terça-feira, 30 de outubro de 2007

Ciro já está "madurinho" e admite erros de 2002

Não era sem tempo. Às vésperas de completar 50 anos de idade (em 6/11) e passados outros cinco das eleições de 2002, quando foi o candidato a Presidente da República pelo PPS (pela segunda vez consecutiva, repetindo 1998), o deputado federal Ciro Gomes (atualmente no PSB) diz que agora já está "madurinho" e reconhece que fez "muita bobagem naquela campanha". Tem toda razão.

Em um artigo que publicamos naquela época, faltando 20 dias para a eleição, já antevíamos no título ("Onde Ciro Gomes perdeu a eleição") e no conteúdo os efeitos catastróficos dessas "bobagens" que hoje ele admite ter cometido e que lhe tiraram do segundo turno das eleições. Leia alguns trechos:

"Ciro e Mangabeira Unger, feitos Dom Quixote e Sancho Pança, saíram por aí lutando contra moinhos de vento e sonhando conquistar o mundo. Com um projeto prepotente e personalista, um ufanismo requentado e mal calibrado, uma linguagem rebuscada e idéias salvacionistas, a dupla entronou-se num castelo de areia sem levar em conta a força do vento e das marés."

"Ciro Gomes não precisava de nada nem de ninguém, a não ser da sua figura imponente e de seu estilo empolado. Julgou ainda ter tirado a sorte grande duas vezes: ao encontrar numa atriz global a sua alma-gêmea e num professor de Harvard o seu cérebro-irmão. Chegou ao PPS como quem entra num ambiente hostil, sem fazer grandes concessões e, ao contrário, pregando a rápida substituição de um velho partido de quadros por outro novo, de massas. Enfim, a legenda (qualquer uma) era só a parte burocrática do negócio; e o PPS, simples moeda de troca: deram-lhe uma agremiação tradicional, simpática e limpinha, e ele nos daria votos, prestígio e a redenção. Assim estava escrito."

"Mas Ciro Gomes, inadvertidamente, seguia a passos firmes na (des)construção do projeto do PPS. E começou a perder a eleição, por ironia do destino, justamente quando mais promissor parecia o seu horizonte. Achou que lhe bastava seguir com seu carisma, grandes idéias e boas intenções, um discurso ferino e afiado, o tempo de TV e uma equipe juntada entre parentes, conterrâneos, empregados e amigos mais próximos, para enfrentar os ´interesses do mercado´, das ´elites´, dos ´barões´ e ganhar a eleição."

"Errou. Sobretudo, errou ao afastar-se do rumo natural da centro-esquerda para ressuscitar fantasmas e assombrações, de ex-colloridos a oportunistas da pior espécie. Errou ao aproximar-se de Martinez, de Fleury, de Roberto Jefferson, de Brizola, do PFL. Errou ao ceder às chantagens da Força Sindical e entregar a vaga de vice na chapa a Paulo Pereira da Silva. Errou internamente no PPS ao enfraquecer Roberto Freire e deixar que João Herrmann se julgasse fortalecido. Errou quando trouxe das cinzas o velho ACM. Errou quando trouxe das cinzas o ex-ministro Cabrera, peça do jogo malufista em São Paulo. Errou. Errou tanto que até o próprio Fernando Collor, tendo toda a corja reunida, viu-se no direito de estrilar."

"E Ciro abusou do direito de errar. Declarou: ´o mercado que se lixe´, quando dele se esperava equilíbrio e sensatez. Atacou de burro um ouvinte de rádio só por ter arriscado uma pergunta mais incômoda. Comprou briga com jornalistas, simples operários da notícia, quando queria atingir seus patrões. Faltou com a verdade repetidas vezes, ainda que em assuntos irrelevantes, como o fato de ter ou não estudado a vida toda em escolas públicas."

"Ciro protagonizou ainda uma das cenas mais esdrúxulas da história política brasileira: o beija-mão com ACM. Meteu-se numa polêmica desnecessária com o estudante negro em Brasília, que desrespeitou a regra de um debate, quando tal função caberia simplesmente ao mediador. Reduziu a pó toda a imagem positiva obtida até então do affair com Patrícia Pillar ao cometer uma terrível gafe machista. E por aí foi, num terreno pantanoso, com a língua solta e a sutileza de um elefante numa loja de cristais."

"Ciro Gomes errou a ponto de transformar José Serra num sujeito quase simpático. Desprezou o marketing e o profissionalismo da campanha. Perdeu-se na hora de decidir se posaria de vítima ou revidaria na mesma medida. Demorou para responder aos ataques (previsíveis) dos tucanos e, quando o fez, exagerou a mão. Sua tropa-de-choque abandonou o discurso político e partiu para o linguajar mais chulo: fulana é ´mal amada´, beltrano merece ´tomar porrada´. Baixou o nível. Caiu na armadilha do adversário. Jogou na lata do lixo a credibilidade de 80 anos da tradição do PCB/PPS em oito dias de exposição na TV."


Maktub. Estava escrito.