Quando se elegeu vereadora pelo PT em 2004, terceira colocada em número de votos (50.989) em uma bancada que teve 13 eleitos, Soninha Francine era a queridinha do partido. O presidente Lula caminhava para a metade do primeiro mandato, com popularidade altíssima. Os inúmeros escândalos envolvendo o governo ainda não tinham estourado, mas a então prefeita Marta Suplicy disputou e perdeu a reeleição, em uma clara demonstração de que o eleitorado paulistano estava saturado do modus operandi petista.
Agora o STF decidiu que qualquer mudança partidária de um parlamentar durante o mandato só será justificada se houver alguma divergência inconciliável para não configurar infidelidade partidária. Em linhas gerais, resta ao mandatário que optou pela mudança de partido comprovar se ele foi infiel ao partido, ou se infiel foi o partido aos seus princípios.
Vejamos o caso do PT, neste intervalo entre a eleição da vereadora Soninha em 2004 e a mudança consciente de partido no final de 2007. O que aconteceu com o Partido dos Trabalhadores neste período? Por onde andaram os petistas nestes três anos? Mudou Soninha ou mudou o PT?
Basta avaliar o comportamento da bancada petista na Câmara Municipal de São Paulo a partir da posse, em 1º de janeiro de 2005: o PT se uniu ao chamado "Centrão" para eleger presidente da Casa o vereador Roberto Trípoli (PSDB) contra decisão do seu próprio partido, que tinha apresentado a candidatura de Ricardo Montoro. Aí, para o PT, a fidelidade pouco importava. Os vereadores petistas decidiram votar em peso no dissidente tucano. Apenas Soninha e Carlos Gianazzi (hoje deputado estadual do PSOL) eram contra. Começava aí uma relação tortuosa.
Vamos relacionar outros acontecimentos envolvendo nacionalmente o PT, a partir de 2004:
- Estoura o escândalo Waldomiro Diniz e o governo barra ao menos duas CPIs: a dos Bingos e a de Santo André, para investigar a morte do ex-prefeito Celso Daniel.
- Promotores movem ação contra a ONG Ágora, que teria assinado contratos irregulares com o Ministério do Trabalho. A entidade é acusada de desviar recursos por meio de notas frias.
- O PT fecha acordo para obter o apoio de Maluf em São Paulo.
- Publicação de reportagem no jornal The New York Times sobre supostos problemas do presidente Lula com a bebida. O Planalto decide expulsar do país o jornalista americano Larry Rother, mas recua após a péssima repercussão do episódio.
- O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, é acusado de evasão de divisas, entre outros crimes. O diretor de Política Monetária do BC, Luiz Augusto Candiota, é demitido por não conseguir explicar a movimentação de suas contas no exterior.
- O presidente do Banco do Brasil, Cássio Caseb, é envolvido no escândalo da compra de 70 mesas para o show da dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano, a um custo de R$ 70 mil. No show, foram arrecadados R$ 500 mil, sendo que R$ 250 mil acabaram doados ao PT.
- Lula vai ao Gabão aprender com o ditador Omar Bongo “como ficar 37 anos no poder”. O petista desfilou em carro aberto ao lado de Bongo.
- Polícia Federal executa a “Operação Vampiro” no Ministério da Saúde.
- Ministros usam assessores em campanhas eleitorais.
- Para ter o apoio do PTB, o PT ofereceu cargos, material de campanha e R$ 150 mil a cada deputado.
- O ex-presidente da Transbrasil Antônio Celso Cipriani pára a CPI do Banestado: o PT não aceita quebra de sigilo bancário de empresário ligado a compadre de Lula.
- Prefeito reeleito de Macapá, João Henrique Pimentel (PT), é preso devido a indícios de irregularidades em três obras executadas por meio de convênios entre a prefeitura e o governo federal.
- Publicitário Duda Mendonça é preso numa rinha de galos no Rio de Janeiro.
- Programa Bolsa-Família completa um ano de lançamento quebrando um recorde: em apenas três dias, 468 denúncias de fraudes chegaram ao telefone gratuito do Ministério do Desenvolvimento Social, quando a média era de três por dia.
- Justiça condena Lula a pagar multa de R$ 50 mil por pedir votos para Marta Suplicy em evento oficial.
- Lula janta com empresários – todos com negócios do governo – que patrocinarão a reforma do Palácio da Alvorada.
- Fundação Getúlio Vargas calcula: existem mais de 47 milhões de brasileiros na miséria.
- Em 2005, a revista Veja revela denúncia contra Mauricio Marinho, diretor dos Correios, filmado e gravado embolsando um pacote de dinheiro dado por um corruptor. A reportagem dá início a uma série de acusações contra pessoas ligadas ao governo e ao partido do presidente Lula.
- Governo manobra mas não consegue barrar CPI dos Correios. Mas o PT não desiste: anuncia que punirá filiados que assinaram o pedido. Na véspera, Planalto abre cofre para base.
- O deputado Roberto Jefferson, o homem-bomba, denuncia o mensalão no Congresso, aponta José Dirceu como mentor do esquema e afirma que o presidente Lula sabia de tudo.
- Começam a aparecer outros nomes de petistas supostamente envolvidos no esquema: Delúbio Soares, Silvio Pereira, José Genoíno, Luís Gushiken.
- É descoberto o esquema do "valerioduto".
- Dirigente do PT é preso com dólar na cueca.
- Nova denúncia liga PT a fraudes do INSS.
- Surgem denúncias do envolvimento irregular do filho do presidente Lula com a empresa Telemar.
- O publicitário Duda Mendonça e dirigentes petistas confessam uso de "caixa 2".
- Marcos Valério denuncia que foi chantageado pelo PT para ficar calado: R$ 200 milhões.
- José Dirceu é cassado, outros deputados envolvidos renunciam e esquema envolve ao menos 40 pessoas vinculadas diretamente ao governo Lula.
- Denunciado, o ministro petista Antonio Palocci se envolve na criminosa quebra de sigilo do caseiro Francenildo.
- CPI descobre que o Banco do Brasil desviou pelo menos R$ 10 milhões para o PT.
- A Polícia Federal inicia a Operação Sanguessuga e envolve ao menos 60 parlamentares acusados de fraudar licitações de novas ambulâncias, com participação do Ministério da Saúde.
- Estoura o escândalo do "dossiê dos aloprados", envolvendo dirigente petistas às vésperas das eleições de 2006, e a famosa pergunta: "De onde veio o dinheiro?"