segunda-feira, 4 de junho de 2007

Juca Kfouri: ´Ser de esquerda hoje parece palavrão´

Mais uma contribuição inédita do Blog do PPS/SP para a Conferência Caio Prado Júnior, painel de debates sobre a esquerda democrática, suas características e o seu projeto transformador para o Brasil, em homenagem ao centenário de nascimento do historiador marxista Caio Prado Júnior (1907-1990).

Juca Kfouri (foto), 56 anos, 36 de jornalismo, é formado em ciências sociais pela USP. Foi diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994).

Participou do programa Cartão Verde, da TV Cultura, entre 1995 e 2000, e apresentou o Bola na Rede, na Rede TV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Atualmente está na ESPN-Brasil, onde participa do programa Linha de Passe e comanda o Juca Entrevista.

Desde 2005 é colunista da Folha de S.Paulo - onde já havia trabalhado de 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!. Apresentou um programa de entrevistas na CNT/Gazeta, Juca Kfouri ao Vivo, entre 1996 e 1999. Colunista de futebol de O Globo (1989 a 1991) e apresentador, desde 2000, do programa CBN Esporte Clube, na rede CBN de rádio.

É autor de "A Emoção Corinthians", "Corinthians Paixão e Glória" e "Meninos eu Vi". Juca Kfouri ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Informação Esportiva), em 1991, com a equipe da Placar; sete Prêmios Abril de Jornalismo; e dois Prêmios Comunique-se (imprensa escrita e TV) em 2004.

Acompanhe a entrevista exclusiva com Juca Kfouri:

Na sua opinião, Juca, o que é ser de esquerda hoje no Brasil?

Ser de esquerda no Brasil é permanecer na luta pela inclusão dos excluídos e não deixar de denunciar a hipocrisia da sociedade brasileira.

Para o eleitorado, ainda existe uma diferença clara entre esquerda, centro e direita?

Cada vez menos, na medida em que estrelas do petismo cometeram um crime não apenas contra suas biografias, mas, sobretudo, contra os que lutaram para derrubar a ditadura militar.

Por que os partidos políticos vivem hoje uma crise de identidade?

Porque, na verdade, quando chegam ao poder mostram que não têm identidade.

Qual a importância da Conferência Caio Prado Júnior, realizada para discutir a esquerda democrática e um projeto para o Brasil?

Gostaria de acreditar que possa ter o papel de refundar um pensamento de esquerda no país, algo que parece ter virado palavrão.

O PT, considerado o maior partido da esquerda no Brasil, construiu uma ampla aliança partidária para exercer o poder e se viu envolvido em denúncias de corrupção e escândalos. Estes fatos podem trazer alguma consequência para os partidos de esquerda hoje e no futuro?

O PT revelou-se tão conservador e medíocre, além de corrupto, que, na verdade, provou ser apenas uma corrente sindicaleira que tudo faz para ter poder e ponto final. Seus métodos lembram o que houve de pior no chamado peronismo de direita e de esquerda.

As políticas assistenciais do governo Lula, que tem o Bolsa-Família como carro-chefe, são eficazes no combate à pobreza e à miséria? Essas medidas podem ser consideradas políticas de esquerda? Por que?

Têm sido inegavelmente eficazes eleitoralmente e, neste aspecto, banca o avestruz quem não admite que significou um passo adiante em relação ao governo tucano. Mas não são políticas de esquerda, entre outras razões porque desprovidas de quaisquer aspectos educativos, ideológicos ou de conscientzação.

A reforma política que se discute no Congresso propõe mudanças pontuais, como maior rigor na fidelidade partidária, introdução de listas partidárias fechadas nas eleições, financiamento público de campanha, cláusula de barreira etc., além de colocar em debate temas como o voto distrital e o parlamentarismo. Qual a sua opinião sobre a reforma?

Em primeiro lugar, o Parlamentarismo seria um avanço em nossos usos e costumes. A fidelidade partidária é de uma tal obviedade que custa a crer que ainda a estejamos discutindo. Apóio a idéia do voto distrital, só imagino listas fechadas depois que houvesse de fato uma reforma dos partidos que nos permitisse confiar neles e gosto da idéia do financiamento público, desde que sob controle de conselhos da sociedade, como uma agência reguladora, sem nenhuma participação de governos.

Após 8 anos desta gestão, o que restará para o esporte nacional com as realizações da dobradinha PCdoB / PT no Ministério do Esporte? Onde o país avançou? Onde retrocedemos? O que poderia ter sido diferente?

Esta aliança foi um engodo. Continuamos a não ter uma política esportiva no Brasil. O Ministério virou correia de transmissão do PCdoB e não houve nenhuma ruptura com a visão elitista, coronelista e profundamente corrupta que caracteriza a superestrutura do esporte nacional.