Para quem não sabe, Telecatch foi um programa de televisão dos anos 60, criado na extinta TV Excelsior do Rio de Janeiro, dedicado à exibição de combates de luta-livre que misturavam encenação teatral e circo, com golpes ensaiados e resultados combinados. Tinha os mocinhos e os vilões, com personagens como Ted Boy Marino, Fantomas, Apolo, Aquiles, Hercules, Homem Montanha e figuras do tipo.
A ideia do telecatch foi copiada e reproduzida com nomes diversos, como Gigantes do Ringue e outros derivados, e até hoje é uma atração internacional com o bilionário WWE (World Wrestling Entertainment). Na política atual é quase a mesma coisa. Os combates são constrangedores, artificiais e reúnem um bando de personagens decadentes, dos astros mundiais Donald Trump e Kim Jong-Un aos nossos heróis nacionais (com Lula e Bolsonaro, por exemplo, posicionados em lados opostos do ringue, mas no final é tudo a mesma coisa). Um dos esquetes recorrentes era o juiz que roubava para os vilões (Isso te diz algo?).
Enfim, esse telecatch versão 2018 entre esquerda e direita é um espetáculo armado para distrair a plateia. Na prática, são todos atores encenando seus papéis. Não dá para levar a sério. O único iludido, se tanto, é o espectador diante de supostos mocinhos e bandidos, regras manipuladas e juízes arranjados. Puro entretenimento.
Por isso, quando vemos a esquerda ser resumida a Lula, Boulos, Ciro ou Manuela, ou a direita reduzida a Bolsonaro e MBL, é até desejável que tudo não passe mesmo de um espetáculo midiático sem muita importância ou profundidade. Pelo bem do Brasil. Porque seria muito desalentador se tudo se resumisse a estes dois campos opostos e fosse personificado nestes vultos horripilantes e caricatos. Há de se descobrir vida inteligente entre um polo e outro da política brasileira e mundial.
Por aqui, reunimos uma série de artigos e programas de TV que buscam refletir sobre o tema. Há 11 anos, pelo menos, desde a Conferência Caio Prado Júnior, realizada em 2007 pelo PPS e pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), que o Blog do PPS tem se debruçado a discutir "o que é ser de esquerda hoje" e como colocar em prática novas formas de fazer política, com ética e sem o ranço do extremismo e da intolerância. Seguimos nesta missão quase impossível.
Clóvis Rossi: A esquerda é o Titanic de 2018