FERNANDO RODRIGUES *
A pesquisa nacional CNT/Sensus divulgada ontem traz um dado a respeito do pensamento do brasileiro médio: 57,9% dos entrevistados responderam ser a favor de "censura prévia a programas de TV". Outros 35,9% são contra. Só 6,3% não opinaram.
A pergunta foi clara e direta: "O sr. é a favor ou contra a censura prévia a programas de TV?". Há duas hipóteses principais para esse apoio à censura prévia. Ambas são desalentadoras.
A primeira possibilidade é simples e óbvia. Muitos não entenderam a pergunta. Não possuem ferramental cognitivo suficiente para interpretar o significado completo da expressão "censura prévia". Sem surpresas. Aqui é o Brasil. Fazemos campanha para eleger o Cristo Redentor uma maravilha da humanidade, mas o nível educacional continua pré-histórico.
A segunda hipótese é ainda pior.
Muitos responderam de maneira convicta. Preferem um censor assistindo a tudo antes de os programas irem ao ar. Em resumo, saudades do nhonhô (no cenário atual, o Estado) assumindo todos os riscos e tomando as decisões.
A terceirização da responsabilidade fica explícita em outro trecho da pesquisa. Só 38% se dão ao trabalho de selecionar os programas de TV vistos pelos filhos. Repassar o serviço ao sensor é mais cômodo.
Ricardo Guedes, diretor do Sensus e coordenador da pesquisa, acrescenta uma explicação: "Esse apoio à "censura" também apareceu num levantamento anterior. Relaciona-se a uma preocupação com o nível geral das TVs. Mas sem dúvida revela um traço conservador já conhecido do brasileiro".
Em resumo, a inexistência da liberdade de escolha como um valor disseminado na sociedade. Brasil.
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Em tempo: a mesma pesquisa mostra aprovação de 64% para o desempenho pessoal de Lula.
* Fernando Rodrigues, jornalista, desde 1987 na Folha de S. Paulo, foi repórter, editor de Economia, correspondente em Nova York (1988), Tóquio (1990) e Washington (1990-91). Na Sucursal de Brasília da Folha desde 1996, assina a coluna Brasília, na página 2 do jornal, às segundas, quartas e sábados.