quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Procuram-se bon$ argumento$ para elogiar Haddad

Nos últimos dias - veja só que coincidência, justamente nesta reta final da campanha eleitoral - há um esforço concentrado na mídia para transformar o estorvo Fernando Haddad num gestor moderno e competente.

E não poupam argumento$...

A Prefeitura de São Paulo partiu para um marketing agressivo com as chamadas "intervenções urbanas", além das indefectíveis faixas de ônibus e ciclovias que proliferam sem critério nem planejamento, para alegria dos fabricantes de tintas.

Quem não foi cooPTado enxerga que não passam de ações cosméticas, com forte apelo visual. Mas o próprio prefeito tem se empenhado em levantar essa cortina de fumaça, convocando para conversas o maior número de "formadores de opinião": jornalistas, vereadores (inclusive da oposição), urbanistas, cicloativistas e representantes de entidades, movimentos e organizações paulistanas.

A cidade de Haddad está ficando muito parecida com o Brasil de Dilma. Quer dizer, aquele fictício da propaganda milionária e com recursos hollywoodianos - se bem que direção e elenco estão mais para as velhas produções da "boca do lixo".

Os métodos do PT são conhecidos, e Haddad reproduz fielmente: loteamento da máquina pública, distribuição generosa de recursos orçamentários (publicidade, patrocínio) à mídia "amiga" e aos PTbulls amestrados, aparelhamento dos movimentos sociais.

Mas os domínios de Haddad estão se ampliando. Semana retrasada ganhou a principal manchete da Folha de S. Paulo de domingo: Paulistano aprova ciclovia, e imagem de Haddad melhora. (Uau!)

Depois, durante a semana, mais uma enxurrada de matérias positivas em toda a imprensa e outro clichê (o artigo de um "intelectual da USP" na Folha) para reforçar essa espécie de desagravo público: A virada civilizatória de Haddad.

Caraca, hein!? Um estadista revolucionário! Um verdadeiro gênio incompreendido! (Ah, vá!)

Dentre tantas bobagens desse panfleto eleitoral e partidário, pinçamos só um dos absurdos: "Visto com má vontade pela mídia, dispondo de baixo Orçamento, engessado pela progressiva judicialização da política e menos comprometido com a ´realpolitik´ do seu partido, o prefeito não viu outro caminho que não o de seguir a sua própria agenda."

Visto com má vontade? Não, ele é ruim mesmo!!!

Baixo Orçamento? (Oi???) São R$ 51 bilhões!!! Só para traçar um paralelo e colocar as coisas no devido lugar: o Orçamento paulistano é maior que o de todo o Paraná, por exemplo, ou de mais de 20 outros estados!!!

Engessado pela judicialização? O que??? Não, meu caro! Se não fosse a Justiça, como último recurso democrático e republicano, esse prefeito aparvoado teria cometido inúmeras outras sandices e ilegalidades!

Menos comprometido com a "realpolitik" do PT? Não, não, ele até foi temporariamente deixado de lado para não atrapalhar nas campanhas de Dilma e Padilha, mas o modus operandi petista aparece no dia-a-dia da administração, em cada subprefeitura, em cada secretaria, na relação com a Câmara. A família Tatto que o diga...

Para marcar uma posição contrária, reação difícil nessa pequena trincheira democrática diante do exército mercenário que se reuniu para guerrear pelo prefeito, foi encaminhado um artigo à mesma Folha de S. Paulo, obviamente negado "diante da disponibilidade limitada de espaço" (sic).

Pois, então.

Está cada vez mais limitado o espaço para o salutar hábito do contraditório ao pensamento único. Para exercer o "outro lado", que sempre foi princípio básico do bom jornalismo. Lamentável.

Em todo caso, segue para conhecimento e registro o artigo "sem espaço" na Folha:

Primeiro como tragédia, depois como farsa


Uma lata de tinta na mão e nenhuma ideia na cabeça. Parece incrível que o “homem novo que São Paulo precisa”, mantra incutido na mente do paulistano pelo marketing petista com a superprodução da propaganda eleitoral de 2012 (por si só a antítese da máxima glauberiana para o Cinema Novo), recupere sua popularidade justamente agora com essa farsa burlesca que promove na Prefeitura.

Que quatro em cada cinco paulistanos aprovem, em tese, a proliferação marqueteira de ciclovias pelo prefeito Fernando Haddad é até compreensível. Quem, afinal, seria contra o “politicamente correto” de uma ação sustentável em prol da mobilidade urbana neste caos metropolitano?

Mas que a simples combinação das tintas branca e vermelha, primeiro nas faixas de ônibus e agora nas ciclovias, seja suficiente para uma demão corretiva nessa gambiarra administrativa, fazendo despencar de 47% para 28% a taxa de reprovação de Haddad, e inflando seus admiradores declarados de 15% para 22%, é de fato surpreendente.

Será que a tinta pulverizada pelo prefeito nas ruas remenda todos os outros defeitos do PT? O que dizer da ação que resultou no assassinato de um vendedor ambulante? Foi só “um fato isolado”, como se apressou em justificar Haddad?

Vá perguntar ao padre Júlio Lancellotti, velho parceiro petista, se é “fato isolado” ou ordem do prefeito para a PM e a GCM fazerem contra camelôs e moradores de rua o que antes o PT rotulava como “política higienista”, “de direita”, “elitista”, “racista”, “coxinha” etc.

Onde estão os PTbulls raivosos das redes sociais? Dessa vez não atacam a PM porque na operação delegada o “chefe” é o prefeito Haddad? Imagine se essa frase infeliz sobre a morte de um inocente (“foi um fato isolado”) saísse da boca de alguém do PPS ou do PSDB... Seria massacrado! Mas petista pode.

Petista pode se associar a Maluf e ao PCC, lotear as subprefeituras, aprovar obra irregular e até participar da inauguração se for igreja de bispo aliado, cancelar a inspeção veicular, patrocinar ocupações irregulares, prorrogar indefinidamente contrato bilionário de transporte que só beneficia o mesmo cartel de empresas. PT Pode Tudo.

Quem ousaria criticar as ciclovias e discordar de 80% da população? O transporte alternativo é uma reivindicação histórica do PPS e das campanhas de Soninha Francine e Ricardo Young, para ficar apenas nos dois exemplos mais recentes e emblemáticos.

Mas qual o sentido de substituir as raríssimas motofaixas existentes em São Paulo por ciclovias? Quantos paulistanos usam a bicicleta como meio de transporte? Em comparação, quantos são os motoqueiros e motociclistas nas ruas, 24h por dia? E a quantidade trágica, muitas vezes fatal, de acidentes com motos?

Haddad despe um santo para vestir outro. Ditos populares vem a calhar. Veja o ensinamento de Dilma, para quem “vale fazer o diabo” numa eleição, repercutido na mente vazia de Haddad: eis a oficina petista de fabricação do voto.

Por tudo isso, fazemos oposição. Nem que sejamos só 0,00000023% no Datafolha entre 8.782.406 eleitores paulistanos. Que restem só os dois autores deste artigo, seguiremos firmes.

A sorte de Haddad é que o MTST não percebeu ainda que o espaço mais ocioso da cidade, sujeito à ocupação, é a própria cadeira do prefeito.

MAURÍCIO HUERTAS, jornalista, secretário de Comunicação do PPS, foi eleitor do PT entre 1988 e 2002. CARLOS FERNANDES, ex-subprefeito da Lapa (2010/2011), é presidente do PPS paulistano.