A Controladoria Geral da União está investigando o uso do chamado "cartão de crédito corporativo" do governo federal, criado por decreto para utilização "emergencial". Suspeita-se de irregularidade e uso indevido. Será?
A última descoberta foi que o ministro Orlando Silva (Esporte) fez uso "emergencial" do cartão em uma tapiocaria de Brasília. Pagou R$ 8,30. Gasto irrisório, porém irregular, por contrariar as normas de uso do cartão. Afinal, quem é que paga a tapioca do ministro comunista?
Já se sabia desde a semana passada que a ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) também fez uso "emergencial" do cartão para gastar R$ 461,16 no free shop.
Outro ministro, Altemir Gregolin (Pesca), usou o cartão corporativo em uma churrascaria em Brasília. O ministro justificou que os R$ 512,60 se referem a um almoço, quando ele recebeu uma comitiva pesqueira da China.
A Folha de S. Paulo analisou os extratos dos cartões de Matilde Ribeiro, Altemir Gregolin e Orlando Silva, os três funcionários do primeiro escalão do governo que mais gastaram com cartão no último ano -respectivamente R$ 171,5 mil, R$ 22,6 mil e R$ 20,1 mil. A análise se refere exclusivamente a gastos com restaurantes.
Os três ministros, juntos, pagaram despesas no ano passado em 158 restaurantes, lanchonetes ou bares. Figuram como estabelecimentos preferidos churrascarias, restaurantes de comidas árabes e italianas, além de choperias.
A Folha enviou aos ministros três perguntas referentes a cada gasto de 2007: "Qual a agenda oficial do ministro no dia? O almoço/jantar foi para tratar de assunto oficial? Se foi oficial, quem participou?".
As assessorias de Matilde e Silva não quiseram responder ponto a ponto. Disseram que as agendas estavam na internet. Já a assessoria de Gregolin relacionou os gastos à agenda.
Das 26 despesas de Silva com restaurantes, há muitas com churrascarias. Como mostrou a Folha, ele gastou R$ 468,05 em um restaurante nos Jardins quando não tinha evento na agenda. Há ainda dois gastos em São Paulo, no mesmo dia, quando não havia atividade.
Altemir Gregolin vai com freqüência a restaurantes italianos, principalmente em Santa Catarina, seu Estado natal. Em Chapecó, sua base política, estão registrados dez pagamentos.
Nos extratos de Gregolin constam três despesas no Carnaval de 2007, que somam R$ 222,85, em restaurantes do Rio, todas na Quarta-Feira de Cinzas. Uma delas no Porcão, tradicional reduto VIP do Rio.
O ministro disse que trabalhou no Carnaval do Rio: foi à Marquês de Sapucaí na companhia do ministro da Pesca da Noruega, que assistia a um desfile cujo tema era o bacalhau.
Matilde também gastou no Carnaval: R$ 83,60 no Rio e R$ 120,78 em Salvador. Os gastos são do mesmo dia: 21 de fevereiro, Quarta-Feira de Cinzas. A agenda de Matilde informa que ela participou de eventos nas duas cidades no Carnaval, porém no dia do gasto não havia atividade prevista.
É o governo popular de Lula: todos têm acesso ao dinheiro público, e o direito de comer bem e gastar com igualdade no free shop! E viva o bacalhau! E viva a tapioca!