Adeus ano velho, feliz ano novo. É da natureza humana. Sempre acreditamos que o melhor está por vir. Então, no balanço dos acontecimentos de 2007, o que deixamos para trás?
Por exemplo, tivemos a primeira e emblemática derrota do governo Lula: o fim da CPMF. Não que tenha sido, em si, um grande ganho para o país (a charge ao lado diz tudo: a CPMF é uma formiguinha perto da paquidérmica carga de impostos). Mas mostrou ao presidente-messias que em uma democracia nem tudo é como lhe convém pessoalmente. Que em 2008 venha a reforma tributária!
Antes disso, numa sexta-feira, 13 (de julho), o presidente Lula já havia enfrentado outro constrangimento: as seis históricas vaias da multidão que lotava o Maracanã, na abertura dos Jogos Pan-Americanos. Foi o primeiro sinal.
Tragédias não faltaram. Logo em janeiro de 2007, foram sete pessoas mortas, tragadas pela cratera da obra do metrô em São Paulo. Entre as vítimas, a aposentada Abigail Rossi de Azevedo, mãe do dirigente do PPS Silvio Antonio Azevedo, ex-chefe de gabinete do vereador Edivaldo Estima.
Em 17 de julho aconteceu o trágico acidente com o Airbus da TAM em Congonhas. Foram 199 mortos. Resultado da incompetência crônica na gestão do setor aéreo.
Até terremoto matou no Brasil, pela primeira vez na história. Uma menina de cinco anos foi soterrada após um tremor de 4,9 graus na escala Richter, na vila de Caraíbas, norte de Minas Gerais.
Outros atos bárbaros marcaram o ano, como os recentes casos da menina de 15 anos presa por um mês com 20 homens na cadeia do Pará, e o do menino da mesma idade morto com 30 choques elétricos pela PM no interior de São Paulo.
De Brasília não faltam exemplos assombrosos, mas um projeto que nem sequer recebeu muito espaço na mídia merece ser tratado aqui pelo tamanho absurdo: a instituição da "bolsa estupro". Como????? Parece piada. Parece exagero. Mas infelizmente não é!
Dois deputados evangélicos (Henrique Afonso, do PT do Acre, e Jusmari Oliveira, do PR da Bahia) apresentaram na Câmara dos Deputados o projeto, que recebeu parecer favorável do relator da matéria, o padre católico José Linhares, do PP do Ceará.
Em que consiste a brilhante idéia? O projeto de lei prevê o pagamento de indenização às mulheres que tenham filhos resultantes de violência sexual, segundo seus autores como desestímulo à prática do aborto.
O estuprador ganha o status de "pai" no projeto e o aborto é classificado como "injusiça monstruosa com o feto".
É um upgrade do famoso "estupra, mas não mata" do filósofo Paulo Maluf. "Será justo que a mãe faça com o bebê o que nem o estuprador ousou fazer com ela: matá-la?", questiona o deputado federal Jusmari Oliveira.
Acho quem nem é necessário falar mais nada sobre 2007. Sobrevivemos até aqui. Basta.