segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Eleições 1989-2018: direto do túnel do tempo

Há quem veja, até de forma ameaçadora, inúmeras semelhanças entre a primeira eleição direta pós-ditadura e essa volta às urnas do brasileiro, passada a espinhosa transição pós-impeachment. Outros rechaçam qualquer comparação.

De todo modo, temos agora - e tínhamos há 29 anos - um presidente que era vice e chegou ao poder sem o voto direto do eleitor. No governo, vencida a trégua inicial de expectativas positivas, o presidente passa a ser um estorvo para o seu partido, campeão de impopularidade. Peso morto na eleição.

Além da descrição que pode ser usada tanto para José Sarney em 1989 quanto para Michel Temer em 2018, os herdeiros sem votos da cadeira presidencial, é possível ainda traçar um paralelo com as principais candidaturas das diferentes épocas.

Vamos observar os dois cenários:

O governo lança um nome fadado à derrota, apenas para ter uma candidatura chapa-branca que defenda o seu "legado" das múltiplas críticas que serão feitas à direita e à esquerda: papel que coube a Aureliano Chaves em 1989, reproduzido por Henrique Meirelles em 2018.

A oposição à esquerda vem dividida entre o forte PT (Lula lá, Lula aqui, separados no tempo por muitos escândalos, a mudança de lado no combate à corrupção e a metamorfose histórica de um partido de presos políticos que se tornaram políticos presos), o médio e desfigurado PDT (Brizola antes, Ciro agora) e uma candidatura moderninha alternativa, pequena mas digna (Roberto Freire em 1989, Guilherme Boulos hoje), se desconsiderarmos o antes e depois da queda do Muro de Berlim.

À direita, as opções variavam do político mais tradicional, experiente e bem votado em seu reduto, como Paulo Maluf; passando pelo liberal mais palatável e progressista, Guilherme Afif; e chegando à proposta mais radical e conservadora, Ronaldo Caiado. Dá para negar características comuns com os atuais Álvaro Dias (Podemos), João Amoêdo (Novo) e Cabo Daciolo (Patriota)?

Ao centro, havia a opção programática de uma política renovadora e civilizatória, com a recém-lançada social-democracia de Mario Covas (espaço ocupado atualmente pela Rede Sustentabilidade de Marina Silva com o PV de Eduardo Jorge); e o candidato do "establishment", reunindo as maiores forças políticas, sociais e econômicas em torno de Ulysses Guimarães, o Sr. Diretas, aparentemente predestinado a ser eleito o legítimo presidente da redemocratização (e aqui fica o alerta para Geraldo Alckmin e sua ampla coligação: não repetir os erros que derrotaram Ulysses).

Por fim, o líder nas pesquisas - que acabou se elegendo, contrariando todas os prognósticos iniciais dos analistas - era Fernando Collor, político de segunda linha, com postura arrogante, discurso agressivo e dono de um partido inexpressivo, que ganhou popularidade na mídia graças à fama de opositor do sistema, um "salvador da pátria" para o eleitorado indignado com a política tradicional. Qualquer semelhança com Jair Bolsonaro não deve ser mera coincidência.

Desejamos, sinceramente, que o resultado em 2018 seja bastante diferente daquele de 1989. Para o bem do Brasil.