Nunca se viu tanta polícia em São Paulo. A cidade parou. No trajeto de cerca de 50 km percorrido pela comitiva do presidente George W. Bush, do aeroporto de Guarulhos até o Hotel Hilton do Morumbi, havia um carro da polícia estrategicamente colocado em cada cruzamento e sobre cada ponte, sinalizador giroflex ligado, iluminando a noite e o trânsito completamente engarrafado.
Tudo para inglês ver. Ou melhor, para norte-americano não ver. Em menos de 24 horas no país, Bush não conheceu o caos e a violência paulistana, nem viu 10 mil pessoas nas ruas protestando contra a sua visitinha.
Devemos poupar o dono do mundo de enfrentar um congestionamento com seu comboio de guerra. Ordene-se, portanto, que se abra o caminho para Bush na caótica metrópole tupiniquim como se abriu o Mar Vermelho para Moisés.
É isso. São Paulo era ontem à noite um mar revolto, avermelhado. Vermelho dos carros parados nos congestionamentos. Vermelho das luzes da polícia. Vermelho das bandeiras de protesto. Vermelho de vergonha de um país que ainda se curva ao imperialismo (sem nenhum ranço anti-americano neste comentário, no pior estilo do "Yankees go home").
Todos os acessos às principais vias foram bloqueados. Ontem à noite e hoje, São Paulo parou à força, com seus 10 milhões de habitantes, para assistir Bush passar.
O cidadão comum fica pensando como São Paulo seria no dia-a-dia se houvesse tanto policiamento ostensivo.