quinta-feira, 26 de abril de 2018

De Lula a Bolsonaro: mocinhos e vilões neste constrangedor telecatch entre esquerda e direita

Foi-se o tempo em que ser (ou se dizer) de esquerda ou de direita tinha real expressão política, algum valor ideológico ou peso intelectual. Até seria de se supor que neste ano eleitoral, em que as posições parecem mais extremadas e a polarização se acirra nas redes e nas ruas, esse embate tivesse algum conteúdo mais significativo. Triste ilusão. No ringue se alternam os mesmos personagens de um constrangedor e interminável telecatch.

Para quem não sabe, Telecatch foi um programa de televisão dos anos 60, criado na extinta TV Excelsior do Rio de Janeiro, dedicado à exibição de combates de luta-livre que misturavam encenação teatral e circo, com golpes ensaiados e resultados combinados. Tinha os mocinhos e os vilões, com personagens como Ted Boy Marino, Fantomas, Apolo, Aquiles, Hercules, Homem Montanha e figuras do tipo.

A ideia do telecatch foi copiada e reproduzida com nomes diversos, como Gigantes do Ringue e outros derivados, e até hoje é uma atração internacional com o bilionário WWE (World Wrestling Entertainment). Na política atual é quase a mesma coisa. Os combates são constrangedores, artificiais e reúnem um bando de personagens decadentes, dos astros mundiais Donald Trump e Kim Jong-Un aos nossos heróis nacionais (com Lula e Bolsonaro, por exemplo, posicionados em lados opostos do ringue, mas no final é tudo a mesma coisa). Um dos esquetes recorrentes era o juiz que roubava para os vilões (Isso te diz algo?).

Enfim, esse telecatch versão 2018 entre esquerda e direita é um espetáculo armado para distrair a plateia. Na prática, são todos atores encenando seus papéis. Não dá para levar a sério. O único iludido, se tanto, é o espectador diante de supostos mocinhos e bandidos, regras manipuladas e juízes arranjados. Puro entretenimento.

Por isso, quando vemos a esquerda ser resumida a Lula, Boulos, Ciro ou Manuela, ou a direita reduzida a Bolsonaro e MBL, é até desejável que tudo não passe mesmo de um espetáculo midiático sem muita importância ou profundidade. Pelo bem do Brasil. Porque seria muito desalentador se tudo se resumisse a estes dois campos opostos e fosse personificado nestes vultos horripilantes e caricatos. Há de se descobrir vida inteligente entre um polo e outro da política brasileira e mundial.

Por aqui, reunimos uma série de artigos e programas de TV que buscam refletir sobre o tema. Há 11 anos, pelo menos, desde a Conferência Caio Prado Júnior, realizada em 2007 pelo PPS e pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), que o Blog do PPS tem se debruçado a discutir "o que é ser de esquerda hoje" e como colocar em prática novas formas de fazer política, com ética e sem o ranço do extremismo e da intolerância. Seguimos nesta missão quase impossível.

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