quinta-feira, 5 de abril de 2007

Até o Papa está mais à esquerda de Lula

O Papa Bento XVI, em livro que será lançado no dia 16 (quando completa 80 anos) e às vésperas da sua viagem ao Brasil, critica os países ricos que, "ávidos por poder e lucro, pilharam e saquearam sem piedade a África e outras regiões pobres, exportando o cinismo de um mundo sem Deus".

O Papa cita Marx e também condena o tráfico de drogas e o turismo sexual, sinais de um mundo de "gente vazia cercada por abundância material".

Nas 400 páginas do livro "Jesus de Nazaré", Bento XVI oferece uma aplicação moderna da parábola do bom samaritano, que ajuda a vítima de um assalto.

"A atual relevância da parábola é óbvia", escreve o pontífice. "Se a aplicarmos às dimensões da sociedade globalizada de hoje, vemos como as populações da África foram pilhadas e saqueadas, e isso nos preocupa demais."

O alemão Joseph Ratzinger, que já se manifestara antes contra os efeitos do colonialismo, disse que os países ricos também causaram prejuízos espirituais aos pobres, por tentarem desmerecer ou eliminar suas tradições culturais e religiosas.

"Ao invés de lhes dar Deus, o Deus próximo a nós em Cristo, e de saudar em suas tradições tudo o que é precioso e grande, levamos a eles o cinismo de um mundo sem Deus, onde só o poder e o lucro contam."

O Papa disse que seus comentários valem não só para a África. Aparentemente, trata-se de uma autocrítica à Igreja, cujas atividades missionárias muitas vezes ocorriam de mãos dadas com o colonialismo.

"Destruímos os critérios morais até o ponto de que a corrupção e a cobiça por poder vazio de escrúpulos se tornaram óbvios."

Talvez Lula tenha algo a aprender.