrega sua âncora e estaciona onde quer. Basta ver quantos sites temporários há na internet, usados numa mobilização ou num momento.

O essencial é perceber o que está latente. Não são os 20 centavos no Brasil, as árvores da praça na Turquia, ou qualquer demanda simbólica visível. O que está em pauta é a democratização da democracia. As pessoas não querem ser meros espectadores, lugar em que foram colocadas pelos partidos que detêm o monopólio da política. Querem ser protagonistas, reconectar-se com a potência transformadora do ato político.

Deve-se reconhecer esse desejo e respeitar o sujeito político que surge. Muitos se apressaram em desqualificar os novos movimentos, os abaixo-assinados, a campanha de defesa das florestas, a solidariedade aos índios, o "Fora Renan". Agora se esforçam para descobrir uma forma de interlocução, mas mantendo a ansiedade de liderar, usurpar, controlar.

Não basta dar 20 centavos para tirar o incômodo da sala. O que está havendo é significativo: no país do futebol, durante a Copa das Confederações, as pessoas protestam contra o custo dos estádios e dizem que queremos nosso dinheiro em saúde e educação.

O Brasil pode aprender a fazer diferente: nem transição eterna e lenta nem ruptura brusca, mas o diálogo produtivo e criativo da democracia ampliada. Temor de vandalismo? Ora, cultivemos uma cultura de paz. Prefiro sentir-me representada pelas pessoas que estão nas ruas, dizendo o que não querem, a exigir que tenham projetos definidos.

Não há salvadores da pátria, há homens e mulheres que trabalham juntos. Que seja este nosso aprendizado essencial, nossa maior mudança.

Fernando Gabeira: "Sra. Rousseff, alguma coisa acontecendo"

Alguma coisa está acontecendo e eu não sei exatamente o que é. Antes dos conflitos de rua no Brasil, recebi o livro de Manuel Castells-Redes de Indignação e Esperança. Castells é professor numa universidade da Califórnia e dedica-se ao estudo das redes e sua importância neste início do século. Examinou a Primavera Árabe, o Occupy Wall Street, o movimento dos indignados na Espanha e o caso da Islândia.

Antes mesmo desses movimentos, Castells via nas redes o caminho por meio do qual uma nova geração de ativistas buscaria mudança política fora do alcance dos métodos habituais de controle político e econômico. Segundo Castells, esses movimentos são mais voltados para explorar o sentido da vida do que para conquistar o Estado capitalista.

Essa observação é, para mim, curiosa. Nos anos 6o, alguns, como eu, transitaram do existencialismo para o marxismo. Agora, o existencialismo parece estar de volta. De novo, uma parcela da juventude sai em busca do sentido: conectar as mentes, criar significados, contestar o poder é a frase que Castells utilizou para sintetizar o programa dessas redes.

Se isso é verdadeiro para o Brasil, os R$ 0,20 de aumento dos ônibus foram apenas um dos pretextos para expressar a revolta. E os grupos da esquerda clássica, apesar de seu estardalhaço, funcionam aí apenas como aquelas lavagens na pedra que dão aparência de velho ao jeans que acaba de ser fabricado.

Criar significados em política significa também colocá-los na mesa para o debate. Não posso, por exemplo, condenar o Movimento Passe Livre porque no passado apoiei a tese do fim do passaporte no mundo. Até que me deparei com a gigantesca realidade da imigração internacional. A inquietação com o transporte coletivo pode ser existencialmente resolvida com a palavra de ordem passe livre. Mas apenas ela não muda a realidade dos que usam ônibus no Brasil.

O preço é amparado no aumento da inflação, que não deveria ser a única referência. Conforto, pontualidade, respeito ao usuário, condições de trabalho

dos motoristas, tudo precisa ser monitorado. Mas existe uma cumplicidade histórica de vereadores e deputados com as empresas de ônibus. No Rio de Janeiro, por anos, houve até pagamento mensal na Câmara. Mensalinho, mensalão, olha pro céu olha pro chão.

Lutar só pelo passe livre nos remete a um ônibus utópico. O que fazer com pessoas esgotadas depois de um dia de trabalho? Dizer, ano após ano, “coragem, irmão, o reino de Deus está próximo”?

A única cidade que adotou o passe livre, Porto Real, no Rio de Janeiro, o fez para atrair grandes empresas que queriam se instalar lá: Coca Cola e Citroen Peugeot. Foi um cálculo econômico e eu vou lá para estudar o caso.

Um dos aprendizados mais importantes para a geração que saiu às ruas no passado é o compromisso com a democracia, o que significa rejeitar a tese de que os fins justificam os meios. A violência derruba as melhores intenções. Ela é o inimigo interno que corrói a simpatia popular e acaba esvaziando as ruas. Em alguns lugares do mundo, governos usam provocadores infiltrados para desmoralizar o adversário.

Conselhos são vistos com desprezo num momento como este. Mas a história não começa do zero. Essa presunção é absurda e só tem validade na cabeça do PT, que acredita ter inaugurado o Brasil, em 2003.

Como as inquietações se transformam em mudanças, se a própria timoneira parece perdida? Dilma diz que está tudo maravilhoso, e tome vaia da torcida. O governo trouxe a Copa do Mundo para o Brasil por achar que isso era uma trunfo eleitoral imbatível. Todos os seus defensores afirmam que foi uma condenação da classe média alta. Como se fosse preciso examinar a renda antes de avaliar o peso de um protesto e como se as ruas de todo o País, de São Paulo a São Gonçalo, estivessem tomadas por gente da alta classe média.

É um momento duro para ela. Mas foi o PT que fez baixar o mais pesado manto de cinismo sobre a vida política brasileira. Dilma afirmou um dia que não tem perfil de candidata. Concordo com sua análise. No entanto, foi eleita num período de crescimento econômico, de esfuziantes gastos oficiais e milhões consumidos na máquina de propaganda.

Isaiah Berlin compara as habilidades de um governante às de um motorista que precisa de reflexos porque se vê, constantemente, diante de situações novas e inesperadas. De nada adiantam erudição e conhecimento histórico nem o batalhão de conselheiros. Há uma solidão inescapável do ofício do estadista.

Dilma foi embriagada pela dose de otimismo que o marketing ministrou. Afirma que são terroristas os que alertam para a inflação. Em seguida, diz que o governo vai dar a volta por cima. Segundo a própria canção, só se dá a volta por cima depois de uma queda e de sacudir a poeira.

Ela lançou uma lei de acesso a informações e proíbe os assessores de divulgar dados sobre suas viagens oficiais, hotéis, comitivas, gastos, sobretudo gastos.

Quando a maré baixa, dizem os analistas econômicos, fica evidente quem está nadando nu. Isso vale para os atores políticos nas grandes viradas históricas.

Lula diz que elegeu postes para melhor iluminar o Brasil. Referia-se a Dilma e a Fernando Hadad. E muito poético, até que se descubra a realidade úmida do poste, quando adotado pelos cachorros da vizinhança.

Para mim, o sistema de dominação que transformou a política brasileira num bordel entrou em declínio.

Na Islândia, que é muito pequena para ser um modelo, as revoltas desembocaram numa substituição do governo, numa nova maneira de gastar o dinheiro e numa Constituição moderna, que busca integrar a participação popular, potencializada pela revolução digital.

Alguma coisa está acontecendo no Brasil. Você pode ser contra, a favor ou mesmo ficar em cima do muro. Mas não pode negar a frase de Galileu Galilei: Eppur si miove” (Ainda se move)

Arnaldo Jardim: “E agora José...”

“Você que faz versos,
Que ama, protesta?...
... E agora José?
Você marcha José, José para onde?
Marcha José, José para onde?....”

(Carlos Drummond de Andrade)

O transporte público no Brasil é uma calamidade e a partir daí as redes sociais despejaram nas ruas milhares de brasileiros e seus protestos exigindo que não aumentassem as tarifas de ônibus, trens, barcas e metrôs. Mais do que isso, que não mais cobrassem passagem alguma, que dessem conserto na saúde, na educação; um basta à corrupção e parassem de mandar a polícia militar bater em quem mais se manifestar.

Outros mais foram às ruas, a polícia recolheu-se e os governantes de Rio e São Paulo anunciaram àquela massa difusa que contestava seu poder que sim, voltavam atrás e à tarifa anterior. Até segunda ordem, não haverá aumento de passagem... Também em outras capitais e cidades.

Li notícias e análises, ouvi noticiários conversei com meus filhos – que foram à passeata – e com muitas outras pessoas. É grande a minha alegria de ver a cidadania sendo exercida. Eu me formei cidadão em ambiente semelhante, como líder estudantil, participante de manifestações contra a ditadura, pelas eleições diretas. Saúdo como um saudável suspiro democrático. Desejo que o movimento traga à tona uma série de temas, sobre a qualidade dos serviços públicos, sobre a condução da nossa economia e faça também emergir ideias e novas lideranças.

É preciso construir um espaço político para fazer política quando as instituições hoje corroídas e corrompidas, infelizmente não atendem às exigências que os cidadãos já contabilizam pela via da democracia eleitoral. É preciso irrigar e renovar as instituições aproximando-as da realidade que os cidadãos expõem nas ruas.

O que aconteceu – ilustrado pela quantidade de reivindicações postadas no bornal dessa enorme manifestação centopéica – expõe a absoluta falta de diálogo que preside a sociedade brasileira. O exercício político dos últimos tempos evidencia uma prática empobrecida do “nós contra os outros”, que soma inúmeras demandas especificas e não é capaz de colocá-las dentro de um projeto nacional. Isto pode ser profundamente danoso à democracia, cujo fundamento é o respeito às diferentes visões de mundo, à vontade da maioria e o reconhecimento das instituições.

Vejo também a ausência de lideranças e interlocutores – a prova disso é que não havia representantes do movimento ao lado dos governantes quando anunciaram a capitulação diante dos telespectadores. Da mesma forma não tem havido sensibilidade política das lideranças formais do país para se aproximar do cerne democrático do movimento. Os objetivos são dispersos e é lamentável – o que precisa ser coibida sem concessões – a ação de grupos sectários, que depredando o patrimônio público e privado, têm fraudado a índole pacífica de milhares.

A substância da massa que agora confronta políticos e governantes mais se parece com aquela dos caras pintadas que puseram fim ao governo de Fernando Collor. Está muito longe do projeto coletivo de resgate democrático das “Diretas Já”, por exemplo, quando multidões cardeais caminharam para a construção institucional brasileira arrebanhando estudantes, profissionais liberais, sindicalistas, igrejas, operários e suas representações.

As manifestações de agora ainda têm uma textura de “flashmob” – ação combinada pelas redes sociais para provocar impacto coletivo momentâneo, sem compromisso de evoluir para desenvolvimentos mais complexos, como são os da política, por exemplo. Os manifestantes não querem saber de partidos políticos, pedem que abaixem suas bandeiras, mas não os excluem. Será necessário falar de política, não partidária e eleitoral, mas de propostas globais, de prioridades, de “visões de mundo” que viabilizem transformações profundas e duradouras.

As redes sociais contribuíram para que as pessoas se organizassem e chegassem às ruas na proporção que estamos assistindo. E aí considero a importância de identificar os anseios da sociedade por meio dessas ferramentas, estabelecer com ela o diálogo democrático e responder às questões formuladas em conjunto com instituições mais modernas. Se acolherem o contraditório e a discussão plural as redes podem realmente vir a ser no Brasil um saudável berço de democratização política e de exercício da ética.

Espero, e somarei esforços para isto, que os manifestantes pretendam aprofundar e renovar o diálogo democrático, metendo fundo o dedo no conteúdo de suas reivindicações. Além de estabelecer claras lideranças, terão que discutir as contendas dentro do Congresso Nacional, com o Executivo e com o Judiciário, poderes que presidem a República Federativa do Brasil, sustentada por uma Constituição promulgada à custa de muita luta cujos 25 anos se comemoram neste ano.

O alerta é saudável e tem endereço certo. No rastro dos outros, o governo central de hoje optou claramente pelo transporte individual, e cometeu mais uma desnorteada distração ideológica da política econômica que imagina a redenção social do brasileiro pregada na cruz do consumo.

Estar atento a esse puxão de orelhas que vem das ruas, reorganizar sua pauta, refazer seu funcionamento, incorporar definitivamente a ética como valor central, é isto que as instituições e, particularmente, a Câmara dos Deputados e o Congresso Nacional teem obrigação de fazer. Que este ar fresco venha para fixar e oxigenar a nossa democracia e coloque sob condições mais justas e promissoras nosso país e seu povo! 

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Vamos falar sério, prefeito Fernando Haddad?

Carlos Fernandes, presidente municipal do PPS/SP

Caro prefeito, se o senhor, como afirma, está realmente ouvindo a "voz das ruas" e pretende mostrar que a promessa do "novo" não foi apenas um slogan eleitoral, está nas suas mãos fazer uma gestão-modelo à frente da Prefeitura de São Paulo.

Que o bem sucedido movimento pela redução da tarifa possa lhe inspirar a atender o que é prioritário para o cidadão paulistano. Como foi dito nas ruas, não eram apenas os 20 centavos: é a qualidade do transporte público, da saúde, da educação, da moradia, da descentralização administrativa e da eficiência no atendimento das subprefeituras, por exemplo, o que cobra a população. 

Em vez de argumentar que, por conta do recuo no aumento do ônibus, serão sacrificados os investimentos no município, elegendo injustamente como vilões as creches, as escolas e os hospitais, que tal começar pela eficácia e pelo enxugamento da própria máquina administrativa? 

Pois vejamos: se em 2013 o prejuízo no caixa municipal, como alega Haddad sem os R$ 0,20 adicionais, será da ordem de R$ 175 milhões por conta do subsídio para custear o transporte na cidade, de onde a Prefeitura pode tirar esse dinheiro? (E que não seja das áreas sociais, como é dito agora, meio em tom de ameaça, meio de álibi preventivo).

Ora, a Prefeitura acaba de abrir mão de cerca de R$ 150 milhões ao isentar motoristas da inspeção veicular obrigatória, um retrocesso ambiental inexplicável quando em todos os países mais desenvolvidos vale o princípio do poluidor-pagador. 

Outros R$ 25 milhões, em média, estão sendo gastos com 348 cargos de livre provimento criados no município, para atender as novas secretarias implantadas na gestão petista, e a ocupação de outros 390 cargos que estavam "congelados" na administração anterior. 

Esses dois únicos itens (inspeção veicular e enxugamento de cargos) já fecham o suposto rombo de R$ 175 milhões causado pela revogação do aumento de R$ 0,20 da tarifa no caixa de 2013. Mas não é só isso: uma gestão moderna deve primar pela economia, pela transparência e pela eficácia, certo? Será que não há outros cortes e ajustes possíveis entre 30 secretarias municipais e um Orçamento de R$ 36,8 bilhões?

Aí avaliamos outros dados deste primeiro semestre de gestão: as multas por desobediência à Lei da Cidade Limpa caíram 90% em relação ao ano passado; as multas pelo desrespeito ao PSIU (Programa de Silêncio Urbano) caíram 26%. Parece coisa ínfima, mas demonstra o afrouxamento da administração na fiscalização do cumprimento de leis. Enquanto isso, penaliza o usuário do transporte público com o aumento de tarifa.

Na realidade, o fantasma que ronda as finanças da Prefeitura não são os R$ 0,20 e sim a escalada da inflação e a alta dos juros da dívida com a União, além da mencionada má gestão. Como cumprir as promessas ditadas pelo marqueteiro da campanha de 2012, se o igualmente prometido socorro do governo federal parece ter se esgotado? A manipulação das tarifas acaba sendo a saída mais fácil para atender à conveniência política imediata.

Com os problemas cotidianos, a mobilização e a cobrança crescente dos cidadãos paulistanos é que veremos se Haddad é, de fato, "um homem novo para um tempo novo", ou simplesmente mais do mesmo, do velho PT.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

PT e PSDB: os dois lados da moeda de 20 centavos

Dos males, o menor: o cidadão paulistano vai pagar 20 centavos a menos na tarifa do transporte coletivo (ônibus, trem e metrô), graças à pressão legítima iniciada pelo Movimento Passe Livre e que ganhou força nas redes sociais com o #VemPraRua, copiado em várias outras cidades e ampliado para incontáveis temas que também provocam a indignação do brasileiro (leia Exaustão, de Eliane Cantanhêde).

Porém, o que chamou mais atenção no pronunciamento histórico desta quarta-feira, 19 de junho, foi o visível constrangimento do prefeito Fernando Haddad (PT) e do governador Geraldo Alckmin (PSDB) para anunciarem que a tarifa voltaria a custar R$ 3,00.

No twitter @md33sp comentamos a situação inusitada:

“URGENTE: Haddad e Alckmin vão anunciar redução da tarifa de metrô e ônibus”. Perguntamos: Intenção é calar os protestos?

Ao reduzir tarifa p/ R$ 3,00 e cedem às pressões mas demonstram fraqueza política. Aumento era necessário?

Se é justo e possível não aumentar tarifas, pq e aumentaram? Se era necessário, pq reduzir? Medo do povo?

Constrangimento estampado na cara de e durante anúncio da tarifa de R$ 3. Que situação para unir PT/PSDB!

Dos males o menor p/ o povo: economiza 20 centavos na tarifa e demonstra força do movimento . Mas políticos acusam golpe: nocaute!

Emblemática postura de e no anúncio dos R$ 3,00: constrangidos e cabisbaixos. Gêmeos: mórbida semelhança.


Esperamos que PT e PSDB não se vinguem do quebra-quebra nos respectivos palácios "quebrando" agora Estado e município sob alegação do corte!

Agora aguardem: tudo que e cortarem de ações, obras e investimentos será atribuído aos tais 20 centavos!

Haddad demonstra que é o "novo" PT: declara uma coisa de manhã e anuncia o contrário à tarde, por ordem de Lula e João Santana. Quem manda?

Haddad afirmou, repetiu, reiterou: não podia baixar a tarifa para R$ 3,00. Mas aí papai Lula e mamãe Dilma desautorizaram o menino malufinho

O que esperar de governantes que justificam aumento "imprescindível" e horas depois se contradizem: mentira ou irresponsabilidade?

Não era só R$ 0,20... Agora é acabar com os 20% dos corruptos, cortar 20 ministérios da Dilma e colocar 20 mensaleiros na cadeia!

Governantes corruptos podiam pegar carona na redução dos 20 centavos e cortar também os 20% de praxe cobrados como Caixa 2, né?

: Tarifa em São Paulo voltará a ser 3 reais. A população foi ouvida. ()” Errado: foi ouvido o marqueteiro do PT

Haddad "novo" é desmontado em 6 meses! Hoje mesmo negou que reduziria tarifa! Como confiar num (des)governo do PT chefiado por marqueteiro?

Essa é a questão: são incompetentes, mentirosos ou irresponsáveis? Dizem e se contradizem em uma semana! Vale tudo pelo voto?

Tarifa baixando p/ R$ 3,00 é a hora de provar que protestos não são só pelos 20 centavos! Chega de políticos fracos e incapazes!

Contra corrupção, violência, injustiça, por mais segurança, saúde, educação! Contra gastos da Copa, e volta da inflação!

Nada como o medo das urnas e o pavor de ser destronado do poder para unir PT e PSDB: os dois lados da mesma moeda de R$ 0,20

Petistas são tão demagogos e oportunistas que é capaz de cortarem R$ 0,20 do próprio salário para dizer que estão solidários aos protestos!

Que Guerra Mundial Z com Brad Pitta, que nada! Walking Dead pra valer é com @Haddad_Fernando, o primeiro zumbi-prefeito de SP: morto pelo PT

Enfim justificado "novo" Haddad mostrado na propaganda eleitoral com ares de Hollywood: em seis meses, prefeito é o 1º zumbi-político de SP!

Nossa solidariedade ao prefeito @Haddad_Fernando, o menino malufinho de Lula, morto em combate. Nem Salim foi tão rápido no abandono a Pitta

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Dilma e Haddad dizem ouvir "voz das ruas", mas com tecla SAP de Lula e do marqueteiro João Santana

Neste momento histórico que vive o Brasil, a presidente Dilma Roussef e o prefeito paulistano Fernando Haddad dizem que estão ouvindo a "voz das ruas". Podem até ouvir, mas não compreendem. Precisaram ontem da tradução simultânea de João Santana e Lula, um marqueteiro e um milagreiro. Ou vice-versa. Tanto faz. Dá na mesma e causa a chamada "vergonha alheia".

É inadmissível, uma afronta à importância dos cargos que ocupam, que Haddad e Dilma abandonem seus postos, sem nenhuma cerimônia, para se aconselharem em reunião clandestina com o ex-presidente e com o marqueteiro-milagreiro responsável pela eleição dos dois "postes" de Lula. Dois inaptos.

Com a Prefeitura de São Paulo cercada por manifestantes, Haddad deixou o local num helicóptero da PM para local incerto. Sumiu pelos ares. Fugiu. Dias antes, em meio às primeiras manifestações, estava em Paris apresentando a candidatura de São Paulo para a Expo 2020, mas é incapaz de resolver os problemas urgentes da cidade em 2013.

Petistas reclamaram também que havia manifestantes na frente do prédio residencial de Haddad. Ora, mas o modus operandi do PT, enquanto oposição, sempre foi protestar na frente da casa dos prefeitos. Fez isso com Maluf, Pitta, Serra, Kassab. Verdade seja dita, petistas ilustres ainda hoje frequentam a casa de Maluf e Kassab, mas agora como convidados de honra, é claro.

Aí vem a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, surfista de ocasião, pegar onda na crise e listar os municípios que, segundo o governo, podem reduzir a tarifa graças à "dosoneração" presenteada pela presidente Dilma. Afirmou textualmente que a cidade de São Paulo poderia reduzir o preço em R$ 0,23 - o que, por si só, resolveria toda a polêmica do aumento de 20 centavos.

Dito isso, restariam apenas três saídas legítimas: 1) baixar a tarifa em São Paulo, se a informação da ministra é oficial do governo; 2) demitir a ministra, se é incorreta; ou 3) Haddad sofrer impeachment, se a informação é correta e ele mentiu. Mas alguém realmente acredita num gesto responsável por parte dos (des)governos do PT?

Indagada pela Agência Estado se o prefeito Haddad  poderia diminuir o preço das passagens, a ministra respondeu: "Eu não sei, cabe a ele responder. Nós fizemos a desoneração da folha e do PIS/Cofins. Agora cabe a cada município fazer seus cálculos e saber o quanto pode reduzir e o quanto pode se aproveitar desta desoneração que o governo federal está fazendo".

Como era de se esperar, Gleisi logo voltou atrás, tentou justificar a trapalhada e livrar a cara de Haddad. Ao comentar o cenário de São Paulo, a ministra disse que o governo federal já abriu mão dos 23 centavos em impostos federais na tarifa paulistana antes do aumento para R$ 3,20.

"O que quisemos aqui foi mostrar que o esforço do governo federal em redução de impostos abriu espaço para ajudar as prefeituras na administração do preço das suas passagens, ou para reduzir, ou para aumentar menos", comentou Gleisi. Puro oportunismo e damagogia.

Leia também:

Antonio Prata: A passeata

Elio Gaspari: O Monstro foi para a rua