O senador Fernando Collor participa hoje, às 18h, no Palácio do Planalto, de uma inusitada reunião da bancada do PTB com o presidente Lula, marcando sua volta triunfal ao núcleo do poder.
É a primeira vez que Collor subirá a rampa do Planalto depois de renunciar à Presidência da República, em 1992, na tentativa frustrada de escapar do impeachment.
Também é a primeira vez que vão se encontrar, após 17 anos da derrota de Lula para Collor, no segundo turno de 1989, que teve lances vexatórios, como a edição collorida do debate presidencial no Jornal Nacional e a denúncia covarde que revelou a existência de Lurian, filha indesejada de Lula com a enfermeira Miriam Cordeiro (foto).
O mundo dá voltas. Quem diria? Collor, hoje, faz parte da base aliada de Lula. Mais que isso: apoiou entusiasmado a reeleição do candidato do PT e será recebido com todas as honras pelo presidente.
Há uma década, Collor era o inimigo nº 1 do PT e de quem defendia a ética na política e a moralidade pública. Agora, passados episódios como mensalão, valerioduto, dólar na cueca etc., o réu confesso Collor praticamente recebe um salvo-conduto no retorno ao Planalto, pela porta da frente. Era peixe pequeno no meio de tanto tubarão arrastado na rede de corrupção.
Em 15 de março, no seu primeiro discurso como senador, o ex-presidente Fernando Collor já havia dado a sua singular versão sobre o processo de impeachment, que considerou uma "grande farsa" e uma "sucessão de afrontas ao Estado democrático de Direito".
Collor, com ajuda da base governista e (surpresa!) até da oposição, tenta reescrever a História, posando de vítima, como se o povo não tivesse memória e todos os políticos fizessem parte da mesma corja.
Tudo porque o Senado, que cassou seus direitos políticos em 1992, praticamente o absolveu politicamente há uma semana, após três horas e meia de pronunciamento, com alguns senadores (e o próprio Collor) chegando às lágrimas em alguns momentos. O ex-presidente recebeu apoio de 15 senadores que o apartearam, entre eles o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), o líder tucano Arthur Virgílio (AM) e Romeu Tuma (PFL-SP).
Collor mencionou supostos "abusos" cometidos pela CPI que investigou o esquema PC Farias e "atropelos" resultantes da falta de apoio que possuía no Congresso. Ele finalizou dizendo que não voltou para "lastimar o passado", e sim para "sepultar de vez essa dolorosa lembrança". O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que foi líder de seu governo na Câmara e o primeiro político a romper com ele, também o reabilitou: "Só a democracia proporciona um espetáculo exuberante como esse. O pronunciamento de Vossa Excelência cala fundo neste Senado."
Triste retrato deste Brasil que assiste impávido o sucateamento da política e a desmoralização das instituições democráticas.