"O PSDB perdeu o rumo". Com essa declaração, Zulaiê Cobra Ribeiro anuncia seu desligamento, após 19 anos, e diz que tucanos estão distantes do "pulsar das ruas".
Ex-deputada federal e suplente do candidato Guilherme Afif Domingos (DEM) na chapa ao Senado com José Serra governador e Geraldo Alckmin presidente, em 2006, Zulaiê se diz decepcionada com a maneira que a legenda tem feito oposição.
"O PSDB perdeu o rumo, estamos distantes do pulsar das ruas. Não saí candidata a mais um mandato porque ia sair do PSDB. Vou me filiar a um partido pequeno, vou começar tudo de novo", diz.
Uma das opções de Zulaiê é o PPS. Há um diálogo com a direção do partido, mas outras legendas também oferecem a possibilidade de Zulaiê se lançar candidata à Prefeitura de São Paulo em 2008. Ela ainda estuda o caminho mais viável.
As principais críticas de Zulaiê são em relação à atuação do PSDB nacionalmente. "Tenho visto o encaminhamento de algumas ações que me desagradam. Quando a gente lê reportagens falando de acordos entre Serra e Lula, ouve que o Tasso Jereissati foi conversar com o Lula sem ter motivo, enfim, me sinto mal com tudo isso".
Ela lamenta as dificuldades do partido em consolidar a CPI do Apagão Aéreo. "O PSDB está muito subserviente, muito pouco demonstrador de forças. Eu lutei muito na CPI do Mensalão e agora vemos a volta de vários deputados que deveriam ter sido cassados e não foram, a absolvição de vários deles. Temos que fazer uma oposição mais radical, como o PT fazia quando era oposição. Uma oposição diária, com posições mais sérias, que fiscaliza."
Advogada criminalista, Zulaiê começou sua carreira na política como vereadora em São Paulo e depois assumiu três mandatos consecutivos como deputada federal. "Vou buscar agora um partido pequeno independente. É difícil porque os poucos que temos em São Paulo são muito ligados ao Serra e ao Kassab ou ao Lula", afirma.
Serra x Alckmin
Zulaiê também reclama do racha interno que existe no PSDB. "Por que o Geraldo Alckmin perdeu milhões de votos no segundo turno (caindo de 39,9 milhões no primeiro turno para 37,5 no segundo)? Ninguém explica. A má vontade do PSDB no segundo turno foi evidente. Por que o material de campanha não chegava? São questões internas do partido."
"A gente vê essas situações entre Geraldo e Serra. Parece que o Serra jamais gostou que o Geraldo tenha sido candidato. Não sei se ele ganharia, mas era a vez dele. Houve esse desgaste. Essas questões nos levam a uma situação difícil", conclui a ex-deputada, que avalia que o melhor momento do candidato tucano na disputa à presidência foi quando ele adotou um tom mais agressivo.
"Achei ótimo. Foi o melhor posicionamento do Geraldo, depois disso ele enfraqueceu, ficou falando que dava aula de madureza, ficou falando igual o Lula, que já foi pobre. Aquele discurso foi um discurso bom. É claro que muita gente não gostou, falou que ele foi radical. Mas nós temos que ser radicais", argumenta. "O PSDB em 2005 e 2006 não foi um PSDB radical e hoje se distancia mais ainda daquilo que são nossos ideais."
Apesar das críticas ao partido, Zulaiê se diz emocionada com a despedida. "Foi muito sentido, muita gente veio ao meu encontro, muitos até choraram. Sinto que meus amigos ficaram muito triste. Gosto do PSDB, gosto de meus companheiros. Saio de cabeça erguida."