quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Vamos falar daquele que não se deve dizer o nome?

Na realidade e na ficção temos "aquele que não se deve dizer o nome". O que antes era uma superstição ou crendice popular contra o "coisa ruim" e suas variações, na era das redes sociais virou medo do algoritmo. Verdadeiro pavor dessa criatura desconhecida!

Ou seja, se você repetir o nome "daquele que não deve ser nomeado" está praticamente invocando a desgraça. Vai disseminar o mal e fazer com que ele se multiplique na sua página e na dos seus amigos. Então, simplesmente ignore! Finja que ele não existe. Cale-se! (Será?)

No cinema esse tipo de personagem faz sucesso: é o Lord Voldemort da saga do Harry Potter. Ou ainda as perigosas e misteriosas criaturas que vivem na comunidade cercada por uma floresta ameaçadora no interessante filme "A Vila", do inventivo cineasta M. Night Shyamalan. Sem spoiler, afinal foi um lançamento de 2004, mas quem assistiu sabe que "aqueles de quem não falamos" serviam exatamente para manter a comunidade imobilizada pelo medo do desconhecido. A verdade, enfim, é revelada apenas quando alguém resolve quebrar o tabu e romper as fronteiras da desinformação e do preconceito.

Por muito tempo o brasileiro não dizia o nome do câncer ou da Aids, convicto de que ao não denominar tais doenças estaria milagrosamente imune à fatalidade. O tempo foi mostrando que não era bem assim. Ao contrário, quanto mais informação e conhecimento sobre determinada ameaça, melhor para enfrentar e combater os seus efeitos deletérios. Luz contra as trevas.

Daí que, na política, criou-se agora um candidato que também não se deve dizer o nome. Depois reclamam que seus seguidores o chamam de mito. Uma bobagem sem tamanho, de pessoas que sinceramente acreditam que se não citarmos Bols... (ops!) em nossas conversas, ele não existirá como opção nas urnas, no dia 7 de outubro, para o eleitorado revoltado e descrente na política.

Enfim, não vamos mencionar o nome dele. Não precisa. Mas o fato é que ele existe. Podemos odiar, podemos discordar, podemos não aceitar, achar tosco, mas analisando a entrevista ao Jornal Nacional sob o ponto de vista do brasileiro médio, por exemplo, é inegável que saiu ganhando. Diante de todos os indícios, pesquisas de intenção de voto, reação das pessoas nas ruas e nas redes, podemos arriscar que, infelizmente, ele está sacramentado no 2º turno.

Fazer o que? Seguir ignorando à espera de uma milagrosa desidratação da candidatura (que não virá!) ou combater no campo que ele domina, que é exatamente tachá-lo de boçal e levantar a bola para que ele repita o discurso raso e popularesco que as pessoas querem ouvir? Parece que ambas são táticas suicidas eleitoralmente, enquanto ele cativa apoiadores fiéis e cristaliza votos.

O Jornal Nacional optou por repisar os temas que toda a imprensa já cansou de publicar. Que o candidato está, portanto, treinado e preparadíssimo para responder. Foi o sonho de qualquer marqueteiro: levantaram a bola para o candidato a cada questionamento. Culminou com a nota da Globo, outra vez, para se justificar pelo apoio à ditadura. Foi uma goleada maior que o 7x1 da Copa de 2014.

Visivelmente nervosos e incomodados, os apresentadores globais perderam tempo até naquilo que é uma das poucas qualidades deste presidenciável: anunciar com antecedência o responsável pela Economia! Não vão desqualificá-lo por aí. Ou alguém se esqueceu que Dilma Rousseff começou a cair exatamente quando Joaquim Levy, no governo, desmontou cada uma das promessas da campanha petista em 2014?

Enfim, somos todos adultos, responsáveis, letrados e conscientes. Ignorar os fatos (mesmo quando eles insistem em desafiar as nossas preferências) não vai mudar o voto de ninguém. Ou se desmonta o adversário nas suas fragilidades, em vez de reforçar o que está muito além da razão na motivação puramente subjetiva e emocional que leva a maioria do eleitorado a escolher um candidato, ou estaremos ajudando a eleger aquele que seguiremos sem querer dizer o nome, mas que pode ser eleito diante do nosso silêncio e da nossa crendice em uma política que não existe mais.

Quanto à posição reiterada das Organizações Globo contra a ditadura militar, que bom que a empresa tenha feito um mea-culpa e adotado essa linha editorial. Mas será que nesse caso o "antes tarde do que nunca", a partir de um editorial de 2013, ou seja, 49 anos (!!!!) após o golpe e 10 anos (!!!!) depois da morte de Roberto Marinho, não estaria "só um pouquinho" atrasado para tirar a pecha de apoiadora, patrocinadora e beneficiária da ditadura, que é o discurso que une de petistas a bolsonaristas com algum fundamento histórico contra a Globo?

Por enquanto são opiniões e achismos que só vão se confirmar em 7 de outubro. Mas parece recomendável e salutar abrir os olhos e viabilizar rapidamente alguma opção anti-PT e anti-Bolsonaro, se não quisermos lamentar pelos próximos quatro anos, no mínimo. Xô, candidatos intolerantes, revanchistas e extremistas! Pé de pato, mangalô, três vezes! Mas, qual é a saída? Que nome devemos escolher para dizer em voz alta, que seja um contraponto viável àqueles que não queremos? Eis o nosso desafio. Temos pouquíssimo tempo para a resposta.

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente