quarta-feira, 11 de abril de 2007

Direita e esquerda: para refletir

Um artigo interessante do jornalista Fernando de Barros e Silva, publicado segunda-feira na Folha de S. Paulo, questiona o que é ser esquerda e direita hoje em dia na política. Vale a pena ler e refletir.


(acima, arte de Roberto Fernandez)


Política sinistra

Fernando de Barros e Silva


Não pode haver nada em comum entre o finado PFL e o partido da Democracia de Esquerda italiano - o DS (Democratici di Sinistra). Não podia.

Assim como o PFL virou Democratas, o DS vai mudar de nome: entre 19 e 21 próximos, realiza em Florença seu congresso para formalizar a fusão com o Margherita, de origem católica, da qual nascerá o Partido Democrático - ponto. Adeus, "sinistra".

O herdeiro político do PC italiano, por muito tempo a maior e mais importante organização comunista da Europa, apagará a "esquerda" de sua identidade, sob os aplausos do primeiro-ministro Romano Prodi. Todos agora são "democratas".

Sim, é só uma coincidência. Mas a convergência inusitada entre "ex-comunistas" italianos e "ex-liberais" nativos rumo a um centro indiferenciado no espectro político fala algo à imaginação.

Não se trata de comparar alhos com bugalhos. A trajetória do antigo PCI está ligada ao reformismo social e à defesa da democracia, tendo às costas o fantasma do fascismo e à frente o palco da Guerra Fria.

Nossos Democratas nasceram da costela da ditadura, como dissidência da Arena, e muitos de seus líderes ainda são a memória viva do coronelato político. Nem o PCI era comunista à maneira soviética nem o PFL jamais foi liberal de verdade.

Seja como for, em ambos os casos, o esforço de "desideologização", a busca pelo lugar-comum democrático, sem maiores especificações, tudo enfim joga água no moinho dos que apostam na irrelevância crescente da política e no esgotamento dos partidos como catalisadores de demandas coletivas e veículos de transformação social.

Também a antiga esquerda européia vai se rendendo à pauta do individualismo possessivo, de matriz norte-americana. Aqui e acolá, os novos democratas são mais um epifenômeno do conservadorismo mundial que se propaga em ondas desde os anos 80. No Brasil, o pragmatismo sem remorsos nem medo de ser feliz do governo Lula exprime melhor que o DEM o que há de sinistro nessa nova política.