segunda-feira, 5 de março de 2007

Artigo: O Resgate da Esquerda

Segue abaixo um artigo de Alberto Aggio, mestre em História pela USP e Professor da UNESP / Franca, especialmente para a Conferência da Esquerda Democrática "Caio Prado Júnior", convocada pelo PPS.

O principal campo de investigação de Aggio é o problema da democracia e da política na América Latina. Sua intervenção na reunião preparatória da Conferência, na segunda-feira passada, foi bastante lúcida e construtiva neste sentido.

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O RESGATE DA ESQUERDA

Alberto Aggio

Vivemos um momento no qual a dificuldade das pessoas em se relacionarem com a política é imenso. As razões são variadas, mas no geral se reportam à descrença quase que integral em relação aos partidos políticos e seus representantes. A sociedade está descrente com a política e é natural que prefira se afastar dela. Para os setores de esquerda essa situação é dramática porque a razão da sua política repousa na participação das pessoas, especialmente dos setores subalternos, e na possibilidade de que elas possam ver suas dificuldades cotidianas equacionadas e superadas. No caso brasileiro, a anulação da política significa a desconstrução progressiva da sociedade. Esta pode ser mencionada como uma das causas da violência que assola nosso dia-a-dia.

A incapacidade dos partidos políticos de atuarem sobre a realidade do país para modificá-la e, especialmente, a perda de referências da esquerda impõem o desafio de apresentar à sociedade uma nova proposta de desenvolvimento para o país. Uma proposta que possa ser concretamente apresentada por meio do resgate da idéia de que a política pode recuperar a noção de nobreza que ela possui e também que, do ponto de vista concreto, ela deve gerar consensos em torno de reformas sociais, políticas, econômicas e culturais que se tornam absolutamente necessárias nos dias que correm. A eliminação da política em nome dos interesses ou a política feita exclusivamente para responder a interesses resulta na perda da noção de universalidade e humanidade que está na idéia de civilização.

Nesse momento é preciso reunir, debater, refletir e formular. Depois da democratização do país, as principais forças políticas que nasceram com a luta democrática – PMDB, PSDB e PT – já estiveram no poder, mas a realidade do país não se modificou substantivamente, a não ser a partir da própria dinâmica social, ou seja, independentemente da intervenção dos poderes públicos. Talvez por isso não tenhamos um crescimento econômico significativo em comparação com outros paises emergentes. Nenhum dos partidos políticos existentes foi capaz de resolver os problemas que afligem a sociedade. Depois de algumas mudanças importantes do ponto de vista institucional comandadas pelo PMDB no primeiro governo de transição e do controle da inflação estabelecido pelo PSDB no governo de Fernando Henrique Cardoso, nada de mais substantivo se fez no cenário nacional. Nos últimos anos o Brasil cresceu de forma pífia e a conflitualidade social respondeu diretamente a esse desempenho como a explosão de violência que nos cerca diariamente. Não faltam motivos para que as pessoas se reúnam e busquem o resgate da política e com ela respondam à necessidade de o país buscar um novo modelo de desenvolvimento que possa assentar uma nova política de reformas para a sociedade brasileira. Além da elaboração de diagnósticos é preciso também debater o que fazer.

Há elementos da crise que vivemos que são mundiais e não apenas nacionais. Há questões que precisam ser superadas que são bastante velhas e há problemas novíssimos que ainda não divisamos suas soluções. Se as forças sociais representativas da conservação e do atraso ainda pensam que o mundo poderá continuar a ser como era antes e que o impulso individual voltado para si mesmo é a única forma de se sair desse impasse, elas apostam num desastre anunciado e de proporções desconhecidas.

O Brasil encontra-se prisioneiro de uma armadilha insólita: tem um governo conservador capitaneado por um partido que tem sua origem na esquerda, mas que não tem governado nessa direção. No campo da esquerda há um cenário novo que pode ser promissor. O PPS (Partido Popular Socialista) está oferecendo à sociedade, por intermédio da Conferência da Esquerda Democrática Caio Prado Jr. (para maiores informações ver www.pps.org.br) um espaço para a sociedade debater e formular o que é ser de esquerda e qual deve ser o projeto de uma esquerda democrática para o Brasil. Por meio dessa iniciativa de resgate da política, esse espaço, plural e suprapartidário, quer articular as pessoas interessadas em perguntar sobre os dilemas da esquerda no Brasil e no mundo. É nele que muitos brasileiros poderão ajudar a formular um novo projeto de desenvolvimento para o pais e uma nova identidade para a esquerda.