Segundo Lula e suas matáforas, a PF se preparava para encontrar um cardume de pintados e acabou arrastando na rede, meio sem querer, um peixe pequeno: "O Vavá, nessa história, me parece mais um lambari que foi pego", compara Lula. "Qual é a vantagem? É um lambari especial porque é irmão do presidente."
Lula acrescentou: "Se vocês conhecerem o Vavá, ele está mais para ingênuo do que para lobista."
É verdade. Tudo isso só leva a crer uma coisa: da família, o único que não pode alegar nem ingenuidade, nem inocência, é Lula.
Tanto Genival Inácio da Silva, o Vavá, como José Ferreira da Silva, o "Frei" Chico, parecem ser gente do bem. O primeiro, talvez um pouco mais deslumbrado com o irmão presidente, disposto a faturar "uns dois pau pra eu", como chegou a pedir em algumas gravações. O segundo, um sujeito mais politizado, centrado.
O irmão Chico (que ganhou o apelido de "frei" incorporado ao nome pela calvície típica no topo da cabeça) foi o "culpado" pela entrada de Lula no meio sindical e, conseqüentemente, na política.
Ex-militante do PCB, vítima de três infartos recentes, vem atuando ultimamente como elo entre o irmão presidente e o restante da família.
Foi assim, por exemplo, quando Frei Chico foi incumbido de organizar a ida da família do então presidente eleito do país para a cerimônia de posse, em Brasília, em 1º de janeiro de 2003.
O mesmo aconteceu em janeiro de 2005, quando um dos irmãos mais novos dos dois, Odair Inácio de Góes, morreu de infarto. Coube a Frei Chico avisar o presidente, que estava em viagem oficial na Colômbia. Contou a notícia para Lula, de quem ouviu uma reclamação por não ter sido avisado antes. Depois, representou o irmão na cerimônia de enterro.
Ainda que o contato pessoal entre os dois seja raro, como diz a família de Frei Chico, ele é mais freqüente do que com os demais parentes - nas contas de Frei Chico, os Silva são 19 irmãos no total, sendo que 15 estavam vivos em 2005.
Antes mesmo de Lula ser eleito presidente, Frei Chico falava sobre a distância do irmão. "A gente fala mais besteira. De política, só o necessário. Lula é da família uma vez por mês, a vida do Lula não pertence mais a ele", disse em junho de 2002.
Na biografia escrita pela jornalista Denise Paraná, Lula diz que sua ligação com Frei Chico é apenas "biológica". "Ou seja, um negócio evidentemente de irmão para irmão. Não tinha nenhuma afinidade política com Frei Chico", afirmou, no livro publicado em 1996.
Até a criação do PT foi alvo de críticas de Frei Chico. Para ele, Lula fazia o jogo da burguesia e contribuía para a divisão da esquerda. E não é que o cabra estava certo?
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