terça-feira, 5 de junho de 2007

Konder: ´Devemos apontar caminhos para o futuro´

Rodolfo Konder, 69 anos, é jornalista, escritor, professor, tradutor e conferencista. Nascido em Natal (RN), foi criado no Rio de Janeiro e se estabeleceu em São Paulo após o AI-5.

Dirigente sindical na Petrobrás, entre 1961 e 1964, fundou o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Petro-química, em Caxias, em 1963. Foi demitido da Petrobrás e cassado, em seguida ao golpe de 1964, exilando-se no México e depois no Uruguai.

De volta ao Brasil, em 1965, tornou-se jornalista. Foi repórter de O Dia e A Notícia, redator da Agência Reuter, editor internacional de O Paiz, redator da revista Realidade, editor internacional da revista Visão.

Em 1975, ainda na Visão, foi preso no DOI-CODI; fora da prisão, denunciou publicamente as torturas então praticadas lá dentro (inclusive contra seu amigo Vladimir Herzog, assassinado pela repressão) e foi novamente para o exílio, desta vez no Canadá e, depois, nos Estados Unidos.

Foi professor de jornalismo, durante cinco anos, na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP); foi diretor das Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAM) durante um ano; fez palestras e conferências no Brasil e no exterior, sempre sobre temas relacionados ao jornalismo, à liberdade de expressão e à luta pela democracia.

De volta do segundo exílio, no final de 1978, foi um dos fundadores da Anistia Internacional no Brasil, sendo eleito vice-presidente e presidente da Seção Brasileira, nos anos 80. Participou de vários Congressos, no Brasil e no exterior, cumpriu missões diplomáticas na Guatemala e nos Estados Unidos.

Trabalhou durante um ano como Coordenador de Difusão da extinta Secretaria de Comunicação do Governo Franco Montoro.

De janeiro de 1993 a dezembro de 2000, ocupou em São Paulo o cargo de Secretário Municipal de Cultura. Foi o único Secretário, na história da Secretaria, a permanecer por oito anos no cargo.

Além disso, foi conselheiro da Fundação Padre Anchieta, presidente da Comissão Municipal para as comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, e diretor da Bienal de São Paulo. É Diretor Cultural da UniFMU, diretor do MASP e conselheiro da UBE.

Acompanhe a entrevista exclusiva de Rodolfo Konder ao Blog do PPS/SP:

Na sua opinião, Konder, o que é ser de esquerda hoje no Brasil?

Ser de esquerda é defender os Direitos Humanos consagrados na Declaração Universal da ONU, defender a Democracia, a Liberdade e a igualdade de oportunidades, especialmente nos campos da educação e do trabalho. Sem nostalgias.

Para o eleitorado, ainda existe uma diferença clara entre esquerda, centro e direita?

A diferença parece cada dia mais tênue.

Por que os partidos políticos vivem hoje uma crise de identidade?

Porque não souberam compreender as mudanças, nem respeitar valores éticos essenciais, nem incorporar novos temas como o aquecimento global, por exemplo.

Qual a importância da Conferência Caio Prado Júnior, realizada para discutir a esquerda democrática e um projeto para o Brasil?

É uma iniciativa louvavél, importante, que nasce com a respeitabilidade do PPS. Talvez aponte um caminho. Talvez.

O PT, considerado o maior partido da esquerda no Brasil, construiu uma ampla aliança partidária para exercer o poder e se viu envolvido em denúncias de corrupção e escândalos. Estes fatos podem trazer alguma consequência para os partidos de esquerda hoje e no futuro?

A falência do PT, a filosofia, a corrupção, tudo terá consequência para um naufrágio mais acelerado de alguns setores da esquerda.

As políticas assistenciais do governo Lula, que tem o Bolsa-Família como carro-chefe, são eficazes no combate à pobreza e à miséria? Essas medidas podem ser consideradas políticas de esquerda? Por que?

O assistencialismo do Governo não é eficaz, nem deve ser considerado como uma política de esquerda, porque não representa soluções definitivas nem aponta caminhos para o futuro.

A reforma política que se discute no Congresso propõe mudanças pontuais, como maior rigor na fidelidade partidária, introdução de listas partidárias fechadas nas eleições, financiamento público de campanha, cláusula de barreira etc., além de colocar em debate temas como o voto distrital e o parlamentarismo. Qual a sua opinião sobre a reforma?

Sabemos todos que a reforma é necessária. As propostas em discussão são pontuais, mas significam um avanço. Um avanço insuficiente, no entanto.


Saiba mais:

Leia aqui o depoimento de Rodolfo Konder ao Museu da Pessoa.