segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Lula tapa o nariz para a sujeira e tem fala ambígua

Quer dizer então que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao discursar para cerca de 3.000 pessoas no 3º Congresso do PT neste fim-de-semana, pediu aos militantes que defendam os companheiros acusados de crimes na ação penal do mensalão, instaurada pelo STF, e disse que "ninguém tem mais autoridade moral e ética" que o PT?

"É verdade que podemos ter cometido erros, e os erros estão sendo apurados como precisam ser. Ninguém neste país tem mais autoridade moral e ética do que nosso partido. Admitimos que tem gente igual a nós, mas não admitimos que tenha melhor. Na hora em que algum de nós cometer um erro, por mais amigo que seja, ele estará subordinado às mesmas leis e regras do que os 190 milhões de habitantes [do Brasil] estão submetidos."

Todos os petistas acusados na ação do mensalão alegam inocência e fazem críticas ao STF e à imprensa, dizendo-se alvos de uma conspiração das elites e da oposição. Lula, como sempre, garante que não sabia de nada.

"O que é importante é que nada que nos aconteça, processados ou não, pode nos esmorecer. Nós não temos o direito de nos sentir derrotados. Mais importante: nenhum petista tem que ter vergonha de defender um companheiro, nenhum petista. Na política, nós não precisamos ser mais duros do que nós somos. Não podemos perder a sensibilidade e o companheirismo", afirmou, minutos antes de encerrar o discurso de quase uma hora.

O plenário do Centro de Convenção Imigrantes, em São Paulo, explodiu em aplausos e gritos saudando o partido. Na platéia, estavam o ex-ministro José Dirceu, os deputados federais João Paulo Cunha (SP) e Paulo Rocha (PA) e o ex-deputado Professor Luizinho (SP), todos réus da ação.

"Eu não costumo falar das decisões da Suprema Corte, mas eu queria que os petistas tivessem em mente uma coisa: até agora, nenhum deles foi inocentado, mas também nenhum deles foi culpado. Tem um processo, e somente esses companheiros, nem eu nem vocês, sabemos o que aconteceu. Esses companheiros terão tempo para se defender."

A fala do presidente acabou sendo bem-recebida por dois grupos opostos do PT. Os anti-mensaleiros, personificados pelo ministro Tarso Genro (Justiça), festejavam o "duro golpe" nos acusados, sobretudo porque Lula disse com todas as letras que eles erraram.

Já os mais alinhados ao grupo de Dirceu consideraram "afetuosas" as palavras de Lula.

"Não entendi que o presidente tivesse dado qualquer determinação em relação a isso [defesa de acusados]", disse Tarso.

A fala do presidente se dividiu em três partes: nos primeiros dez minutos, falou de improviso, cobrando o PT e mencionando os escândalos. Depois, por meia hora, leu, em dois teleprompters de última geração e de fabricação nacional, um balanço de sua gestão. Ao final, voltando ao improviso, foi mais explícito ao falar do julgamento do Supremo Tribunal Federal.