Nem bem iniciamos o mês de abril e começa uma semana decisiva para o balanço final de 2018. Se encerraremos o ano com saldo positivo ou negativo na política, em grande medida o resultado se dará a partir do que acontecer de hoje até a próxima sexta-feira. E por que tanta importância concentrada neste pequeno espaço do calendário?
Vamos lá: o STF pode selar o futuro de Lula, como cidadão e presidenciável; a janela da infidelidade partidária segue aberta até o dia 6, causando efeitos na bolsa mercantil eleitoral; a opinião pública repercute a soltura dos amigos do presidente, após a prisão incomum e uma liberação ainda mais questionável; um bando de anônimos preenche mais de uma dezena de ministérios na vaga dos demissionários que vão ser candidatos em outubro (e o mesmo se repete em todos os estados e municípios); e termina o prazo de filiação para quem ainda pretende disputar as eleições e não está vinculado a nenhum partido.
Comecemos por este último: o ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, pode ser enfim a novidade que faltava para sacudir definitivamente esse quadro eleitoral que já se apresenta bastante imprevisível. Com a boa imagem cultivada nas condenações do mensalão, homem negro, de origem humilde e que venceu na vida por mérito próprio e dedicação aos estudos, parece ter o perfil talhado para chegar ao segundo turno das eleições presidenciais.
Ficam no ar duas perguntas: 1) De quem Joaquim Barbosa "roubaria" uma vaga? Da direita, do centro ou da esquerda? 2) Uma estrutura partidária mediana, como tem o PSB, influenciaria negativamente no desempenho de um candidato como Joaquim Barbosa? Ou essa eleição será marcada por fatores diversos e os partidos e conchavos tradicionais terão peso menor no resultado de 7 de outubro?
Uma coisa é certa: a entrada de Joaquim Barbosa no jogo embaralha as cartas e derruba favoritismos. Outros fatos novos a considerar: o empresário Flávio Rocha pode somar com Jair Bolsonaro, numa eventual coligação como vice, ou subtrair votos, se confirmar sua candidatura presidencial pelo PRB, vinculado à Igreja Universal, com apoio do MBL e discurso extremado de direita, mas aparentemente menos chucro que o guru dos bolsominions.
Ao centro, os desafios de Geraldo Alckmin se multiplicam com a proliferação de pré-candidaturas. A possibilidade de Michel Temer disputar a reeleição, embora com índices de aprovação baixíssimos, e os balões de ensaio lançados com Henrique Meirelles e Rodrigo Maia, são acúmulo de problemas em uma lista que já apresentava dificuldades imensas como quebrar a barreira do sudeste (com a rejeição altíssima do norte-nordeste e a candidatura de Álvaro Dias causando estragos no sul), além do próprio fator Bolsonaro, que no Brasil inteiro (e até mesmo em São Paulo) aparece na frente do governador nas primeiras sondagens de intenção de voto.
O sucesso de Alckmin, portanto, é uma aposta inversamente proporcional à de Bolsonaro, de Joaquim Barbosa e de Marina Silva, por exemplo: apenas a estrutura do PSDB pode levar o presidenciável tucano com o seu discurso racional ao segundo turno se subir nas pesquisas, enquanto para Bolsonaro, Marina e Barbosa o tempo de TV e o apoio formal de legendas e mandatários precisa ser irrelevante diante do apelo emocional e da onda de apoio difuso da sociedade.
Do outro lado, o PT aposta na velha narrativa do golpe e na vitimização de Lula, coitadinho, o perseguido, para garantir uma sobrevida até a eleição (e depois, como oposição). Os novatos presidenciáveis da esquerda Manuela D´Avila e Guilherme Boulos (e até o veterano ambidestro Ciro Gomes) prestam solidariedade esperando dividir o espólio lulista, enquanto Fernando Haddad esquenta o banco como "menino de ouro" a ser abençoado pelo guru se não vingar a virada de mesa no Judiciário.
Por tudo isso, não surpreenderia se Jair Bolsonaro e Joaquim Barbosa chegassem ao segundo turno em 7 de outubro, o que abalaria definitivamente muitas convicções na política e as atuais estruturas partidárias. Antes disso, porém, se as pesquisas indicarem essa possibilidade, há no horizonte uma nova formação que hoje só existe na imaginação do círculo de apoiadores de João Doria, mas que não pode ser descartada num quadro de tantas incertezas: o PMDB de Temer e Meirelles, o DEM de Rodrigo Maia, o PRB de Flávio Rocha e até o Podemos de Álvaro Dias se uniriam por uma candidatura presidencial salvacionista de João Doria.
Tudo isso parece exageradamente fantasioso? Até o momento, sim, certamente. Mas a essa altura, em abril de 1989, também parecia improvável que Fernando Collor de Mello fosse eleito presidente pelo fictício PRN contra Lula, Brizola, Covas, Ulysses, Maluf, Afif, Freire, Aureliano, Caiado, Gabeira, Enéas e outros. Numa época que a Internet nem existia e ter telefone celular era luxo para poucos.
Então, nada é impossível num país já assistiu golpe militar de 1º de abril, depois José Sarney presidente, Collor presidente, Itamar Franco presidente, FHC presidente depois de consertar a economia e sem ter conseguido ser prefeito de São Paulo, Lula presidente, Dilma presidente, Temer presidente, e numa época em que a Lava Jato mexe tanto com "o mecanismo" da política e as emoções do eleitor. O que vem por aí? Façam as suas apostas.
Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente