No Dia Internacional da Mulher, ao destacar a nossa presidente de honra, Maria Sallas Dib (foto), o Diretório do PPS/SP presta uma homenagem a todas as mulheres brasileiras, celebra as conquistas alcançadas e pede força e conscientização para o enfrentamento das mudanças ainda necessárias.
Com 80 anos de idade e praticamente 70 deles dedicados ao PCB e ao PPS, Maria Sallas sempre demonstrou toda a sua grandeza e a compreensão de mãe e mulher, ao receber, acolher e orientar os novos filiados sobre a história deste partido, que ela ajudou a construir com idealismo e dedicação integral.
O PPS que conhecemos hoje é fruto da vida de Maria, esta mulher de fibra, exemplo para as novas gerações. Sempre convicta da necessidade de recrutar gente de fora para o partido, dar formação ideológica e promover uma discussão política séria e otimista.
Além de integrar o Diretório Nacional do PPS, Maria é diretora do Sindicato dos Aposentados, vinculado à Força Sindical, e membro atuante do Grupo Tortura Nunca Mais.
Maria Sallas é a mulher dos “bons combates”. Começou menina ainda, com apenas oito anos de idade, trabalhando na Cooperativa de Produção e Consumo, fundada por seu pai, Orestes Sallas, numa fazenda no município de Presidente Prudente, interior de São Paulo, onde nasceu.
Em 1944, ano da Guerra, o pai de Maria seria preso por sua atuação política e a Cooperativa fechada. A família Sallas viveu então um período dificílimo, de muitas privações.
Sem dinheiro, todos aprenderam uma nova profissão: o pai virou metalúrgico. As mulheres, tecelãs de seda.
Trabalhavam o dia inteiro e à noite ainda iam para a militância, vendendo jornais e livros, e recrutando gente para a causa socialista.
Maria Sallas teve participação decisiva na histórica greve de 1953, que paralisou São Paulo por longos 30 dias.
O Sindicato das Tecelãs era o que tinha o maior número de filiadas, e Maria e suas companheiras conseguiram influenciar e paralisar outras seis categorias, decretando a greve.
Nessa época Maria chegou a pesar só 35 quilos. Apesar da fragilidade aparente, era uma fera incansável na defesa das suas idéias. De manhã, fazia piquete nas fábricas e, à noite, reunia clandestinamente o partido na sua casa.
Para orgulho da família, Maria Sallas foi escolhida pelo Partidão para ir estudar na então União Soviética, onde se formaria em Ciências Sociais. Foi nessa viagem que conheceu sua grande paixão, o estudante brasileiro e mais tarde também destacado dirigente comunista, Khalil Dib.
Maria e Dib viveram mais de meio século exclusivamente para o partido. Moraram em várias cidades do Brasil em missão do Comitê Central, permaneceram exilados na União Soviética por quase dez anos e militaram juntos até a morte de Dib, num acidente bobo (queda da escada) após uma reunião de trabalho na antiga sede do PPS da Capital, em abril de 2002.
Maria Sallas se engajou em diversas campanhas importantes para o país, como a do “Petróleo é Nosso”, quando foi presa pela primeira vez, e da “Luta pela Paz”. Foram colhidas um milhão de assinaturas, enviadas para a ONU, contra a guerra.
Dessa época Maria guarda lembranças dolorosas de tortura e humilhação. Mesmo com uma das trompas esfaceladas num destes atos de violência, Maria realizaria anos depois o sonho de ter um filho, que viveu boa parte da infância na União Soviética e também sofreu as agruras da clandestinidade.
Em 1959, Maria e Dib foram para Goiás, em outra missão especial do Partido. Foi lá que Maria provou toda a sua dedicação à causa socialista, trabalhando meses seguidos de graça, apenas por ideal, para organizar os movimentos populares, e os sindicatos rurais e urbanos.
É desta época que contemporâneas de Maria Sallas ajudaram a escrever a história das mulheres na política brasileira: Meire Baiocchi, Eleuse Machado de Britto Guimarães, Dalísia Dolles, Glória Pilômia, que fundaram a Associação Cultural Feminina, em 1961, e organizaram vários congressos, encontros, atos e palestras.
Essa atuação em Goiás acarretaria nova prisão, mas desta vez o que marcou Maria foi a solidariedade do povo goiano: ela recebia latas de paçoca de carne, agasalhos, queijo e presentes de admiradores anônimos.
Como conta Maria: “Todas as conquistas que nós, mulheres e trabalhadoras, tivemos, foram à custa de muita luta, patada de cavalo e prisões”.
Hoje, se o trabalhador brasileiro tem 13º salário e férias, se a mulher tem direito à licença maternidade, tudo isso se deveu a um processo iniciado e vivenciado por muitas Marias. Mas esta é nossa!