A Globo registrou o evento e informou: mais de um milhão de pessoas na Marcha para Jesus (depois passou a falar em "uma multidão"). Os sites de notícias chutavam online cerca de 3,5 milhões. A organização falou em "mais de 4 milhões". A Polícia Militar de São Paulo cravou: 3 milhões de pessoas.
Alguém é muito ruim de conta. Porque um público estimado variar em 300%, quando isso significa uma diferença de 3 milhões de pessoas, ou 1/4 da população paulistana, é um verdadeiro absurdo.
Mas, enfim, "mais de um milhão" foi o público do evento coordenado pela Igreja Renascer em Cristo, fundada pelo casal Estevam e Sonia Hernandes. Em visita recente ao Brasil, o papa Bento 16 reuniu 800 mil católicos na missa do Campo de Marte, cerimônia com o maior número de fiéis. A comparação é inevitável.
Este foi o primeiro ano em que o apóstolo Estevam e a bispa Sonia (nos auto-nomeados cargos da hierarquia da Renascer) não estiveram presentes na marcha, que está em sua 15ª edição. Eles cumprem prisão domiciliar desde 9 de janeiro (sob acusação de contrabando, conspiração e falso testemunho, após tentarem entrar nos Estados Unidos com dólares não declarados) e apareceram em telões, via satélite, vestidos com roupas da marcha.
O cálculo dos donos da Renascer para o público foi bem mais otimista: 6 milhões de pessoas. "O Brasil será o maior país evangélico do mundo, porque Deus determinou", afirmou Estevam, direto dos EUA.
Não se referiram, em nenhum momento, à prisão. Mas membros da Renascer ofereciam um abaixo-assinado aos presentes em prol dos fundadores da igreja. O texto ratificado pelas assinaturas, em inglês e português, garante que a pessoa sabe do dinheiro não-declarado pelo casal ao entrar nos EUA e do processo.
O abaixo-assinado também afirma: "Acreditamos em Sonia e Estevam Hernandes. Eles são nossos guias e líderes espirituais. Nós fomos confortados e encontramos a paz e o amor de Deus com a ajuda deles. Nós esperamos ansiosamente pela direção e ministrações deles pelos próximos anos".
O bispo e deputado estadual José Bruno (DEM-SP), que responde provisoriamente pela Renascer no Brasil, declarou que as assinaturas não serão usadas para pressionar autoridades brasileiras ou americanas. "É só demonstração de carinho aos nossos fundadores."
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM-SP) e o vice-governador do Estado, Alberto Goldman (PSDB), também passaram pela marcha.