As aspas do título acima caberiam em "culpa", em "Justiça" ou em ambos, ao gosto do leitor.
O fato é que juízes brasileiros andam exorbitando do poder e da autoridade pública que lhes cabe para julgar as demandas que são submetidas à sua apreciação.
Os magistrados que arrogam a si competência absoluta para deliberar sobre qualquer assunto, acabam demonstrando apenas a ineficácia e o despreparo do Poder Judiciário, e a dose extraordinária de preconceito e incapacidade que motivam as suas decisões.
Primeiro foi a sentença absurdamente homofóbica do juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho no caso envolvendo o jogador Richarlyson, do São Paulo, ao classificar o futebol como "jogo viril, varonil, não homossexual" para desqualificar uma queixa-crime do atleta, apontado como gay em um programa esportivo.
No documento, o juiz sugere que, se Richarlyson for mesmo homossexual, "melhor seria que abandonasse os gramados".
Em outro trecho, Junqueira Filho diz que "quem se recorda da Copa do Mundo de 1970, quem viu o escrete de ouro jogando (...) jamais conceberia um ídolo ser homossexual".
A seguir, ele afirma: "Não que um homossexual não possa jogar bola. Pois que jogue, querendo. Mas forme seu time e inicie uma Federação".
Por fim, Junqueira Filho utiliza uma estrofe popular antes de proferir a sentença: "Cada um na sua área, cada macaco no seu galho, cada galo em seu terreiro, cada rei em seu baralho. É assim que penso".
Pois agora outo juiz, Edilson Rumbelsperger Rodrigues, sentencia que a proteção à mulher é "diabólica" e considera inconstitucional a "Lei Maria da Penha", contra violência doméstica, que é sem dúvida uma das melhores e mais avançadas leis deste país.
Alegando ver "um conjunto de regras diabólicas" e lembrando que "a desgraça humana começou por causa da mulher", o juiz de Sete Lagoas (MG) rejeitou pedidos de punição contra homens que agrediram e ameaçaram suas companheiras.
Rodrigues sentenciou: "Ora, a desgraça humana começou no Éden: por causa da mulher, todos nós sabemos, mas também em virtude da ingenuidade, da tolice e da fragilidade emocional do homem (...) O mundo é masculino! A idéia que temos de Deus é masculina! Jesus foi homem!"
"Para não se ver eventualmente envolvido nas armadilhas dessa lei absurda, o homem terá de se manter tolo, mole, no sentido de se ver na contingência de ter de ceder facilmente às pressões."
"A vingar esse conjunto de regras diabólicas, a família estará em perigo, como inclusive já está: desfacelada, os filhos sem regras, porque sem pais; o homem subjugado." O juiz chama ainda a lei de "monstrengo tinhoso".
Se não bastasse, Rodrigues criticou ainda a "mulher moderna, dita independente, que nem de pai para seus filhos precisa mais, a não ser dos espermatozóides".
Sancionada em agosto de 2006, a "Lei Maria da Penha" (nº 11.340) aumentou o rigor nas penas para agressões contra a mulher no lar, além de fornecer instrumentos para ajudar a coibir esse tipo de violência.
Seu nome é uma homenagem à biofarmacêutica Maria da Penha Maia, agredida seguidamente pelo marido. Após duas tentativas de assassinato em 1983, ela ficou paraplégica. O marido, Marco Antonio Herredia, só foi preso após 19 anos de julgamento e passou apenas dois anos em regime fechado.