Bicho papão, mula sem cabeça, boi da cara preta, homem do saco... Nada disso parece mais aterrorizador para uma criança do que os teletubbies. Invenção da BBC de Londres para ser um programa cultural dedicado a crianças de 2 a 5 anos de idade, virou um sucesso retumbante em mais de 20 países.
"De novo! De novo!" parece ser a única frase inteligível dos teletubbies, esses seres indecifráveis e insuportáveis.
Os teletubbies conhecidos eram quatro: Tinky Winky, Dipsy, Laa-laa e Po. O primeiro, aliás, sempre foi considerado "suspeito", por ser lilás, carregar uma bolsa vermelha e o símbolo triangular do movimento gay na cabeça. Suspeição à parte, surge um novo teletubbie: o Trustee.
Trustee Mangabeira. De novo! Este também é suspeito. De novo! É só o que se ouve falar. De novo! Vai tomar posse amanhã... De novo!
Ao menos aprendemos um termo do vocabulário jurídico como "trustee", que é uma espécie de agente de confiança comercial. Ficamos sabendo que Mangabeira Unger atuou como consultor e trustee da Brasil Telecom (BrT), quando era controlada pelo Banco Opportunity.
Ok, você ainda não entendeu o que é um trustee. Nem eu. Mas basta saber que Mangabeira recebeu cerca de US$ 2 milhões (!!!) como trustee para gerenciar as ações judiciais da Brasil Telecom contra a Telecom Italia e os fundos de pensão.
"De novo! De novo!"
Desta forma, a essência do seriado é o (des)prazer evidente que o telespectador têm de assistir as coisas duas ou mais vezes.
O governo Lula é o pai dos teletubbies. O episódio do trustee Mangabeira é só mais uma de suas repetições constantes. A imprensa noticia que Mangabeira vai ser ministro! De novo! E avisa que a posse foi adiada. De novo!
E o Brasil, feito as crianças apopléticas que ficam paradas na frente da TV, assiste a um seriado em que só acontecem coisas repetidas, em que tudo é mostrado inúmeras vezes. Da posse do ministro aos casos de corrupção.
Os teletubbies repetem, repetem e repetem as suas mensagens subliminares de forma tão insistente que criaram um limbo temporal. A humanidade ficará eternamente presa à era Lula. Nunca antes neste país se viu tamanha hipnose. O episódio da reeleição foi uma pequena amostra. O eleitorado - em transe - repetiu: "De novo! De novo!".
E de novo diz-se que complicou a nomeação de Mangabeira Unger para um cargo de ministro no governo Lula.
Agora é uma carta de Mangabeira, em que o trustee e ex-futuro ministro (ou futuro ex-ministro) dá a entender, na avaliação de assessores do presidente Lula, que praticaria, no cargo de ministro, tráfico de influência, uma vez que ele admite que sua presença no Brasil geraria benefícios ao "Trust" (o empregador do trustee), ou seja, à Brasil Telecom.
Diz trecho da carta: "(...) o professor acredita que disporá do tempo necessário para se desincumbir de suas responsabilidades como Curador e que, de fato, suas permanências mais freqüentes no Brasil poderão ecoar em benefício do 'Trust'."
O jornal Valor Econômico de hoje revela que a carta irritou a cúpula do governo por duas razões. Primeiro, por causa do desejo de Mangabeira Unger de permanecer como trustee da BrT, uma decisão que contraria exigência feita pelo Palácio do Planalto para que ele assuma o cargo de ministro. Além disso, provocou forte estranhamento, no governo, o fato de ele ter dado a entender, na carta ao juiz americano, que sua presença no governo de alguma forma ajudaria a BrT.
As idas e vindas do professor também irritaram o presidente Lula. Mangabeira, lembra o jornal, foi convidado a assumir o cargo de ministro no dia 20 de abril. Ele pediu um tempo para se licenciar de Harvard e, dez dias depois, entrou com ação na Justiça americana contra a BrT, exigindo direitos que lhe teriam sido negados nos últimos dois anos. A ação incomodou o governo porque três fundos de pensão ligados a empresas estatais são acionistas da BrT.
De concreto, mesmo, até agora, só a mudança do nome da Pasta: passou a ser Secretaria Especial de Planejamento Estratégico (Seple) em vez de Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo (Sealopra). Por que será?
Leia aqui mais sobre Mangabeira. De novo! De novo!