quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Tá todo mundo nu no #ProgramaDiferente



Vivemos tempos difíceis. Contra a hipocrisia e o falso moralismo que, como cantou Ney Matogrosso, ficam escondidos debaixo dos panos, e ainda pra lavar a alma nessa entrada de 2019, tem início com ânimo renovado a 5ª temporada do #ProgramaDiferente. Tá todo mundo nu! #MandaNudes CENSURADO

Por menos vergonha alheia e mais liberdade de expressão. Por menos contemplação e mais reflexão. Nudez na internet, por meio de aplicativos e das redes sociais. Nudez nas artes, como contestação, profissão, diversão ou filosofia de vida.

Desafiando regras e padrões sociais, inibições, proibições e obscenidades. A diversidade de corpos, raças, sexo e gênero, numa época em que tabus e preconceitos dos anos 70 e 80 do século passado voltam à tona com ranço antidemocrático. Censura? Aqui não! Assista.

Leia também: O que é o #ProgramaDiferente?

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Para a Vale, quanto vale uma vida?

Serão doados R$ 100 mil para cada família de vítima. Mais R$ 80 milhões para o município de Brumadinho. E ainda, como bônus, assistência psicológica com profissionais do renomado Hospital Albert Einstein. Esse é o pacote anunciado com estardalhaço pela mineradora Vale, em anúncios de página inteira nos jornais e nas redes sociais, como se isso atenuasse o crime ou aliviasse a barra dos envolvidos. Mas, afinal, quanto a Vale acha que vale uma vida? Perdoai-os, Pai.

Eu atravesso uma rodovia movimentada fora da passarela de pedestres. Nunca fui atropelado. Eu ando na corda bamba sem rede de proteção. Nunca despenquei lá de cima. Eu brinco de roleta russa bebendo com meus amigos e fumando narguilé. Nunca a única bala do tambor foi disparada. A Vale faz tudo isso, todos os dias, com as suas barragens. Um dia o pior acontece. Não é acidente, é consequência da irresponsabilidade.

Não aprendemos nada com Mariana? O atual presidente da Vale, esse que aparece na TV mostrando que valeu à pena cada centavo gasto com media training, garantiu ao assumir o cargo que tragédias como o rompimento da barragem do Fundão, no Rio Doce, nunca mais se repetiriam. É verdade. Houve um upgrade fúnebre nesse crime reincidente. Há três anos morreram "apenas" 19. Hoje entramos para a casa das centenas.

Cada diretor da Vale, cada governante, cada servidor público, cada funcionário da empresa que faz vistas grossas para as ilegalidades, que ajuda a burlar as regras, que permite o afrouxamento da fiscalização, é cúmplice de todas essas mortes. De cada lágrima derramada. Do animal que agoniza sufocado. Do rio poluído. Da lama tóxica que arrasta e destrói casas, cidades, famílias, sonhos, vidas.

A imprensa informa hoje que, sem contar os crimes-catástrofes de Mariana e Brumadinho, a Vale já acumula condenações na Justiça em processos ambientais que passam de R$ 8 bilhões. Por manobras de seus competentes advogados, gastaria neste ano somente R$ 13 milhões para procrastinar essas ações na Justiça, explorando brechas burocráticas e criando chicanas jurídicas com recursos infinitos.

Aí o Brasil elege um governo que promete "tirar o Estado do cangote dos empresários", demoniza a fiscalização e a punição das irregularidades. Somos um povo que tomou gosto por posar nas redes sociais de combatente obstinado da corrupção, mas seguimos furando fila, comprando carteira de motorista, passando no farol vermelho e querendo molhar a mão do guarda.

Somos todos "cidadãos de bem", só que às vezes damos uma fraquejada. À direita, fecham os olhos para o "garoto" do presidente que desvia recursos, usa motorista-laranja e dribla o MP, ou quando o próprio pai anula sua multa do Ibama. Afinal, Bolsonaro é mito! À esquerda, bradam #LulaLivre e não vêem mal nenhum nos mimos do sítio de Atibaia ou no tríplex do Guarujá. “O inferno são os outros”, sentenciaria Sartre. Imagine se ele visse o mar de lama que tomou conta deste nosso imenso Brasil...

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Em protesto contra a tragédia de Brumadinho, o #ProgramaDiferente relembra o episódio do rompimento da barragem do Fundão, no Rio Doce, e pergunta: Não aprendemos nada com Mariana?



Para marcar o nosso protesto contra o descaso e a irresponsabilidade que geraram mais essa tragédia humana e ambiental em Brumadinho, matando um número ainda indefinido de pessoas, desabrigando outras centenas de famílias e destruindo um importante cinturão verde em Minas Gerais, o #ProgramaDiferente relembra o especial que exibiu quando o episódio do rompimento da barragem do Fundão, no rio Doce, completou um ano, em novembro de 2016.

Apresentamos depoimentos exclusivos do prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS/MG), e do artista multimídia Tadeu Jungle, que realizou um filme em realidade virtual sobre essa tragédia ambiental - com cenas tristemente repetidas neste fim-de-semana com mais uma barragem da mineradora Vale rompida.

Você também revê o clipe "Cacimba de Mágoa", uma iniciativa do grupo Falamansa com o rapper Gabriel, O Pensador para denunciar aquela situação que levou à tragédia de Mariana e se amplifica de forma ainda mais grave e dolorosa agora em Brumadinho. Assista.

sábado, 26 de janeiro de 2019

Brumadinho nosso de cada dia... Que tristeza!

Mais lama.

Mais mortos.

É o retrato perfeito deste Brasil.

Não venham falar em desastre ambiental.

Isso não é acidente, é crime reincidente.

Não aprenderam nada com a tragédia de Mariana.

Seguem impunes, prontos para uma nova catástrofe anunciada. Quase premeditada.

Bandidos! Canalhas! Assassinos!

#Brumadinho #ValeAssassina #MinasGerais #CrimesAgainstHumanity #barragemdavale #MarianaParte2 #BrumadinhoMG #BrumadinhoChegadeimpunidade

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Jean Wyllys x Bolsonaro: você tomou partido?

Goste-se ou não de Jean Wyllys, é inaceitável que qualquer cidadão brasileiro, ainda mais um deputado federal reeleito, tenha que sair do país por estar ameaçado de morte em razão de suas atividades políticas, comportamento social, crenças, ideias ou ideologia.

Mais bizarra que a situação que leva a esse abandono do mandato, só mesmo a reação debochada, infantilóide e repugnante do presidente Jair Bolsonaro, de seus filhos criados à sua imagem e semelhança, e de seus seguidores xucros e fanáticos nas redes sociais. Vivemos dias insanos.

O #ProgramaDiferente acompanha as atividades do deputado Jean Wyllys. Já exibimos matérias diversas e até um programa especial sobre o pré-lançamento de um documentário sobre este personagem polêmico (que se chamaria #Eu_JeanWyllys e acabou recebendo o título oficial de Entre os homens de bem).

Ninguém precisa concordar com ele, mas é importante ouvi-lo e tentar compreender a sua luta. Um mínimo de empatia e solidariedade também é válido, até porque o que está acontecendo hoje com ele, amanhã pode ser comigo ou com você, se "sairmos da linha".

Vale refletir sobre os muitos aspectos desse retrocesso político e social que o Brasil vive, por enquanto disfarçados na rejeição da maioria da população aos governos petistas, mas que vem acirrando de forma perigosa o ódio, o preconceito, a intolerância e a ameaça aos direitos individuais e coletivos dos cidadãos brasileiros.

Reveja alguns programas e matérias que refletem bem esses tempos nebulosos:

O #ProgramaDiferente acompanha o pré-lançamento do polêmico documentário #Eu_JeanWyllys e ouve Soninha, Laerte e Suplicy

Matéria seguida do trailler do documentário

Reportagem completa do pré-lançamento

O #ProgramaDiferente especial da Páscoa combate o ódio e a intolerância

#ProgramaDiferente apresenta "Púlpito e Parlamento: Evangélicos na Política"

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

A cara e o sotaque paulistano no #ProgramaDiferente

Na contagem regressiva para a estreia da 5ª temporada do #ProgramaDiferente (ôrra meu, tá chegando!!!) e para comemorar os 465 anos da cidade de São Paulo, vamos rever alguns programas especiais que tem a cara e o sotaque do paulistano. Pega aí um chopps e dois pastel e vamos festejar!

Assista o "Top 20" dos programas com a cara e o jeitinho típico de São Paulo:










15 - Ato contra R$ 3,80 termina em confronto e vandalismo

16 - O centro da cidade está (e sempre esteve) vivo no #ProgramaDiferente


20 - Especial de fim-de-ano do #ProgramaDiferente: Natal dos Bichos

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Feliz aniversário, envelheço na cidade... (Boa, Ira!*)

Neste 25 de janeiro a cidade de São Paulo completa 465 anos desde a fundação do Colégio dos Jesuítas, considerado o marco zero da maior capital brasileira. Foi em 1554 que tudo começou com os padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta catequizando os índios. Hoje são mais de 12 milhões de habitantes, vindos do mundo inteiro.

Vivemos em uma cidade praticamente ingovernável. É interessante notar como os problemas metropolitanos se repetem e se agravam com os anos. Entra prefeito, sai prefeito, mudam os vereadores, trocam secretários e subprefeitos, e os transtornos paulistanos se avolumam à espera de soluções do poder público.

Como curiosidade, repetimos de tempos em tempos um texto publicado originalmente há 15 anos, em janeiro de 2004, reproduzido em vários jornais (entre eles os já extintos e de saudosa memória Jornal da Tarde e Diário de S. Paulo) por ocasião dos 450 anos da cidade. Atualizando-se apenas a data do aniversário e o nome do prefeito do momento, permanece sempre tristemente atual. Veja:

450 ANOS. E DEPOIS?
Maurício Huertas

A cidade de São Paulo, escondida sob um falso espetáculo de progresso e gigantismo, é na verdade uma metrópole desgovernada, mal planejada, centro principal da fragilidade administrativa, social, econômica e da degradação urbana, moral e política.

Rios mortos, poluição incontrolável, trânsito caótico, pedintes e desempregados por todos os pontos, favelas que proliferam diante da cegueira governamental, hospitais sucateados, escolas deterioradas, insegurança crônica. São Paulo é uma cidade em que mais de 10 milhões de pessoas se aglomeram em atividade frenética, fundamentalmente individualista e predatória.

Prefeitos se sucedem no poder, sob a promessa de construir uma sociedade mais moderna e mais humana, da qual os paulistanos possam com justo motivo se orgulhar. Pois não se deve duvidar do potencial e da inesgotável energia de nossa população, consagrada na imagem da "cidade que amanhece trabalhando".

Afinal, que outro centro urbano do país reúne tantas condições para consolidar a ponte para o futuro, se não a cidade que é a capital financeira nacional, que detém as maiores e melhores universidades, a excelência na medicina e no setor de pesquisa científica?

Apesar desse potencial, São Paulo completa seus 450 anos marcada pela crise que praticamente sufoca qualquer esperança de dias melhores. Seria ilusório acreditar que este cenário catastrófico tenha sido causado simplesmente pela atual crise econômica, ou mesmo pela herança nefasta de gestões mafiosas.

A verdade é que São Paulo não encontrou ainda a sua identidade, porque não tem um projeto para si mesma. Diante da inoperância governamental e da apatia da sociedade, nossos defeitos chamam mais a atenção do que nossas qualidades.

São Paulo não tem rosto nem personalidade, é um amontoado de retalhos, embora o marketing, a publicidade e a cosmetologia de Marta Suplicy se esforcem para provar o contrário. A cidade sempre esteve – e permanece – nas mãos de aventureiros que seguem destruindo e descaracterizando ruas, prédios, bairros e praças, descartando e ocultando monumentos e marcos de referência histórica, cultural e geográfica.

O que São Paulo tem a oferecer hoje, ao contrário de outras metrópoles mais desenvolvidas, ou mesmo de outras cidades com apelo turístico, é a antipaisagem. Uma cidade constantemente em obras que somam quase nada ao desenvolvimento e à melhora da nossa qualidade de vida.

Particularmente nas gestões de Paulo Maluf e de Celso Pitta, ficamos reféns de um bando de vereadores corruptos, despreparados e incompetentes. Assistimos impassíveis o crescimento monstruoso da dívida pública para ajudar a manter o poder nas mãos do crime (des)organizado, que loteou a cidade e enlameou a política municipal. O mais trágico é que o PT foi eleito exatamente com a bandeira da mudança, mas não bastaram seus candidatos-milagreiros com promessas eleitoreiras para fazer, em quatro anos, São Paulo despertar para a necessidade vital de uma verdadeira transformação.

O que precisamos, depois de encerradas as inúmeras festividades pelo aniversário de São Paulo, é conscientizar e mobilizar os paulistanos para a criação e a manutenção de um ambiente social saudável, com planejamento, organização comunitária, responsabilidade eleitoral e a diminuição de privilégios.

Entendemos que o nosso papel, a partir de agora, deveria ser justamente o de chamar as lideranças sociais e políticas para o debate programático e para a construção de uma cidade mais humana, justa, ética e solidária. Uma cidade com políticas públicas e parcerias sociais que possibilitem mais rapidamente a inserção dos excluídos, a radicalização da democracia, a plena transparência dos poderes e a construção mais sólida e eficaz das bases da cidadania.

Mas, sobretudo, com ética, moral, sensatez e com o desafio de construirmos uma cidade “nova” em seus 450 anos, que respeite a sua história e a sua vocação, fortaleça democraticamente as suas estruturas e apresente um programa viável para conquistarmos mais dignidade, igualdade e justiça social. Enfim, que nos dê motivos reais e legítimos para festejar.

Maurício Huertas é secretário de Comunicação do PPS/SP e coordenador da ONG Vergonha Nunca Mais!, pela ética na política. (25 de janeiro de 2004)

* O título desse post faz referência à música icônica do grupo paulistano Ira!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Cidadania, sustentabilidade e democracia


“Caminhante não há caminho, se faz caminho ao andar…”

(Antonio Machado, poeta espanhol)



Aprendemos no dia a dia, nas relações pessoais e profissionais, na família, na amizade, no casamento, em qualquer texto motivacional, na religião, na política, na vida: a crise pode gerar risco e oportunidade. Estamos neste exato momento de perigo, de dificuldades e conflitos, de mudanças bruscas e manifestações violentas. Precisamos enfrentar essa conjuntura problemática, superar esta crise e impedir consequências mais perversas, danosas e permanentes.

Nós, cidadãos e agentes políticos, devemos agir com responsabilidade. Liderar. Apontar caminhos. Nós, que buscamos o caminho do equilíbrio, das práticas democráticas e dos princípios republicanos, fomos derrotados pela polarização, pelo ódio, pela intolerância, pelo preconceito. Perdemos, com os nossos valores e ideais, para estratégias políticas predatórias, para a descrença de parcela significativa da população nas instituições e para o discurso populista de direita e de esquerda.

Está na hora de reagir, levantar, sacudir a poeira e reerguer pontes para o futuro. Precisamos compreender que esse movimento político que foi vitorioso, tanto quanto a alternativa que se mostrou mais viável quantitativamente no 2º turno das eleições de 2018, são igualmente danosos, retrógrados e ultrajantes para o modelo sustentável de desenvolvimento que desejamos ver implantado no País.

O que nos une, seja a insatisfação com esse sistema obsoleto, involutivo e opressor ou com a forma fisiológica, corrupta e patrimonialista de se fazer política, cria a oportunidade para darmos um passo firme e decisivo na construção de uma nova plataforma para o exercício da cidadania, na qual o cidadão comum possa expressar seu ativismo autoral a serviço da construção de novos paradigmas políticos.

Daí o chamamento que se faz à coletividade, às forças vivas da sociedade, às personalidades públicas e aos brasileiros anônimos descontentes com esse atual cenário polarizado entre as duas faces da mesma moeda da velha política, que hoje atuam não apenas em partidos mais tradicionais e ideológicos, como o PPS, o PV ou a novata Rede Sustentabilidade, mas são também protagonistas desses inovadores movimentos cívicos como Agora, Acredito e Livres, entre outros.

É uma oportunidade única e histórica essa possibilidade concreta e objetiva que temos posta, a partir dos congressos partidários recém-convocados pelo PPS e pela Rede, para a efetivação dessa nova formatação política, como um partido-movimento que se constitua em defesa de um país socialmente justo, politicamente democrático, economicamente inclusivo e ambientalmente sustentável.

Que busquemos incansavelmente o consenso para uma fundamentação programática e estatutária que expresse da melhor forma essa unidade entre os que se identificam com o campo das reformas progressistas, da justiça social, do desenvolvimento sustentável e da defesa da democracia. Mas não podemos deixar escapar das nossas mãos essa chance de construir algo realmente transformador, que absorva e reúna solidariamente as melhores qualidades e o aprendizado acumulado de cada um dos elos formadores dessa nova corrente.

Somos de luta e de paz, meus amigos, em tristes tempos de guerra. Estamos na mesma trincheira da resistência democrática. Não podemos permitir que roubem os nossos sonhos, que ameacem as nossas conquistas, que ofendam a nossa história, que subtraiam a nossa liberdade. É hora de olhar para a frente, juntar forças, seguir adiante, traçar um novo caminho com passos firmes, coragem e altivez. O primeiro passo, por si só, é um ato de Cidadania.

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente

sábado, 19 de janeiro de 2019

Burrice sem partido: a idiotização das ideologias

Na cartilha do bolsonarismo, até hoje o Brasil era dominado por comunistas e a China é um modelo de liberalismo a ser seguido.

Essa viagem dos deputados do PSL, cheia de desculpas esfarrapadas para o motivo da excursão e com argumentos risíveis da direita caipira para tentar atenuar o histórico da ditadura comunista chinesa, é piada pronta.

Mas não se iluda, eles não são apenas ignorantes e idiotas. São desonestos e mal intencionados.

O que se vê, hoje, são máscaras caindo.

À esquerda e à direita, há bandidos e pilantras. Ou você não sabia?

Cabe a nós, que não embarcamos nessa polarização oportunista e conveniente, nem alimentamos essa relação simbiótica de interdependência retórica e moral que garante a sobrevida de ambos e os levou ao 2º turno das eleições de 2018, buscar uma saída equilibrada, racional, viável e eficaz.

Não que seja uma tarefa simples, mas não há solução mágica nem salvadores da Pátria. Sem atalhos fáceis, o caminho é sempre o estado democrático de direito.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Faça o que eu mando mas não faça o que eu faço

Esse é o mandamento "up to date" do bolsonarismo. A última atualização da mais velha e abjeta forma de fazer política. Sinto informar à parcela de inocentes úteis entre os 57,7 milhões de brasileiros que elegeram Jair Messias Bolsonaro para a Presidência da República, mas, se vocês ainda não perceberam, só ajudaram a trocar as moscas. Porque o resto...

A média de um escândalo por dia deste novo governo é mantida com louvor. É uma sucessão de trapalhadas e pataquadas. Lembra até daquele que foi um dos momentos antológicos de Dilma Rousseff na essência do raciocínio dilmês: "Não vamos colocar meta. Vamos deixar a meta aberta, mas, quando atingirmos a meta, vamos dobrar a meta."

Estão dobrando a mer... ops, a meta! Viva Bolsonaro, a Dilma de farda! O meme que virou presidente. Saído diretamente das esquetes do CQC para a cadeira presidencial. Um salto e tanto para quem não passava de piada ruim do baixo clero em Brasília. Diretamente da comédia para a tragédia do dia a dia. Mas o que já não tinha tanta graça vai se tornando calamitoso. Dias piores virão.

A notícia mais recente: que negócio é esse de um dos zeros-filhos (aliás, chamar os filhos de 01, 02 e 03 é piada pronta, né? Saem os zeros à esquerda e entram os zeros à direita...), mas, voltando, que negócio é esse de Flávio Bolsonaro pedir (e o STF acatar!) a suspensão da investigação sobre o motorista-laranja Fabrício Queiroz, aquele que movimentou R$ 1,2 milhão em um ano, supostamente recebia devolução de salário dos assessores do gabinete e depositava cheque para a primeira-dama?

Imagina se isso fosse no governo do PT!? Cadê os bolsominions? MBL? Vem Pra Rua? Cadê a Joice Hasselmann? Bia Kicis? Alexandre Frota? Carla Zambelli? Janaina Paschoal? Major Olímpio? Sérgio Moro? Cadê os robozinhos das redes sociais? Estão todos comemorando a posse das quatro armas e esqueceram de ler o resto do noticiário? Ou é tudo fake news da mídia golpista? (não, espera, a mídia é petista ou bolsonarista? Fiquei confuso...)

Do diversionismo da ministra Damares Alves criando polêmicas lá do alto do pé de goiaba para distrair a galera, passando por questões como a instalação de uma base americana no Brasil, as demissões na Apex e na Funai, o inominável novo nomeado do Enem, a despetização fajuta do Onyx, a promoção meritória do talentoso filho do vice... (ah! vai listando aí a proliferação de escândalos, não estou conseguindo acompanhar...) esse governo é de uma incompetência atroz!

Não basta ser retrógrado, autoritário, intolerante, preconceituoso, é preciso também ser contraditório, desonesto, incoerente e incapaz! Se você pegar todos os discursos recentes de bolsonaristas atacando os governos petistas, ou, na mão inversa, as peças de defesa do petismo contra as denúncias e acusações na imprensa e na justiça, vai ver o novo samba do crioulo doido (que bota no bolso a genial criação do saudoso Stanislaw Ponte Preta).

Escândalo no reino! Os bobos-da-corte chegaram ao poder! Estamos fritos!

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Enquanto isso, no mundo surreal da política...



Vem aí a 5ª temporada do #ProgramaDiferente. Enquanto você aguarda a estreia no dia 20 de janeiro, com mais 50 programas temáticos inéditos, assiste e se diverte com mais um episódio de "O mundo surreal da política" :-) Bom humor é tudo! Veja aqui.

O segredo é uma fórmula simples e objetiva ao apresentar semanalmente um bom programa jornalístico, informativo, crítico e colaborativo (com entrevistas, debates, notícias e prestação de serviços), amparado por um conteúdo abrangente e bem apurado que lhe garante respeito, credibilidade e mais de 5 milhões de views no Youtube, Twitter e Facebook, tudo isso escorado por um olhar isento e alternativo ao da imprensa tradicional.

Veja outras chamadas da 5ª temporada do #ProgramaDiferente:


 

 

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Quem descobriu o Brasil? Fernando Gabeira!

Devem ter te ensinado na escola que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil. Mas isso foi lá em 1500. Hoje, para descobrir de verdade o Brasil que está aí, precisamos navegar pelos textos de Fernando Gabeira.

Jornalista, escritor, ex-deputado, é talvez o mais lúcido analista político brasileiro e certamente leitura obrigatória para quem, como nós, pretendemos debater e compreender o atual momento do país.

Vale muito acompanhar o seu blog e seus programas de TV. São primorosos e afinadíssimos com a nossa realidade.

Leia abaixo alguns dos mais recentes artigos de Fernando Gabeira:

SOBROU PARA DARWIN

UM NOVO ATO EM FEVEREIRO

SALVAÇÃO E SALVADORES

POLÍTICOS PARA SE FALAR BEM

UMA PEQUENA DOSE DE JÂNIO

O BODE NA SALA

NOTAS DE UM VELHO MARINHEIRO

Renato Janine Ribeiro: Uma autocrítica de esquerda

Relutei em escrever a respeito, porque votei em Haddad várias vezes e o apoiei claramente. Mas de sua foto de camisa rosa lendo Anisio Teixeira, não gostei. Como não gostei nada daquela imagem, em tempos de campanha, em que ele aparecia arrancando a máscara do Lula para mostrar seu rosto. Daquela vez, pensei que a imagem o diminuía, o colocava como um ersatz do Lula, não como ele próprio. Até disse, na época: ele ganha se for ele. Se ficar se curvando às regras do partido para ser isso, para não dizer aquilo, não dá. Não sei se ganharia sendo ele mesmo, mas o saldo teria sido melhor.

Voltando: dois meses depois da eleição, dez dias depois da posse do pior governo do Brasil, era hora do candidato mais votado da oposição estar criando alianças. De ir além dos 28 milhões de votos que teve no primeiro turno. Eu não critiquei Marina Silva porque ela, duas vezes sucessivas, não foi fidelizar o número surpreendente de eleitores que confiaram nela para a presidência da República? Por que eu trataria meu candidato de forma diferente? 

Esperava que as lideranças do PT estivessem agora – na verdade, desde o fim do segundo turno – visitando quem apoiou Haddad (Marina, Joaquim Barbosa, Ciro Gomes, tantos outros) e quem ele gostaria que o apoiasse (a começar por FHC). Em vez disso, vejo uma foto dele zoando a ministra Damares. Gente, é pouco.

Lacrar não adianta, tenho insistido. Vejo o lacre na ministra Damares. Vejo o pessoal de esquerda zoando por que o motorista de um Bolsonaro está sendo atendido no Einstein. Só isso, galera? Não têm algo melhor a fazer?

Esse governo tem feito muita besteira e não acredito que o núcleo de extrema-direita continue forte por muito tempo. Penso que a direita autoritária mas sensata vai passar a perna na extrema-direita pirada. Mas vamos ficar esperando isso acontecer? Torcendo? Esperando que o mercado faça isso por nós? 

Os grandes partidos de esquerda têm uma espécie de sístole e diástole, uma alternância entre uma estratégia de abertura para alianças mais amplas e outra de fechamento sobre si. A abertura aparece nas propostas de Frente Popular, no governo Lula e em outros momentos que, geralmente, são de vitória. O fechamento é quando, ameaçado ou sentindo-se ameaçado, o grande partido de esquerda se tranca na ortodoxia. Pois bem, o PT perdeu, é bom saber. Perdeu com 45 milhões de votos, o que é bastante voto, mas muitos deles não eram de petistas ou pelo menos, não de petistas extremistas. E agora, em vez de assegurar a união desses 45 milhões, e de aproveitar o que o governo tem feito para aumentar este número, o que vejo nas lideranças é o trabalho intenso, empenhado, em reduzir esse número! Em perder apoios!

E aposto: vai haver gente comentando que Ciro não é confiável, que Marina nem pensar, que isso mas aquilo... Eu não sou fã da derrota. Não acho que é mais bonito ser pouco. Porque com a extrema-direita no poder nós de classe media podemos até não sofrer tanto, mas os pobres vão penar bastante. Por isso não gozo com a derrota. E penso que está na hora de reunir. Se a frase “ninguém larga a mão de ninguém” tem sentido, é esse. Uniao. É claro que é difícil saber em torno do quê, mas pelo menos podemos começar dizendo que não estamos aqui para zoar, nem para lacrar, nem para excomungar, e sim para procurar uma aliança dos setores democráticos e progressistas. Se pelo menos tivermos esse propósito, podemos depois fazer um programa. Ufa.

Parte 2 - E ontem, depois que escrevi sobre a necessidade de que a esquerda saísse da lacração e dos memes e ampliasse sua base, com projetos novos, um amigo querido me ligou e disse:

- Não são os partidos nem o governo que fará isso.

Penso que ele tem razão. Penso que devemos pensar em iniciativas que vão além dos partidos. Podem ser entidades respeitadas, existentes, exigentes. Pode ser sindicato, associação profissional, OAB, ONGs, o que for, mas precisamos ter propostas que inovem e ampliem.

Já cansou isso de ver gente se acusando por causa da derrota (foi o Ciro! foi o Haddad!). Vamos para a frente. Vamos entender por que perdemos. Não adianta ficar só denunciando as fraudes, empulhações etc.

O que precisamos é desenvolver ideias, projetos, tudo o mais.

Na educação, por exemplo, vejo o entusiasmo dos jovens - alguns dos quais se elegeram deputados - por fazer coisa nova. Esses jovens não estão apenas lamentando ou denunciando. Estão fazendo.
E isso vale para muita coisa que rola nas áreas que promovem a inclusão social.

Se os partidos e seus fãs querem ficar discutindo nomes, façam isso. Penso que precisamos sair daí. Precisamos ver do que o Brasil precisa. Ter ideias. Pegar projetos bons, dá-los a conhecer. Enfim, muita coisa a fazer.

Renato Janine Ribeiro é professor de filosofia da USP, cientista político e escritor. Foi ministro da Educação no governo da presidente Dilma Rousseff, entre abril e setembro de 2015.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Que movimento boçal este bolsonarismo, meu Deus!

Que o Blog do PPS faz e fará sempre oposição declarada a esse governo boçal do presidente Jair Bolsonaro não deve ser novidade para ninguém, né?

Tanto quanto fizemos oposição aos (des)governos de Lula e Dilma Rousseff, bem como registramos a nossa posição contrária, crítica e equidistante a Bolsonaro e Haddad no 1º e no 2º turno das eleições de 2018.

Estava muito claro para nós que essas duas saídas polarizadas à direita e à esquerda seriam igualmente equivocadas e prejudiciais ao Brasil. Mas se esta foi a decisão da maioria do eleitorado, não há o que se discutir. Assim funciona o estado democrático de direito, e assim seguimos: eles no governo, nós na oposição. Simples assim.

Aqui da trincheira da resistência à burrificação e ao ódio reinante, que tenta reescrever a História de acordo com as narrativas mais convenientes ao bolsonarismo ou ao lulismo, vamos tentar preservar a racionalidade, o equilíbrio e o bom senso. Trazemos hoje a coletânea de alguns bons textos que fazem pensar e dão em boa medida o retrato desse momento insano que o país vive. Leia:

Henry Bugalho: O avesso da verdade

Celso Rocha de Barros: Os Generais

Esquerda x Direita: Bolsonarismo importa dos EUA teoria conspiratória sobre marxismo cultural

Antonio Prata: A milícia de Brancaleone

Jair Bolsonaro: O meme que virou presidente

Enquanto isso, no mundo surreal da política...

Henry Bugalho: O avesso da verdade

Mundo obscuro ajudou a eleger um presidente

"Até agora, todos os ditadores tiveram de trabalhar duro para suprimir a verdade. Nós, por meio de nossas ações, estamos dizendo que isto não é mais necessário (...) decidimos livremente que queremos viver num mundo pós-verdade". Steve Tesich, dramaturgo sérvio, 1992.

A verdade está perdendo importância na compreensão do mundo. Esse é um fenômeno de forte conteúdo político que busca impor uma narrativa que prescinde ou distorce os fatos.

Hoje, muitos youtubers direitistas veiculam uma mensagem padronizada: nas últimas décadas, estava em curso a implantação do comunismo no Brasil. Nessa teoria conspiratória, o filósofo Antonio Gramsci seria o pilar de um movimento global para destruir o capitalismo a partir das instituições educativas, políticas e culturais. Uma revolução secreta para desintegrar nossos valores tradicionais.

Nessa guerra psicológica, a agressividade de vários influenciadores não é apenas questão de estilo. É funcional, mesmo que muitos deles a adotem por imitação ou intuitivamente. Deve-se confundir o oponente, desacreditá-lo, abalar o seu moral.

A estratégia é a construção de uma narrativa pós-verdade, alheia ao conhecimento consolidado. Afinal, todos navegamos pelo mundo por meio de nossas histórias. Para aceitarmos dada interpretação da realidade, antes de tudo ela precisa fazer sentido. Uma história mentirosa coerente convence mais que uma verdade incoerente.

Esse esforço de reinvenção da interpretação da realidade está em curso. Todos os dias somos bombardeados por afirmações de ideólogos apresentando uma versão revisitada do passado e uma nova visão para o presente.

Em grande medida, as falas revisionistas de Bolsonaro, negando fatos sobre a ditadura militar ou alardeando uma "ameaça comunista", têm origem em Olavo de Carvalho, um dos responsáveis por importar e reembalar teorias conspiratórias norte-americanas.

Originalmente vinculado a seitas esotéricas e tariqas islâmicas, ele foi consolidando, em círculos marginais sem nenhum reconhecimento acadêmico, uma reputação de filósofo conservador, negando o legado do Iluminismo, da ciência moderna e dos valores democráticos decorrentes da Revolução Francesa.

Pouco importou que seu autodidatismo e falta de critério o levassem, por exemplo, a incitar o temor de um movimento global pela legalização da pedofilia. Esse mundo obscuro foi relevante na eleição de um presidente.

Neste instante, uma guerra ocorre no ambiente virtual. De um lado, arautos da pós-verdade, alguns ocuparão cargos políticos ou ministérios. De outro, cientistas, pesquisadores, professores, historiadores e filósofos esforçando-se para preservar uma compreensão mais criteriosa da realidade.

Confrontamos agora o avesso da verdade. Este é o instante no qual profissionais que trabalham com o saber devem estar dispostos a defender o conhecimento contra as investidas do obscurantismo, e no qual agentes políticos terão de evitar a corrosão das estruturas democráticas por figuras autoritárias que habitam um mundo de ilusões conspiratórias, onde comunistas espreitam a cada esquina.

Henry Bugalho é formado em filosofia, autor de "O Rei dos Judeus" e "O Personagem"; youtuber de temas filosóficos e contemporâneos

(Artigo publicado na Folha de S. Paulo de segunda-feira, 14 de janeiro de 2018)

Celso Rocha de Barros: Os Generais

Gostaria que a nova conversa dos militares com a democracia incluísse também a esquerda

Algumas semanas atrás, os sites chapa-branca deram um escândalo porque um dos “Manuais do Candidato” para o concurso do Itamaraty tinha uma passagem desabonadora sobre Bolsonaro.

O texto, do historiador João Daniel Lima de Almeida (grande fera, aliás), lamentava que a participação dos militares na discussão sobre o desenvolvimento brasileiro tivesse se tornado tão apagada que o único representante da categoria no debate nacional fosse Bolsonaro, um homofóbico convicto.

Antes que os bolsonaristas comecem a chorar de novo, esclareço: no ano em que o texto foi escrito (2013), Bolsonaro declarou que se orgulhava de ser homofóbico (está no YouTube). A afirmação de Almeida é factualmente correta.

Mas o importante não é isso, o importante é o seguinte: todos os oficiais das Forças Armadas sabem que Almeida tem razão.

Depender de Bolsonaro para participar da vida política nacional é uma tristeza.

Alguém acha que os generais gostam de participar de reuniões com os filhos do presidente, os discípulos de Olavo de Carvalho, o Onyx? Duvido.

Mas pensaram os generais: se a vida lhe dá um amigo do Queiroz, faça uma laranjada.

E as últimas semanas mostram que há vantagens em participar de um governo de gente que não passa em psicotécnico. Afinal, as chances de parecer moderado são excelentes.

Enquanto o novo chanceler fazia seu discurso de posse, Mourão se reunia com representantes do governo chinês. E mais: tuitava que estava na reunião, como se dissesse “ó, não se preocupem não, tem adulto nesse negócio”.

Há também relatos de que Augusto Heleno quer limitar a influência dos olavistas. Não é nada pessoal, Olavo. Um amigo meu também foi dispensado do Exército por ter cara de maluco.

E se seu emprego fosse manter o Onyx na linha você também teria aquela expressão carrancuda do Santos Cruz. Coitado, achou que não tinha nada mais difícil do que pacificar a República Democrática do Congo.

 De modo que já há gente depositando suas esperanças na possibilidade dos generais produzirem um governo Bolsonaro bípede.

Sempre é possível, tomara que aconteça, mas, pessoalmente, ainda concordo com o Manual do Candidato do Itamaraty: é triste que os militares tenham voltado a participar da vida política brasileira na cola da turma do Bolsonaro. Torço para que os líderes de nossas Forças Armadas não se revelem moderados só por comparação com os malucos do atual governo.

Não há absolutamente nada de errado com a nomeação de ex-militares como ministros. Afinal, todo mundo, antes de ser ministro, era alguma outra coisa: militares não são menos qualificados do que economistas, advogados, sindicalistas ou pastores. Os centros de formação militares são excelentes, os oficiais em geral conhecem bem o país. É bom que voltem a ser cogitados para cargos públicos.

Mas seria muito melhor se não voltassem no governo de um sujeito que se entusiasma tanto quando fala em golpe de Estado.

O discurso do novo presidente é tudo o que gostaríamos que a reconciliação das Forças Armadas com a política brasileira não fosse.

E gostaria que a nova conversa dos militares com a democracia incluísse também a esquerda. Com Bolsonaro na sala, não parece fácil.

Celso Rocha de Barros é servidor federal, doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e colunista da Folha de S. Paulo.

Esquerda x Direita: Bolsonarismo importa dos EUA teoria conspiratória sobre marxismo cultural

Tese diz que esquerda se infiltrou nas artes, imprensa e outras instituições para destruir a civilização ocidental por dentro

Maurício Meireles
Folha de S. Paulo

Fábricas e fazendas não estão mais com nada. O grande movimento da esquerda agora, em vez de buscar o poder pelas armas, seria a luta no campo da cultura —apropriando-se, pouco a pouco, de instituições como as escolas, universidades, editoras e a imprensa, além das artes e do entretenimento.

O objetivo, para a nova direita que chegou ao poder com a eleição de Bolsonaro, é muito claro: destruir a civilização ocidental e seus valores, algo impossível apenas com o controle dos meios de produção.

Essa revolução discreta, segundo esse ponto de vista, vinha pisando leve e falando baixo há quase um século. Por isso ninguém percebeu.

A esse alegado veneno —de inoculação lenta, mas igualmente mortífero— a nova direita dá o nome de “marxismo cultural”, o braço do globalismo na cultura. Com a ascensão do novo presidente, essa expressão passa a se espalhar de forma mais intensa.

Não se trata de uma jabuticaba. O conceito chegou ao Brasil importado dos Estados Unidos. Aqui, foi disseminado especialmente pelo escritor Olavo de Carvalho, que, de sua casa nos EUA, alimenta intelectualmente as novas lideranças da direita no país.

Não é por acaso que, dentro do governo, os ministros da Educação e das Relações Exteriores —os dois indicados pelo escritor— falam em exorcizar o marxismo cultural em suas respectivas áreas. Nos discursos de outras lideranças conservadoras pelo mundo, em países como a Hungria, a Itália e a Polônia, a ideia também corre solta.

O conceito ganhou bastante visibilidade em 2011, quando o extremista Anders Behring Breivik matou 69 pessoas na Noruega. Na ocasião, o atirador publicou um manifesto que, entre outros pontos, acusava uma conspiração dos marxistas culturais.

Para a esquerda, tudo não passa disso, uma teoria da conspiração. As notas de rodapé do discurso bolsonarista, contudo, indicam de onde a direita tirou essa ideia. E ela é uma cópia das crenças dos conservadores americanos —esse marxismo que não diz seu nome seria criação dos intelectuais da Escola de Frankfurt, instituto de pesquisa criado na Alemanha em 1923.

O novo diretor do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Murilo Resende, por exemplo, tem em seu blog “A Escola de Frankfurt - Satanismo, Feiura e Revolução”, tradução de um texto famoso sobre o tema, citado por Breivik no seu manifesto. Já o procurador da República Guilherme Schelb, que foi cotado para o MEC, tem falado em palestras e entrevistas sobre Herbert Marcuse, um dos intelectuais do grupo.

“Essa turma nunca leu esses autores, pegam tudo de orelhada”, diz o cientista político Renato Lessa. “Sequer leram o [ensaísta liberal] José Guilherme Merquior, que fez um livro excelente sobre a Escola de Frankfurt. O que caracteriza essa turma é uma ignorância cultural muito grande.”

O grupo alemão se forma em um momento no qual a esquerda tentava entender por que raios os proletários do mundo não tinham imitado os soviéticos e, na Alemanha, tinham até aderido ao nazismo.

Adorno, Horkheimer, o próprio Marcuse e outros, todos judeus, fugiram para os Estados Unidos com a ascensão de Hitler. Lá, diz a direita, não só tentam destruir a sociedade que os acolheu como exportam suas ideias malévolas para o mundo todo.

E o Brasil com isso? Basta lembrar as últimas polêmicas no campo da cultura e dos costumes —Queermuseu, Escola sem Partido, ideologia de gênero, meninas vestem rosa e meninos, azul. Em todas elas, a direita parte do princípio de que a esquerda tenta corroer a civilização judaico-cristã por dentro.

Os militantes identitários —feministas, negros e gays—, que defendem a representatividade em obras de arte, seriam agentes do marxismo cultural. Desejariam levar sua agenda adiante, questionando instituições como a família nuclear e pregando uma moral sexual degenerada.

A revisão que esses grupos tentam promover nos cânones da cultura ocidental —na literatura, por exemplo, tentando incluir negros e mulheres— é lida pela mesma chave. O politicamente correto faria parte da mesma barafunda.

“Nenhuma bibliografia séria trata esses autores como parte de algo chamado marxismo cultural. O Brasil está imitando uma certa direita paranoica americana”, diz Eduardo Wolf, doutor em filosofia pela USP, que lança em março um livro sobre guerras culturais e tem um capítulo sobre o assunto.

Não é mentira que exista uma tradição na esquerda que trata da crítica dos valores da sociedade capitalista —ou que defende a disputa pelas instituições culturais.

O comunista italiano Gramsci, outro a quem os conservadores atribuem culpa em uma tramoia mundial, falava em conquista da hegemonia. O próprio Marcuse, ídolo da contracultura nos anos 1960 e amado por Hélio Oiticica, defendeu o poder subversivo da libertação sexual na época.

A novidade com a direita americana dos anos 1990 é a teoria da conspiração, a ideia de um grande movimento orquestrado, que vê jornais, Hollywood e outros espaços como locais cheios de marxistas mexendo as cordas do mundo.

O conservador americano William S. Lind, em um breve documentário chamado “The History of Political Correctness” (a história do politicamente correto), de 1999, resumiu toda a tese, enquanto tentava explicar como a América tinha sido seduzida pelo politicamente correto —levado a cabo por feministas, gays e outros militantes de esquerda.

A tese se espalhou tanto que virou moda militantes mais exaltados acusarem o trilhardário George Soros como financiador do marxismo cultural —tanto que a universidade que criou na Hungria está sendo expulsa do país pelo presidente Viktor Orbán.

Wolf acredita que haja sim uma hegemonia de esquerda na intelectualidade, ou no circuito das artes e da comunicação —mas acrescenta que há outros fatores que contribuem para tal, como afinidades intelectuais ou pessoais.

“A esquerda recusa, de uma só vez, tanto as teorias conspiratórias do ‘marxismo cultural’ nas instituições quanto a [ideia de que tenha] uma hegemonia avassaladora. Isso se deu por várias razões, de modo complexo. Negar esse predomínio de esquerda só alimenta o discurso paranoico da direita conspiratória.”

Maurício Meireles é jornalista especializado na cobertura de literatura, mercado editorial e políticas de livro e leitura. É repórter e colunista da Folha de S. Paulo.

domingo, 13 de janeiro de 2019

Antonio Prata: A milícia de Brancaleone

“As eleições acabaram, não há lugar para revanchismo”, dizem os supostos arautos da racionalidade, “agora é torcer pra dar certo” — e todos aqueles que não acompanham as primeiras estultices do governo Bolsonaro fazendo coraçãozinho com a mão são petistas ressentidos, incapazes de aceitar as regras da democracia: “Vai pra Cuba!”.

Tenho dificuldade em torcer para o governo Bolsonaro “dar certo”, não por ser um “petista ressentido” —no infinito rol dos inimigos da pátria criado por esta direita neo-jurássica estou mais para “esquerda-caviar”. O problema é que não compreendo o que seria este governo “dar certo”. Se for Bolsonaro e sua milícia de Brancaleone conseguirem pôr em prática boa parte do que prometeram na campanha e começaram a tentar implementar nas últimas duas semanas —com exímia incompetência, felizmente—, estou fora.

Sejamos francos: estes caras são uns lunáticos. Como não chamar de maluco quem acredita que o aquecimento global é um “plot marxista”? Quem acha que a Folha (“Foice”) de S.Paulo e a Globo (“Red Globo”) são comunistas? Quem vê um plano da esquerda, infiltrada em todas as ramificações do ensino e da cultura, para destruir a família? Para Olavo de Carvalho, o Osho da seita Jair messiânica, o “plot” é ainda mais doido: a esquerda é manipulada pelo grande capital que, minando a família do trabalhador, poderá explorá-lo melhor.

“A sociedade que o ‘multiculturalismo’ anuncia” —escreveu aqui na “Foice”, em 2017, o Rajneesh dosbolsominions— “(...) é uma sociedade de tipo romano em que só os ricos e poderosos têm o privilégio de possuir uma família estruturada, enquanto o povão se esfarela numa poeira de átomos soltos, sem pais nem mães, nem tradição, nem passado, nem referência —a massa de manobra ideal para os engenheiros sociais a soldo da elite bilionária”.

Imagina o grau de delírio da pessoa para, toda vez que vê a bunda do Zé Celso, enxergar a carteira do George Soros? Nem no Centro Acadêmico de Ciências Sociais eu me lembro de testemunhar paranoia tão delirante. E olha que lá no CA o pessoal misturava Foucault com maconha, Kaiser quente e Bakunin —coquetel, agora sei, preparado pelos ocultos barmen da “elite bilionária”.

Voltando à terra: imagino que a maioria dos que torcem para o governo “dar certo” se refere à recuperação da economia. Sim, todos queremos crescimento, empregos, riqueza. Mas o que viria na esteira deste crescimento? Porte de arma para a população no país que já é o campeão mundial em mortes por bala? “Ponto final em todos os ativismos no Brasil”, i.e., mais violência contra mulheres, negros, LGBTs? Destruição das florestas, extinção das reservas indígenas? Execuções sumárias pela polícia? Murundu na política externa só para lamber as botas do Trump?

Os mesmos jedis da racionalidade que “torcem pelo Brasil” costumam reduzir tudo à economia, como se o nosso grau de desenvolvimento pudesse ser medido em toneladas de soja e as pautas de “costumes” fossem perfumaria. Ora, “costume” não é dar um ou dois beijinhos. É uma questão de costume escravizar ou não escravizar seres humanos. Uma mulher morrer assassinada a cada duas horas é uma questão de costume. (Eis a tradição que se preserva com a cretinice do azul e do rosa). Desigualdade e injustiça: costume. O que separa a Noruega do Brasil não é a economia, o DNA, a providência divina: são os costumes.

Sinceramente, não sei para o que torcer. Parece-me que a tragédia dell’arte que ora se desenrola diante de nossos olhos não tem como “dar certo”.

Antonio Prata é escritor e roteirista, autor de “Nu, de Botas”, e colunista do jornal Folha de S. Paulo.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Última homenagem ao amigo Nelson Suguieda

Morreu nesta sexta-feira, 11 de janeiro, Nelson Suguieda, nosso amigo, trabalhador dedicado e dirigente do PPS paulistano.

De forma inesperada, aos 52 anos, um infarto tirou a vida deste grande cara, exemplo de servidor público.

O sepultamento será neste sábado, dia 12, às 10h da manhã, no Cemitério do Morumbi (Rua Dep. Laércio Corte, 468), onde o corpo também está sendo velado.

Entre as várias homenagens e depoimentos dos amigos e companheiros de partido, unânimes em apontar as suas grandes qualidades, vale reproduzir o texto do jornalista César Hernandes postado nas redes sociais na tarde desta sexta-feira:
Nelsão era um companheiro para todas as horas. Conheci-o no PPS, partido do qual faço parte, mas foi trabalhando ao seu lado que descobri um grande e incansável trabalhador. Dividiu comigo madrugadas adentro auxiliando as vítimas das chuvas e dos incêndios (como na queda do prédio do Largo do Paysandu). 
Servidor público pra lá de dedicado, estava pronto para qualquer situação adversa. Ano passado, na Comunidade do Sapo, região da Água Branca, ficou comigo até as 5 da matina ajudando na distribuição de materiais e no cadastramento das famílias. Não esmorecia jamais, apesar de uma saúde frágil e que merecia mais atenção.
Lutou como poucos na Defesa Civil de São Paulo, mas infelizmente, nos últimos meses, estava triste com a sua situação profissional - apesar de ser um "pé de boi" no dia a dia da Lapa. Mas o que o Nelsão gostava mesmo era de atender a população nas situações de calamidade pública, como no acidente com o avião da TAM, em 2007. Isso o tornava maior do que ele foi aqui nesse plano. Seu coração, grande também, não resistiu mais. Parou de bater na última madrugada. Descanse em paz, Nelsão Hiro Suguieda.
O presidente do PPS paulistano e subprefeito da Lapa, Carlos Fernandes, também lembrou de um momento típico de Suguieda (veja a foto abaixo): ele aproveitava um dia de folga para fazer a manutenção do equipamento de trabalho da Defesa Civil.

"Esse é o cara! Para onde ele for, vai fazer a diferença. Por aqui vai fazer uma falta danada...", resumiu Carlos Fernandes.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Faltam 1.451 dias para o fim do governo Bolsonaro

São 10 dias de governo do presidente Jair Bolsonaro. Ufa! Vamos sobreviver. Talvez não o autor desse texto, se continuar desafiando a fúria dos bolsominions com opiniões desagradáveis e questionamentos idênticos aos que fazíamos nas gestões petistas.

Afinal, a milícia (logo mais armada) está aí para proteger o mico (ops, digo, o mito). Estão certos. É da natureza dos cães de guarda proteger a mão que os alimenta, seja o dono destro ou canhoto. Foi com Lula, é com Bolsonaro. E assim será pelos próximos 1.451 dias desse governo, se tudo der certo (para eles e para nós).

Não foi fácil, mas sobrevivemos aos 2.922 dias sob a presidência de Lula, aos 1.959 dias de Dilma Rousseff (ou 2.069 até o impeachment) e aos 851 dias de Michel Temer (mais 111 dias de lambuja, desde o afastamento provisório da petista). É mais ou menos isso, nessa conta feita no papel do pão. Ou seja, foram 4.881 dias de petismo, 962 sob a "temeridade" do PMDB e, desde o 2º turno das eleições de 2018, em 28 de outubro, mais 75 dias de Bolsonaro, o meme que virou presidente com sua trupe de filhos, militares, retrógrados, criacionistas, lunáticos e fanáticos de todo o tipo. Dai-nos força, Senhor!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Jair Bolsonaro: O meme que virou presidente

O título é bom, tá ok? Dá livro. Dá documentário. O personagem (ame-o ou odeie) é ótimo. O ator, um "mito" canastrão, típico do período no qual adentrou o Brasil. Vivemos tempos em que transbordam o ódio e a intolerância. A velha esquerda vazou pelo ladrão. A direita mais chucra verte da fossa sanitária. A podridão da política é evidente. Obscurantismo, preconceito, retrocesso, fake news são as marcas dessa "nova era". Deprimente.

Se isso é o novo, que tristeza! Indigência moral, penúria intelectual. A onda da mediocridade varre as redes e as ruas. A generalização dos maus políticos contamina todo o sistema e anula os bons. Tira o espaço essencial da política como mediadora dos interesses públicos e joga todo mundo na vala comum da politicagem, das negociatas e do oportunismo. É a desforra do até então chamado baixo clero do parlamento. Nivelou por aquilo de pior que existia.

Vale o registro desse período. O Blog do PPS faz isso há 13 anos. Informa, relata, analisa, cobra, investiga, compara, opina. Incomoda (Ufa! Que bom!). Seguiremos nessa tarefa, queiram ou não.  Desagradando gregos e troianos. Abaixo, um resumo do que temos publicado sobre Jair Bolsonaro e esse recorte singular da nossa História. Tristes tempos.

Oi, sumido! Quantos likes vale esse governo?

Problema vai ser quando o monstro sair do armário

Das fake news ao fake gov: Será o início do fim?

Presidente Bolsonaro, conte comigo... na oposição!

Cota de malucos de Bolsonaro já está preenchida?

Uma oposição responsável contra Haddad e Bolsonaro

Democracia e Sustentabilidade por um Brasil melhor

Boa política é a maior derrotada neste 2º turno

Vamos falar daquele que não se deve dizer o nome?

O Brasil que eu quero e vou buscar em 7 de outubro

O Brasil nas mãos de quem o brasileiro quiser

Que Brasil teremos depois de 7 de outubro?

Políticos, meus velhos, vocês não entenderam nada!

Fé cega, faca amolada e a eleição presidencial

Os movimentos cíclicos da política no mundo

O Brasil do "ame-o ou deixe-o" de Silvio Santos

Eleições 1989-2018: direto do túnel do tempo

Conheça a seleção de presidenciáveis de 2018

"Matar gente" x "comer gente": A polarização idiotizada

Boçalnaro, o atraso e a ignorância climática

Artigo: Falando a sério sobre Bolsonaro

Para ajudar a entender Lula e Bolsonaro

De Lula a Bolsonaro: mocinhos e vilões nesse telecatch entre esquerda e direita

"Autismo político" do centro pode levar a 2º turno entre Haddad e Bolsonaro

Movimentos visíveis e invisíveis até o domingo

Cresce chance de Bolsonaro ser eleito no 1º turno

Que rumos tomam a eleição após cinco dias de TV?

3, 2, 1... e Jair Bolsonaro: TCHIBUM! #EleNão

Onda #BolsonaroNão tenta sensibilizar eleitor brasileiro

O PT criou e alimenta Bolsonaro. Não reclamem!

Façam as suas apostas para 7 de outubro

Uma semana decisiva para as eleições de 2018

Procura-se o sucessor de Jair Bolsonaro (mas, já???)

Bloco democrático e reformista é lançado para tentar impedir "castástrofe"

#ProgramaDiferente: Bolsonaro, que mito foi esse?

#ProgramaDiferente: Tudo tem início, meio e fim

Discurso "bolsonazi" no #ProgramaDiferente

#ProgramaDiferente sem censura nem preconceito

Os riscos à democracia no Brasil de Bolsonaro

A retrospectiva de 2018 no #ProgramaDiferente

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Dia 20 estreia a 5ª temporada do #ProgramaDiferente



O #ProgramaDiferente vem se destacando por um jornalismo qualificado, com pautas diferenciadas e uma abordagem leve, plural e democrática, ouvindo diversas personalidades das mais diversas áreas (política, artes, cultura, direito, educação, esportes, meio ambiente, urbanismo, tecnologia, comunicação, redes sociais etc.). No próximo dia 20 de janeiro começa a sua 5ª temporada. Veja aqui.

A estreia foi em março de 2015, na TVFAP.net e na TV Aberta (Canal Comunitário de São Paulo - NET Canal 9, Vivo Canal 186 e Vivo Fibra Canal 8), tendo como foco principal ajudar a debater a crise do país e a buscar saídas e soluções criativas para os problemas políticos, sociais e econômicos.

O objetivo também é discutir e promover a cidadania, a qualidade de vida, a diversidade, a justiça social, a igualdade de direitos e de oportunidades, e a chamada governança democrática, acima de preconceitos e de divisões partidárias e ideológicas, além de valorizar ações sustentáveis, empreendedoras e responsáveis, através de iniciativas culturais, comportamentais, políticas, acadêmicas e tecnológicas que apontem para cidades inteligentes, modernas e inclusivas.

Tudo isso sem perder o bom humor, com uma fórmula simples, objetiva e bem sucedida: apresentar semanalmente um bom programa jornalístico, informativo, crítico e colaborativo (com entrevistas, debates, notícias e prestação de serviços), amparado por um conteúdo abrangente e bem apurado que lhe garante respeito, credibilidade e mais de 5 milhões de views no Youtube, Twitter e Facebook, tudo isso escorado por um olhar isento e alternativo ao da imprensa tradicional.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Oi, sumido! Quantos likes vale esse governo?

O twitter já tem um presidente. Falta Jair Bolsonaro assumir de fato a presidência do Brasil. O diversionismo nas redes sociais vai durar até quando? E a lua-de-mel com a opinião pública, resiste a quantos desmentidos? Esses emergentes governistas se esquecem que tudo na política é cíclico. O poder é passageiro, assim como a paciência da maioria silenciosa. O clima festivo tem prazo de validade. É uma sinuca. A bola da vez passa. Logo vem a próxima. É a sina.

A militância ruidosa e empolgada funciona para fazer espuma, mas a onda recua. Os dois candidatos que foram ao segundo turno, assim como seus apoiadores mais fiéis, não saíram ainda da campanha. Parece que a eleição não terminou. Não é à toa o constante bate-boca protagonizado por Bolsonaro e Haddad nas redes, para delírio das claques uniformizadas. Curioso, mas ambos parecem ter razão nos mais baixos xingamentos.

Adentramos janeiro com a "despetização" de Brasília anunciada pelo novo governo: o que na prática funciona na mão inversa como uma "bolsonarização" das instituições que - estas sim - deveriam ser desideologizadas. Mas trocam seis por meia dúzia. Saem os entusiastas da esquerda, entram os fanáticos da direita. Muda apenas a orientação da seita. Se a facção que controla o poder é destra ou canhota. No fundo são todos inflexíveis nas suas doutrinas arcaicas.

Essa moda neopopulista de se comunicar pela internet e (des)informar por whatsapp é mera avacalhação, empulhação, marmelada, trapaça. Não tem nada de republicano e muito menos democrático. É a nova versão da voz oficial. É um monólogo capenga de quem não quer ouvir o contraditório. Típico de qualquer ditadorzinho de republiqueta. Autoritário, autocrático, opressor.

Outra desculpa esfarrapada são os perfis fakes, apresentados como se fossem satíricos, mas que na verdade são criados deliberadamente para difundir notícias falsas, versões sabidamente mentirosas, quase sempre seguindo a orientação chapa-branca dos estrategistas do marketing governista para confundir o leitor e diluir a repercussão negativa de verdades incômodas. Tristes tempos.

Se alguém votou, sinceramente, esperançoso em algo novo na política ou no salto qualitativo para um governo liberal, já deve estar frustrado. Quem busca alguma essência republicana ou democrática também percebe fácil o engodo. Até para os padrões militares, esse início de governo Bolsonaro é um fracasso retumbante. Tudo que não se viu nessa primeira semana foi ordem, hierarquia, planejamento e inteligência. É pura desordem e retrocesso.

Não é só o fato do capitão comandar os generais, como foi mostrado em tom de humor para humanizar e disfarçar o lado truculento e tirânico desse bolsonarismo que se impõe como antídoto ao lulismo que predominava até então. Ambos são tóxicos. Nem é tão problemático, embora inusitado, o fato de técnicos e funcionários de segundo escalão virem a público desmentir o presidente em anúncios, promessas e compromissos que não se sustentam. Preocupante é a incompetência, o despreparo, a indigência intelectual desse títere da nova ordem que chega ao poder.

Contra a "ameaça comunista", inimiga imaginária dos bolsonaristas (na falta de fatos concretos ou argumentos racionais) usada para manter alguma coesão interna, aparece o patriotismo exacerbado, a aversão aos princípios básicos do estado democrático de direito. Contra as liberdades e conquistas elementares da cidadania, o fundamentalismo religioso, o criacionismo bíblico, o discurso bélico, a violência, o ódio e o preconceito.

Seguimos acompanhando e aprendendo sobre quem são esses personagens caricatos que se apossam do governo central. Quem são os novos inquilinos dos palácios de Brasília, liderados por um meme que virou presidente e por seus filhos que parecem saídos de uma série da Netflix, identificados à la Capitão Nascimento como 01, 02 e 03 - e que, neste momento, discutem publicamente sobre a infestação de oportunistas que cercam seu pai, atraídos pelo poder como mariposas pela luz.

Ah, uma luz... Como é necessária! Pode ser rosa ou azul (laranja*, oi?), artificial ou divina, mas que ilumine essas mentes obscuras pelos próximos anos. Por favor! E que nos aponte um caminho sem atalhos fáceis à esquerda ou à direita. Nem armadilhas e disfarces virtuais. Que olhem menos para as redes e mais para as ruas. Menos para os avatares e mais para os cidadãos. Menos para milhões de seguidores e mais para milhões de brasileiros.
Curtiu? ðŸ‘

(*Queiroz, me segue que eu te sigo de volta!)

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente

domingo, 6 de janeiro de 2019

#ProgramaDiferente sem censura nem preconceito: é pra menino que veste rosa, pra menina que veste azul e até pra quem fica nu! Estreia em 20 de janeiro!



Tem menino de rosa, tem menina de azul. No #ProgramaDiferente tudo pode, até todo mundo nu! Contra a hipocrisia e o falso moralismo que ficam por baixo dos panos, e ainda pra lavar a alma nessa entrada de ano, iniciaremos com ânimo renovado, no dia 20 de janeiro, a nossa 5ª temporada em 2019.

Por menos vergonha alheia e mais liberdade de expressão. Por menos contemplação e mais reflexão. Nudez na internet, por meio de aplicativos e das redes sociais. Nudez nas artes, como contestação, profissão, diversão ou filosofia de vida.

Desafiando regras e padrões sociais, inibições, proibições e obscenidades. A diversidade de corpos, raças, sexo e gênero, numa época em que tabus e preconceitos dos anos 70 e 80 do século passado voltam à tona com ranço antidemocrático. Censura? Aqui não! Veja o teaser do programa de estreia.

sábado, 5 de janeiro de 2019

#ProgramaDiferente: Tudo tem início, meio e fim



Vem aí a 5ª temporada do #ProgramaDiferente, com um jornalismo qualificado, pautas diferenciadas e uma abordagem leve, plural e democrática, ouvindo diversas personalidades das mais diversas áreas (política, artes, cultura, direito, educação, esportes, meio ambiente, urbanismo, tecnologia, comunicação, redes sociais etc.). Tudo isso sem perder a ironia e o bom humor.

Um bom exemplo foi a cobertura de todo o processo político que teve início nas manifestações de rua, passou pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, pelo governo interino de Michel Temer e culminou com a eleição de Jair Bolsonaro, depois de uma campanha que acirrou o ódio nas redes e dividiu o país. Assista a chamada.

A partir de 20 de janeiro, 50 novos programas semanais vão apresentar temas variados nesse ano de muita expectativa para o Brasil. O compromisso jornalístico e de cidadania é acompanhar vigilante o primeiro ano de mandato do presidente, além dos novos governadores, deputados e senadores, muitos deles inexperientes e estreantes em cargos eletivos. A defesa intransigente dos ideais democráticos e dos princípios republicanos será fundamental.

Reveja também nos links a seguir a programação das temporadas anteriores: 1ª temporada (2015), 2ª temporada (2016), 3ª temporada (2017) e 4ª temporada (2018). Assista, comente, curta, compartilhe!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Problema vai ser quando o monstro sair do armário

Por enquanto tudo é divino maravilhoso. Mas, como Gil e Caetano cantaram no endurecimento do regime militar, lá no final dos anos 60, é preciso ter olhos firmes para este sol, para esta escuridão. Atenção! Tudo é perigoso! É preciso estar atento e forte!

(Nota do autor: Só nesse primeiro parágrafo, 55% dos leitores e eleitores já estão me tachando de comunista; não sou, mas se fosse está aí Jair Bolsonaro para varrer do mapa os comunistas, graças a Deus! E é verdade esse bilete!)

Enquanto vivermos a exaltação ao presidente empossado, depois do "xô PT" que marcou as eleições de 2018 e do "ch*** Lula" (censurado) que estava entalado na garganta do brasileiro, parece que não há com o que se preocupar. Começamos o ano com cenas explícitas de patriotismo. O verde e amarelo voltou a reinar no Brasil. Viva!!!

Passagens em câmera lenta, sorrisos em close, o sentimento de orgulho e a satisfação estampada na cara de cada brasileiro usado na edição dos melhores momentos da posse para encerrar o Jornal Nacional festivo de 1º de janeiro dão o tom oficial do que vem por aí. Tudo é mesmo divino maravilhoso. Arre!!!

Tem o charme da primeira-dama, que "quebrou o protocolo" e foi a 1ª primeira-dama (a repetição é proposital, não reparem) a discursar antes do presidente, e ainda por cima em libras. Um encanto! Tem o tradutor negro encenando o hino nacional, substituindo na posse o deputado negro que fica sempre postado como peça do cenário nos discursos do presidente. Viva a inclusão e a diversidade!

Tem entrevista da primeira-dama (de novo!), eleita pela mídia chapa-branca para dourar a pílula truculenta do bolsonarismo, garantindo que o marido não é machista coisa nenhuma. Tá ok? Tem cobertura especial no canal do Silvio Santos, aquele que não gosta de se envolver em nada de política a não ser que seja para afagar o poderoso de plantão e garantir seus interesses. Tá certinho. Brasil, ame-o ou deixe-o!

Tem urros do Major Olímpio, senador por São Paulo (Senhor!). Tem selfie com o presidente e arminha com a mão. Tem Frota, tem Joice, tem Bia Kicis, tem uma penca de filhos e novos deputados dessa nova ordem. Tem falas contra os comunistas (sempre eles, esses canalhas!), contra os direitos humanos, contra o politicamente correto. 

Tem bandeira do Brasil que jamais será vermelha, a não ser pelo sangue que, se preciso, será derramado em defesa da Nação, como alerta Bolsonaro para deleite da claque e do fã-clube. Bravo!!! Tudo por amor à Pátria, enfim resgatada das mãos do inimigo. Mito!!!!

Daqui pra frente, nada de ideologia, essa invenção de esquerdista para destruir a família brasileira e desviar os nossos filhos do caminho de Deus! De agora em diante acaba toda essa baboseira. Escola é sem partido! Gênero é como nos tempos de Adão e Eva. Homem é homem. Mulher é mulher. O resto a gente cura, na bala ou no tapa! Novos tempos!

Acabou esse papinho de sustentabilidade, aquecimento global, direito social, direito trabalhista. Chega de nhenhenhém! Vamos trabalhar, p***! (censurado) Tem ambientalista predador do meio ambiente? Tem Funai que vai desmarcar terra indígena? Tem ministra que vai dar bolsa-auxílio para quem não abortar? Tem xenófobo nas relações exteriores? Tem militar a dar com pau (ops!) para garantir a democracia? Tem tudo isso, mas é a vontade do povo brasileiro! Urra!!!

Enfim, tudo é divino maravilhoso. Problema vai ser quando o monstro sair do armário. É como o Palmeiras de Bolsonaro, decacampeão brasileiro. Era penta em 2016, virou deca em 2018. Estamos mais ou menos nessa mesma situação. Entramos em 2019, mas podemos parar em 1964. Assim, num vôo direto no túnel do tempo, sem escalas. Liberdade? Democracia? Futuro? Foi bom enquanto durou. E leia esse texto antes que acabe. ObrigXXX.

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente