quinta-feira, 8 de novembro de 2007

A volta de Manguari Pistolão e Lorde Bundinha

Para os saudosos do trabalho de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha (1936-1974), vale assistir em São Paulo a remontagem da peça Rasga Coração, considerada a sua obra-prima.

Segundo a crítica especializada, chega a ser surpreendente que tenham sido escritos no início da década de 70 alguns diálogos que parecem extremamente atuais, sobre os efeitos do progresso na destruição do planeta e o descaso com a preservação da natureza.

Trata-se de ótima oportunidade, também, para rever os personagens Manguari Pistolão, inspirado no jornalista Noé Gertel, do velho Partidão, e o boêmio Lorde Bundinha.

Proibida pela Ditadura e tornada um dos símbolos da luta contra a censura, a ação se passa através de saltos narrativos entre presente e passado.

No presente, assiste-se à história de Manguari Pistolão, um funcionário público que é militante do Partido Comunista, e seus problemas com o filho Luca, um jovem rebelde interessado em macrobiótica e zen-budismo.

No tempo do passado, a ação enfoca a vida do fiscal da Saúde Pública 666, pai de Manguari, a luta dos militantes do PC contra o Estado Novo e a ação integralista. As arruaças e canções de Lorde Bundinha, tio de Manguari, fazem as ligações entre os diferentes planos.

"O fascinante em Vianinha é que ele não cria o herói como um ser perfeito. Manguari é frágil, cheio de contradições, equívocos e conflitos. Mas é um lutador, um lutador político, um homem capaz de indignar-se com a injustiça e agir contra ela, essa é sua força", diz o ator Zecarlos Machado. "Como também foi Vianinha. Sua trajetória foi de luta pelas coisas que acreditou."

O diretor Dudu Sandroni, de quem partiu a iniciativa da montagem, chama atenção para a oportunidade de rever a peça após mais de três décadas."Ela faz uma crítica ao homem de esquerda brasileiro e sua adesão ao sistema em diferentes tempos da História. É muito interessante revê-la nesse momento em que a geração de Vianinha chegou a o poder. E não estou falando só de Lula, mas também de FHC, toda essa geração que chegou ao poder pós-1964."

Como explicou o próprio Vianinha, no prefácio: "Em primeiro lugar, Rasga Coração é uma homenagem ao lutador anônimo político, aos campeões das lutas populares: preito de gratidão à Velha Guarda, à geração que me antecedeu, que foi a que politizou em profundidade a consciência do país. (...) Em segundo lugar, quis fazer uma peça que estudasse as diferenças que existem entre o novo e o revolucionário. O revolucionário nem sempre é novo absolutamente e o novo nem sempre é revolucionário".

Rasga Coração. 135 min. 12 anos. Sesc Santana (349 lug.). Av. Luiz Dumont Villares, 579, 6971-8700. R$ 20. Sábados, às 21h; domingos, às 19h. Até 25/11