Que o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia (DEM), adora ser notícia com seus factóides, todo mundo já sabe.
Faz acordo de paz com Garotinho, exige guarda civil com um mínimo de 20 dentes na boca, firma convênio oficial com o Cacique Cobra Coral para não chover durante o Pan, plagia livro milenar chinês para justificar sua administração...
O que mais poderia vir da mente fértil de César Maia?
Pois não é que veio mais uma bomba? "Rio pagará até R$ 4.560 a aluno que se formar com nota boa", é a manchete dos principais jornais do dia.
Alunos de escolas municipais cariocas ganharão um incentivo polêmico para permanecer em sala de aula. Decreto municipal, em vigor a partir desta segunda-feira (24), determina o pagamento de dois a doze salários-mínimos (R$ 380 a R$ 4.560) para estudantes aprovados nos três últimos anos do ensino fundamental (as antigas 6ª, 7ª e 8ª séries) com conceito global “MB” (muito bom).
Para cada ano aprovado com conceito global “MB”, o aluno tem direito a dois salários mínimos. Se o conceito for alcançado em todas as disciplinas do período escolar, o bônus é dobrado. Estudantes graduados com bônus máximo (“MB” em todas as disciplinas nos três anos) ganham um diploma de “Mérito-Máximo-Escolar”, além dos 12 salários-mínimos.
O dinheiro só será recebido se os beneficiados concluírem o ensino fundamental nas escolas municipais. Caso o conceito global “MB” não seja alcançado no último ano, o aluno terá o bônus acumulado reduzido à metade.
Os benefícios prometidos pela Prefeitura se estendem após a conclusão do ensino fundamental. Alunos com “Mérito-Escolar” serão acompanhados pelos órgãos municipais até os 18 anos, e quando estiverem no curso superior ou profissional, terão preferência em estágios na Prefeitura, ainda segundo o decreto municipal.
As novidades não foram bem recebidas pelo Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe). Em nota, o Sepe diz que “o prefeito está tentando, na verdade, impor a ferro e fogo a aprovação automática, comprando a consciência da comunidade escolar com a bonificação”.
É, sem dúvida, um método revolucionário de ensino: fazer o aluno passar de ano em troca de dinheiro.
Faz sentido. Num país que premia com bolsa-esmola quem vive na miséria, transformar os jovens estudantes em mercenários parece bastante coerente. Qualidade de ensino? Reforma curricular? Infra-estrutura adequada? Salários decentes para os professores? Integração da família? Que nada! Chega de atravessadores, vamos logo cuidar do produto final!
Enfim, a escola ensinará pragmaticamente aos alunos que o valor do dinheiro é o que prevalece na sociedade moderna. Educadores-patrões controlando estudantes-operários, num método tirano e opressor. E assim caminha a humanidade.