É importante para o PPS reafirmar-se programática e ideologicamente como um partido democrático de esquerda, composto em grande parte por uma nova geração de políticos éticos e comprometidos com a busca de novos caminhos para o desenvolvimento econômico, político e social do Brasil. (leia mais)
Uma candidatura majoritária própria não é o único caminho para isso, principalmente no atual contexto, em que o PPS integra uma aliança que derrotou na cidade de São Paulo uma administração absolutamente equivocada do PT (base de lançamento dos mesmos métodos deploráveis e práticas fisiológicas que foram reproduzidas no governo federal e geraram sucessivos escândalos).
Por outro lado, parece fundamental ao PPS reiterar à sociedade a nossa identidade e marcas próprias. As eleições municipais de 2008 podem favorecer este reposicionamento estratégico da legenda. Candidaturas como as de Roberto Freire e Zulaiê Cobra podem dar maior visibilidade e conteúdo a este arcabouço de intenções.
Uma coisa é óbvia: devemos ser mais inteligíveis ao eleitorado.
Um exemplo clássico da necessidade de reafirmar a identidade do PPS se deu em uma troca de e-mails com a jornalista Renata Lo Prete, editora do Painel, coluna política da Folha de S. Paulo.
A possível filiação de Zulaiê Cobra ao PPS foi assim noticiada pelo Painel, em 6 de julho:
"Vai sonhando. A ex-deputada tucana Zulaiê Cobra procura legenda para se candidatar à Prefeitura de São Paulo. Já ouviu do PPS que, se a condição para entrar no partido for essa, nada feito."
O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, desmentiu a nota: "Não é sonho, é realidade. Se é esse o desejo de Zulaiê tudo caminha bem, pois é de grande interesse do PPS ter candidatura própria à Prefeitura de São Paulo."
A tréplica de Renata Lo Prete, por e-mail: "Sinto, mas não me parece ser o caso de ´desmentido´. Entendo os motivos que levam Roberto Freire a garantir a Zulaiê Cobra que ´tudo caminha bem´ para que ela seja a candidata do PPS à prefeitura, mas o Painel faria papel de bobo se comprasse essa versão, pois o mundo inteiro sabe que o partido estará com o Alckmin em São Paulo no ano que vem."
"O mundo inteiro sabe...". E assim, na ironia, no deboche, no achômetro, desfaz-se a imagem de um partido sério, íntegro, independente, com 85 anos de história. Repete-se a mentira até parecer verdade. Confunde-se uma simples possibilidade eleitoral com o atrelamento automático e a subserviência política, como se fosse um caminho único e não restassem outras várias alternativas.
Daí a necessidade de um posicionamento claro do PPS. É elementar que, em uma eleição polarizada entre Alckmin e um(a) candidato(a) petista, a tendência seria apoiar o tucano. Mas será que Alckmin vai ser mesmo o candidato do PSDB? E será que o DEM irá embarcar nessa candidatura? Quantas forças não estão trabalhando contra isso, em todos os partidos?
Já foi mencionado que não haveria nenhuma contradição em apoiar Alckmin, ou Kassab, ou mesmo lançar uma candidatura própria (sem que isso signifique necessariamente o rompimento da aliança com PSDB e DEM). Cada partido pode se afirmar individualmente - e o que nos une, sempre, é a oposição aos métodos e práticas do PT.
No caso de Alckmin e Zulaiê, por exemplo, ambos têm origem no mesmo "ninho" tucano de Mário Covas. Eles podem até ser adversários em 2008, mas não são inimigos.
O DEM de Kassab é quem historicamente está mais distante do PPS, em termos políticos e ideológicos. Mas o fato dele representar a continuidade da gestão de José Serra em São Paulo, sem desviar um só milímetro da aliança eleitoral e programática que nos reuniu em 2004 e 2006, anula essas diferenças.
Dentro dos três partidos desta aliança (PPS, PSDB e DEM), há tanto os que defendem uma candidatura única quanto os que preferem que cada legenda apresente uma opção diferente no primeiro turno. Ou, no PPS, o atrelamento a um ou outro nome (Alckmin ou Kassab) desde o primeiro turno.
Ora, mas se nem os próprios tucanos e democratas estão convictos do que vão fazer em 2008, não há razão para apressar nenhuma definição. Até as convenções partidárias de junho do próximo ano, cada partido reunirá o que tem de melhor (e pior) para apresentar ao eleitorado. Desde já proliferam internamente pré-candidaturas, palpites e balões de ensaio. Mas qualquer previsão agora é precipitada.