Leia abaixo entrevista da vereadora Soninha Francine, pré-candidata do PPS à Prefeitura de São Paulo, ao "Jornal do Trem" e à "Folha do Ônibus":
Soninha Francine e seu novo jeito de fazer política
Muito se fala sobre as eleições municipais em São Paulo, mas o assunto gira apenas em torno dos mais conhecidos, como Geraldo Alckmin, Gilberto Kassab e Marta Suplicy. A última “novidade” é a possibilidade de Luiza Erundina ser a vice de Marta, que por vaidade, ainda não declarou oficialmente a candidatura.
Mas como o "Jornal do Trem & Folha do Ônibus" já retratou, novos nomes também estão na disputa. E essa semana, a pré-candidata à prefeitura da capital, vereadora Soninha Francine (PPS), concedeu uma entrevista exclusiva a nossa equipe, na qual fala sobre a entrada na vida política, o trabalho como vereadora e como vê a administração pública em âmbito nacional e municipal.
Jornal do Trem & Folha do Ônibus – Por que a decisão de entrar para a política?
Soninha – A primeira vez que eu pensei em entrar para a política ainda era criança, pois a minha mãe discutia muito assuntos da política. Então foi ela que despertou o meu interesse. Eu tinha a gana. Pensava “porcaria de mundo e o que eu posso fazer para mudar isso”, e pensei que a política era um jeito. Só que logo depois eu desisti e achei que eu poderia ter uma militância de ideal em outras áreas. Fui professora e depois trabalhei com TV. Assim, eu podia dizer muitas coisas para as pessoas. Mas chegou um ponto que eu estava deprimida com isso tudo, pois não existia uma ação política que me ajudava. E isso me deu vontade de entrar na política.
JT& FÔ – Você fala a seguinte frase: “Quem disse que não tem mais jeito? Quem disse que só tem um jeito de fazer política?”. Porque você diz que não existe apenas um jeito?
Soninha – Essa é uma frase que eu uso muito, pois eu sempre digo: quem disse que não pode tal coisa? Quem disse que tem que ser assim e acabou? Quem disse que não pode ser do outro jeito? A gente segue algumas coisas que parecem estar fora do nosso alcance, como se fosse uma fatalidade. Muita gente fala que quando uma pessoa entra na política, ela abandona a ideologia. Mas isso não é verdade. A política depende das pessoas, que têm o poder de fazer as coisas de outro jeito, pois ninguém te impede, ninguém te amarra e te obriga, pois há o poder de resistir e de não querer fazer as coisas do jeito errado. As pessoas que abrem mão de fazer as coisas do jeito certo.
JT& FÔ – Como você enxerga a política no Brasil e em São Paulo?
Soninha – Olha, não sei se é apenas no Brasil. Mas eu acabei de voltar de um encontro de jovens políticos na Argentina e percebi um sentimento geral de desencanto com a política. As pessoas não acreditam mais na política. A política é um instrumento para mudar o mundo, mas a população não acredita mais nisso, e tem motivo para não acreditar. Então, a gente tem de recuperar a idéia original: a política é um instrumento para servir a sociedade e não o contrário. Hoje, parece que a política se serve da sociedade para os seus próprios fins. O fim é a sociedade, é o bem comum, mas muitas vezes não é tratada desse jeito.
JT& FÔ – Agora que você decidiu disputar a prefeitura de São Paulo, qual a sua opinião sobre o que não está correto na cidade?
Soninha – A gente sempre tem que pensar em duas coisas ao mesmo tempo. No imediato é claro, que não pode ser tolerado nem mais um minuto, e a longo prazo. E é muito difícil alguém conseguir fazer essas duas coisas. O maior problema de São Paulo é ter crescido de um jeito descontrolado e sem planejamento. E a maior parte dos nossos problemas decorre desse gigantismo desequilibrado da cidade, que é muito rica em alguns lugares e extremamente pobre em outros. Nenhuma cidade é tão rica como São Paulo na América Latina e nenhuma cidade é tão pobre como São Paulo na América Latina. Um exemplo: vamos falar de córrego de fundo de vale, que apresenta um problema sério de poluição, contaminação, degradação, enchente e um vetor de doença. Se você pensar só no imediato, você canaliza o córrego e tapa a sujeira toda, e assim não enche e não alaga mais. Mas se você pensar a longo prazo, isso é péssimo, e São Paulo fez isso e muito. Escondeu uma boa parte dos problemas, pois o córrego continua contaminado, e ao mesmo tempo, aquela água vai ter uma vazão muito mais rápida, vai chegar lá no Tietê e vai alagar. É preciso resolver os problemas imediatamente, mas pensando a longo prazo. Você tem que pensar em recuperar, e é isso que tem que ser feito em São Paulo. É a velha história de trocar a roda com o carro andando.
JT& FÔ – Você vê uma possibilidade de mudança, caso os candidatos já conhecidos assumam a prefeitura de São Paulo?
Soninha – Não haverá mudança, se não houver pressão. A população tem alguns hábitos de cobrança que são ineficientes. De repente chega a uma situação insuportável e as pessoas se reúnem em uma manifestação. O povo tem que fazer uma pressão mais constante, exigir a eficiência do serviço público, o respeito e o direito de uma maneira permanente. Tem que fazer funcionar os mecanismos da própria administração. Muitas vezes, as pessoas denunciam no lugar errado. É muito mais fácil o cidadão gritar com o prefeito em uma inauguração do que chegar ao balcão e dizer o problema, exigindo uma resposta por direito. Por um lado, as pessoas estão desacreditadas, porque tentam e não dá certo, por outro lado, elas não tentam.
JT& FÔ – Por que você trocou o PT pelo PPS?
Soninha – Troquei porque o PT, com o passar do tempo, não era mais o partido que eu havia escolhido. Quando eu entrei, o PT tinha uma teoria e uma prática que casava uma com a outra, e aos poucos foram abandonando uma parte da teoria e, principalmente, a prática. O PT foi um partido construído solidamente, perdendo eleições, e infelizmente, se perdeu, quando começou a ganhar. É uma lástima.
JT& FÔ – Como você analisa a aliança entre o PSDB-DEM e a possibilidade da Luiza Erundina ser a vice da Marta Suplicy?
Soninha – Eu acho muito difícil que essa possibilidade ocorra de fato, embora o PT e o PSB tenham uma relação próxima, pois a Erundina tem uma história pessoal muito difícil com o PT. Seria interessante aqui no Brasil, conseguir identificar a tendência ideológica da aliança, pois o que se percebe hoje são partidos de esquerda ou centro esquerda, de lados opostos, e cada um deles procurando os seus aliados à direita. A formação de alianças é uma postura quase monopolista. É como se existissem apenas eles como alternativa, e qualquer outra coisa seria café com leite. Eles acham que só quem entra nisso para valer é quem tem nome, visibilidade e um grande reconhecimento anterior, e as que as portas estão fechadas para quem não faz parte desse clube. E a formação de aliança com nomes fortes não me amedronta nem um pouco, pois assim como eu, tem um número indefinido de pessoas que estão de saco cheio disso.
JT& FÔ – Com novos nomes na disputa, essa pode ser a eleição da mudança em São Paulo?
Soninha – Pode. Sempre pode. Esse é o ponto: as coisas sempre podem mudar. Só não pode mudar depois que já foi. Tudo o que está por vir pode ser mudado, pois as pessoas têm esse poder. É difícil, o eleitor sozinho, ver que ele tem esse poder. Está todo mundo cansado das mesmas coisas de sempre, então porque não mudar. No Brasil, as pessoas ficam cansadas de algumas coisas e voltam para a anterior, das quais elas já estavam cansadas antes. E até acontecer uma renovação de verdade, demora muito tempo. O povo tem um desespero por mudança e medo de mudança. Não é preciso ter medo, pois o sistema está consolidado. A democracia está aí e há um revezamento no poder.