Com essa manobra - graças às 9 horas em uma "fila" virtual - o PT completa a encenação: aprova uma CPI, justificando ouvir a "voz das ruas", que clama pela abertura da "caixa preta" do sistema de transporte em São Paulo, ao mesmo tempo em que tenta manter o controle sobre as investigações - o que não estaria garantido nas mãos de um vereador não cooPTado pelo governo. E também evita o desgaste político de justificar a rejeição ao pedido de Ricardo Young, apoiado pela opinião pública.
Veja que o PT mudou de posição em 24 horas. Primeiro era totalmente contrário à CPI, com o governo e os vereadores da base garantindo que todas as informações do sistema, planilhas de custos etc. já estavam à disposição da Câmara e da sociedade. Tanto que o secretário de Transportes Jilmar Tatto afirmou, em nome do governo Hadadd, que uma CPI serviria apenas para "achacar os empresários do setor".
Percebendo a bobagem dita, que constrangeu os vereadores e fez aumentar a presença de manifestantes pró-CPI na Câmara, o governo mudou radicalmente a estratégia: decidiu "responder à sociedade" (aham!) e aprovar a CPI tão reivindicada, desde que, obviamente, mantivesse o controle sobre a comissão.
O discurso oficial: a CPI proposta pelo PT, ao contrário dos pedidos anteriores, é a única que tem um "escopo claro" (nas palavras de Paulo Fiorilo), ou seja, "discutir as planilhas das concessões e entender o custo do sistema". Como se não fosse este o mesmíssimo objetivo dos requerimentos de Paulo Frange e de Ricardo Young - a não ser pelo fato de serem menos palatáveis ao governo do que ter o vereador Paulo Fiorilo na presidência.
Outra manobra ainda possível, para alegar uma suposta "independência" e "isenção" da CPI, é o PT abrir mão da presidência e entregá-la a outro vereador da tropa-de-choque governista; por exemplo, Dalton Silvano (PV) - que de opositor ferrenho da gestão de Marta Suplicy (2001/2004) passou a ser um dos mais fiéis e confiáveis aliados do PT.
Se não bastasse a declaração infeliz do secretário Jilmar Tatto (irmão de dois vereadores da bancada petista: o novato Jair Tatto e o líder do governo na Câmara, o veterano Arselino Tatto), foi ele próprio o responsável e signatário dos contratos de transporte ainda em vigor, licitados na gestão de Marta Suplicy, continuados nas administrações de José Serra e Gilberto Kassab, e que seriam submetidos à nova licitação agora, pelo prefeito Fernando Haddad, cancelada ontem por alegada "falta de transparência". Vai entender...
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