domingo, 26 de outubro de 2014

2014: R.I.P velho Jornalismo! Viva novo Shownarlismo!

Material de Dilma soa emblemático da campanha de 2014
R.I.P é um termo utilizado quando alguém morre. Geralmente aparece em lápides e, na onda do compartilhamento de informações na internet, infesta também as redes sociais. É a sigla tanto para o inglês "Rest in peace" quanto para o latim "Requiescat in pace". Significa o tradicional "descanse em paz".

Entre outros feridos com gravidade (como a ética, o bom senso e a verdade), essas eleições provocaram pelo menos uma vítima fatal: o bom e velho Jornalismo! Aquele ente social que desde os primórdios - das Actas Diurnas a Gutemberg - buscava informar e relatar fatos verídicos com a máxima isenção, correção, imparcialidade e transparência, trazendo sempre todos os pontos de vista (no mínimo dois lados) da notícia.

Essa espécie praticamente extinta de Jornalismo perdeu seus sinais vitais no Brasil com a cooPTação de veículos e de profissionais pelo (des)governo de plantão há doze anos, mas partiu definitivamente desta para pior quando a pesquisa de intenção de voto deixou de ser mero acessório de repórteres e analistas para se transformar na manchete principal.

Pesquisas de opinião na imprensa: quando a especulação vira notícia
O óbito é declarado quando a imprensa cede o lugar da informação para a especulação (entenda-se aí com todos os interesses inerentes do mercado). Hoje, a auto-proclamada mídia "livre" e "independente" é quase toda financiada por patrocínio estatal (isso para tratar apenas do que é oficializado, sem falar em corrupção e Caixa 2) e está a serviço (declarado ou dissimulado) do Partido dos Trabalhadores.

Do outro lado, a chamada "grande imprensa", cada vez mais fragilizada e decadente, é acusada por essa mídia "alternativa" de agir de forma "golpista" contra o governo petista, quando na realidade as duas se aproximam nos piores defeitos e, por uma razão ou outra, ambas parecem atuar exclusivamente em defesa dos seus próprios interesses.  

O golpe de misericórdia foi dado nesta campanha presidencial de 2014. Não faltam exemplos da partidarização da imprensa - dos grandes jornais e revistas aos chamados "blogueiros amigos" - e da mistura confusa, conivente e conveniente entre informação e propaganda.

Membro do Conselho Editorial da Folha: "golpe" de quem?
Um claro (ou nebuloso?) exemplo é toda essa polêmica causada pela matéria de capa da Veja, que traz a afirmação do doleiro Youssef em sua delação negociada com a Justiça: Dilma e Lula sabiam de tudo!

A reação que segue à publicação é reveladora de todo o jogo sórdido das eleições: a ala petista da imprensa se apressou em apontar o que seria um "processo golpístico" (sic), reproduzindo o que disseram a própria Dilma e o guru Lula no tatibitate tradicional de ambos.

Chega a ser engraçado revistas como Carta Capital, Forum e Carta Maior, ou portais como Brasil 247, Conversa Afiada, VermelhoLuis Nassif, Brasil Atual e ViOMundo, ou o integrante panfletário do Conselho Editorial da Folha, todos governistas declarados e em ação orquestrada, acusarem a Veja ou a Globo de partidarismo...

Não, espera! Não é engraçado! É deplorável! É um atentado inaceitável aos princípios constitucionais, aos direitos individuais e à liberdade de imprensa!

Mas não é só isso! São acompanhados pelo ministro do TSE (até então advogado de Dilma!), que concede liminar censurando a maior revista do país (!!!) e é aplaudido pelo presidente da maior Câmara Municipal do Brasil (jornalista, secretário de Comunicação do PT e um dos coordenadores da campanha de Dilma), que por sua vez faz ouvidos moucos à incitação e apologia criminosa de outros vereadores (um ex-ministro de Lula e Dilma, outra ex-presidente do PT paulistano).

Estamos perdidos, sujeitos à censura e ao controle do Estado. Enquanto eles seguem "fazendo o diabo", como pregaram que fariam para vencer a eleição.

O eleitorado até "velou" simbolicamente Dilma e o PT, mas quando enterraremos de fato estes métodos deploráveis de fazer política? 

Nesse clima tétrico, correram boatos de que o delator Youssef havia sido morto por envenenamento. Vieram os desmentidos (oficiais e oficiosos) de praxe. OK, deve ter sido apenas um mal estar passageiro, desses que em outros tempos acometeram Celso Daniel e Toninho do PT... Bom, deixa prá lá! 

Algumas boas análises do que foi esta campanha de 2014 podem ser lidas em textos brilhantes de Alfredo Sirkis e de Fernando Gabeira, não por acaso dois grandes jornalistas com importante atuação política e na redemocratização do país.

Recomendamos também algumas outras leituras que ajudam a entender o momento que vivemos: Felipe Moura Brasil, Augusto Nunes, Reinaldo Azevedo, Augusto de Franco. Nem precisamos concordar com eles, apenas refletir sobre os acontecimentos.

Mais que um texto opinativo do Blog do PPS, além do indicativo desses outros autores, você acaba de ler aqui um obituário. Na semana em que morreu o editor do Washington Post que denunciou o Watergate, vivemos também o nosso luto eleitoral. No que depender dessa corja que se apoderou do país, aqui jaz o bom jornalismo e a nova política. Ou não? Alguém viu um desfibrilador por aí?

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