O assunto foi levantado na reunião preparatória da Conferência da Esquerda Democrática, na semana passada, aqui em São Paulo.
Na década de 70 o que melhor traduzia a cultura do "jeitinho" era a "Lei de Gérson" (foto), eternizada a partir da propaganda dos cigarros Vila Rica, na qual o meia Gérson, da Seleção Brasileira de Futebol, era o protagonista. A vantagem original consistia em comprar o cigarro mais barato, mas a filosofia foi generalizada, com o indefectível sotaque carioca e jeito malandro de Gérson: "Você também gosta de levar vantagem em tudo, certo?"
O empresário e ex-deputado Emerson Kapaz tocou num ponto crucial: "Precisamos definir qual é a nossa identidade, quem somos nós e o que queremos construir: é o país do jeitinho, da total falta de referências e valores?", pergunta. "Hoje a referência individual do brasileiro é a do ´eu vou me dar bem´."
A Lei de Gérson teve um upgrade, está modernizada e pode ser assistida 24h na TV. O Big Brother Brasil dá aulas diárias de como se aproveitar de todas as situações em benefício próprio, sem se importar com a ética. O programa reproduz o maniqueísmo da sociedade e divide a casa falsamente entre bons e maus.
O "bom", neste caso, favorito disparado do público para ganhar o prêmio de R$ 1 milhão, é o paulista Diego Bissolatti Gasques, o "Alemão", 26 anos, já condenado em processo por agressão física, que bebe e dá escândalo, fuma sem parar, faz média com o público, posa de vítima, protagonizou o primeiro "triângulo amoroso" do reality show e conquistou uma "caipira" com a sutileza de chamá-la de "porta" (burra).