terça-feira, 21 de outubro de 2014

Abracadabra, simsalabim: ciclovias (des)apareçam!

Virou solução fácil, modinha do momento: para qualquer problema de mobilidade urbana, para o trânsito caótico e a falta de qualidade ou quantidade no transporte público, a solução mágica é implantar ciclovias.

Dane-se o planejamento, o cotidiano da cidade, o bom senso e os outros "modais". Bicicleta é o novo pó-de-pirlimpimpim dos ilusionistas da política.

Calma lá! Falamos isso com propriedade, pois foi com a candidatura da ex-vereadora Soninha Francine à Prefeitura de São Paulo pelo PPS, em 2008, que este assunto veio à pauta. Ir de bike aos debates e compromissos de campanha despertou a atenção da mídia e da população para a importância de discutir e valorizar o transporte alternativo e sustentável em uma metrópole do século XXI.

Implantar ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas, bicicletários, paraciclos é uma necessidade prioritária. Não se trata de luxo, política acessória, cosmética ou secundária. Porém, fazer isso de forma atabalhoada, sem critérios e acelerada pelo marketing eleitoral, como vem fazendo o prefeito Fernando Haddad, é uma irresponsabilidade e um desserviço à qualidade de vida, à economia paulistana e aos próprios cicloativistas.

O que já era ruim, piorou. Congestionamentos, o risco de acidentes, as infrações de trânsito, as filas-duplas. Empresários reclamam - com razão - que o prefeito deu um golpe mortal no comércio de rua ao acabar com as vagas de estacionamento, inclusive de zona azul e sem oferecer nenhuma outra opção. Motociclistas protestam contra o fim das motofaixas, último refúgio de segurança a essas roletas-russas de duas rodas.

E os motoristas, então, eleitos vilões da gestão simsalabim-abracadabra de Haddad... Bem, são impublicáveis as opiniões de quem perde horas preciosas estagnado nos congestionamentos intermináveis e intransponíveis de São Paulo.

Rios de dinheiro do setor de negócios, do comércio e da indústria são consumidos nesse tempo perdido. Escoam pelo ralo enquanto os níveis de poluição só não superam os da falta de credibilidade e da ineficácia dos gestores públicos.

Como avalia Soninha, ao prever as resistências naturais à implantação de ciclovias, a gestão do prefeito Haddad e do secretário Jilmar Tatto adotou a postura do "que se dane".

Segundo Soninha, o raciocínio ("um horror!") é o seguinte: "Vocês vão ver, vão dizer que não passa ninguém nas ciclovias. Vão dizer que com ciclovia aumentou o número de atropelamentos de ciclistas - claro, se tem mais ciclofaixa e mais ciclista, vai ter mais atropelamento mesmo". E acharam que as resistências iam simplesmente sumir com o tempo... "Custava tentar amolecer essas resistências com sensibilidade e inteligência?", questiona.

Para a ex-vereadora, adepta tanto da bicicleta quanto do transporte coletivo, há inúmeros problemas não enfrentados (ou agravados) por Haddad. Leia, nas palavras da própria Soninha, ao menos quatro pontos críticos:

1) O mais evidente é o piso. Pintar de vermelho o asfalto todo esburacado ou com calombos é péssimo; buraco já é ruim pra carro, quanto mais pra bicicleta... 

2) O critério de implantação é misterioso. Por que começaram por ruas em Santa Cecilia que eram sossegadas o suficiente para ter uma rota sinalizada ou uma faixa? Qual é o plano que explica e justifica a ordem em que elas estão sendo feitas? 

3) Em alguns casos, a implantação é horrorosa, incompreensível. Outro dia passei por um ladeirão na Vila Mariana que ninguém em sã consciência recomendaria para ciclistas, com ou sem ciclovia. 

4) Não é nada bom criar (mais) uma guerra na cidade, jogando comerciantes contra ciclistas. A prefeitura foi super autoritária, não quis ouvir, debater, preparar os ânimos, respeitar as opiniões. Achou melhor a tática de "tocaia" - da noite pro dia, as pessoas descobrem que tem uma ciclovia na frente do seu estabelecimento, sem qualquer aviso ou preparação. Ainda por cima acusa os comerciantes de serem elitistas, individualistas etc. Sacanagem. Eu adoro comércio de rua e ciclovia pode ser muito bom pra eles; custa tentar conciliar?

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