A primeira medalha de ouro conquistada pelo Brasil no Pan-Americano do Rio de Janeiro, às 16h15 deste domingo, terceiro dia de competição, tem a cara do povo: Diogo Silva, atleta de taekwondo, paulista de 25 anos, nascido em São Sebastião, negro, tranças rastafari.
Um Silva que foi aplaudido de pé, chorou e emocionou o público no topo do pódio, ao ouvir o Hino Nacional.
Um Silva que nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, chegou à semifinal (foi 4º lugar) e entrou para lutar vestindo uma luva preta dos Black Panthers (Panteras Negras, movimento de militantes negros norte-americanos no final da década de 60), que o juiz o fez tirar. O objetivo era protestar contra a falta de apoio ao esporte no país. País dirigido por um Silva, que se achava intocável.
"É uma luva dos Black Panthers, um sinal de protesto, da indignação. Por mais que a gente batalhe, nosso sacrifício não é recompensado. Foi meu protesto para que o Brasil veja a dificuldade que o esporte amador enfrenta. A gente merecia mais apoio do governo e dos empresários", desabafou o lutador na Grécia.
Um Silva, Diogo, bem diferente do outro Silva, Luiz Inácio, vaiado há dois dias. Um Silva lutador. Ao contrário do Silva que se apossou da cadeira de presidente, chefe de batedores de carteira que aprofundam a miséria brasileira e proporcionam lucros recordes a bancos e multinacionais.
Um Silva é brigador, mas permanece humilde. Outro não é mais.
Para Diogo, a platéia cantou "Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor". Para Luiz Inácio, uma estrondosa vaia.
Será que os Silvas deste Brasil, enfim, estão acordando?