quarta-feira, 14 de março de 2007

Soninha sem censura: uma rebelde com causa

A jornalista e vereadora paulistana Soninha Francine ainda causa espanto na política (e em vários políticos) por ser absolutamente franca, espontânea e transparente.

Dizer o que pensa - mais do que pensar no que diz - não é um comportamento muito bem aceito nos bastidores do poder. Aliás, pensar já é pouco usual.

Pior ainda é não obedecer cegamente a cartilha da burocracia partidária nem ligar para o patrulhamento ideológico: e a vereadora do PT revela sem pudor admiração pelo tucano José Serra (santa heresia!) e diz que foi mais ofendida por ser petista do que quando assumiu que fumava maconha.

Na revista Isto É Gente desta semana, Soninha foi ela mesma mais uma vez. Resultado: a ira dos seus pares na Câmara Municipal e entre os próprios petistas (que, ao contrário do que a sabedoria popular atribui aos mineiros, não são solidários nem no câncer).

Veja abaixo alguns trechos da entrevista:

Como é ser vereadora?
Ninguém imagina o inferno: lidar com desonestidade, corrupção, com idéias diferentes das suas. O problema é descobrir a dificuldade de trabalhar por motivos como os costumes da Casa. Nenhum projeto vai a voto sem acordo.

Se Lula e Serra disputassem a Presidência, em quem você votaria?
Difícil a decisão. Eu ficaria aflita com a dúvida. O Serra pessoalmente teria uma postura de confronto, uma posição mais à esquerda em relação à política econômica do que a que a gente tem hoje. Serra é um bom político. Um cara com décadas de vida pública que se dispõe a sentar com uma vereadora com seis semanas de mandato e diz “você tem razão” para várias coisas. Me surpreendeu a capacidade dele de ceder. Eu tinha rejeição absoluta e nunca votei no Serra. Mas, dependendo da alternativa, eu votaria.

Sua idoneidade foi testada?
Sim, mas nada gritante. Ninguém me ofereceu dinheiro para votar contra ou a favor.

Percebeu preconceito?
Sim. Por ser da televisão, fui incluída na lista das celebridades, de gente que nunca foi da política. Sempre tive uma vida engajada. Hoje percebo uma reação por meu jeito anticonvencional.

Como assim?
Desde a maneira de me vestir, portar e posicionar. Vou de jeans, camiseta e tênis. E isso é uma posição política. Só eu não uso saia, terninho ou tailleur. Eles me classificam de independente, não chegam a dizer rebelde. É um elogio. Me recuso a votar com a oposição se acho que o (Gilberto) Kassab (prefeito de São Paulo) tem razão. Pelo meu voto contrário, a oposição já perdeu uma batalha com o governo.

Qual seu futuro na política?
Meu sonho é ser prefeita. Adoraria seguir trabalhando com política pública no poder público. Mas não sei se disputo outro cargo eletivo. Até ganharia uma eleição, porque sou artista. Mas não conseguiria ser candidata, porque sou independente (risos).

O PPS/SP está solidário com Soninha. Gostem ou não, é uma opinião (aliás, uma formadora de opinião) a ser respeitada. Aplica-se à Soninha a máxima do filósofo francês Voltaire: "Posso não concordar com uma palavra do que diz, mas vou defender até a morte o seu direito de dizer."