Soubemos pelos jornais de hoje que Mangabeira Unger, professor de Direito da Universidade de Harvard e palpiteiro-mor da política com status de guru brazilianista, assumirá uma tal Secretaria de Ações Especiais de Longo Prazo, a convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Burocraticamente a pasta deve reunir o Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) - que já foi comandado pelo ex-ministro Luiz Gushiken - e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), atualmente no organograma do Planejamento.
Na prática, Lula cala mais um dos seus críticos, que outrora afirmava que "o governo Lula é o mais corrupto de nossa história", e o põe para pensar "a longo prazo", ou seja, ações de 2014 a 2022 (quando Lula sonha encerrar seu quarto mandato, eleito e reeleito após um intervalo de quatro anos entre 2010 e 2014).
Nesse mirabolante exercício de futurologia, Lula acertou em cheio. Nada melhor que Mangabeira Unger, o brasileiro com sotaque de Henry Sobel (leia aqui o artigo "O sotaque de Mangabeira Unger", escrito em 2002, ainda durante a campanha de Ciro Gomes).
A aproximação de Lula começou durante a campanha presidencial do ano passado. Mangabeira Unger é vice-presidente do PRB, braço político da Igreja Universal do Reino de Deus, partido ao qual o vice de Lula, José Alencar, é filiado.
Antes disso, Mangabeira escreveu na Folha de S. Paulo (onde tem espaço semanal cativo, na nobre página de articulistas), em 2005: "Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. Corrupção tanto mais nefasta por servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e das agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos". Estava certo.