Neste momento histórico que vive o Brasil, a presidente Dilma Roussef e o prefeito paulistano Fernando Haddad dizem que estão ouvindo a "voz das ruas". Podem até ouvir, mas não compreendem. Precisaram ontem da tradução simultânea de João Santana e Lula, um marqueteiro e um milagreiro. Ou vice-versa. Tanto faz. Dá na mesma e causa a chamada "vergonha alheia".
É inadmissível, uma afronta à importância dos cargos que ocupam, que Haddad e Dilma abandonem seus postos, sem nenhuma cerimônia, para se aconselharem em reunião clandestina com o ex-presidente e com o marqueteiro-milagreiro responsável pela eleição dos dois "postes" de Lula. Dois inaptos.
Com a Prefeitura de São Paulo cercada por manifestantes, Haddad deixou o local num helicóptero da PM para local incerto. Sumiu pelos ares. Fugiu. Dias antes, em meio às primeiras manifestações, estava em Paris apresentando a candidatura de São Paulo para a Expo 2020, mas é incapaz de resolver os problemas urgentes da cidade em 2013.
Petistas reclamaram também que havia manifestantes na frente do prédio residencial de Haddad. Ora, mas o modus operandi do PT, enquanto oposição, sempre foi protestar na frente da casa dos prefeitos. Fez isso com Maluf, Pitta, Serra, Kassab. Verdade seja dita, petistas ilustres ainda hoje frequentam a casa de Maluf e Kassab, mas agora como convidados de honra, é claro.
Aí vem a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, surfista de ocasião, pegar onda na crise e listar os municípios que, segundo o governo, podem reduzir a tarifa graças à "dosoneração" presenteada pela presidente Dilma. Afirmou textualmente que a cidade de São Paulo poderia reduzir o preço em R$ 0,23 - o que, por si só, resolveria toda a polêmica do aumento de 20 centavos.
Dito isso, restariam apenas três saídas legítimas: 1) baixar a tarifa em São Paulo, se a informação da ministra é oficial do governo; 2) demitir a ministra, se é incorreta; ou 3) Haddad sofrer impeachment, se a informação é correta e ele mentiu. Mas alguém realmente acredita num gesto responsável por parte dos (des)governos do PT?
Como era de se esperar, Gleisi logo voltou atrás, tentou justificar a trapalhada e livrar a cara de Haddad. Ao comentar o cenário de São Paulo, a ministra disse que o governo federal já abriu mão dos 23 centavos em impostos federais na tarifa paulistana antes do aumento para R$ 3,20.
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