"Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão." No carro de som, em Brasília, o refrão do samba "Reunião de Bacana" deu o tom das passeatas contra a corrupção, que pipocaram em várias capitais no Sete de Setembro.
É um erro achar que estamos diante de um repeteco do movimento "Cansei", aquele de 2007, quando a ala coxinha da elite branca decidiu se indignar contra o estado de coisas no país, capitaneada pela figura de João Dória Jr., dublê de empresário e socialite conhecido pelos concursos de bebês e cães de madame que promove durante os invernos em Campos do Jordão.
Convocados pelas redes sociais, os protestos de agora são mais espontâneos e menos identificados com a direita udenista. Mas não são de todo estranhos a esse ideário.
Em São Paulo, onde algumas centenas de pessoas se reuniram na Paulista, havia gente defendendo o fechamento do Legislativo, a favor da redução de impostos ou vociferando contra a pessoa de Lula.
Em Brasília, onde o ato pegou, um senador do PSDB foi hostilizado e militantes do PSOL foram obrigados a recolher suas bandeiras. O movimento contra a corrupção era, também, um protesto contra a política partidária, ou, simplesmente, contra os políticos e a política.
Numa sociedade em geral apática diante da desfaçatez de seus representantes, é ótimo que as pessoas se insurjam contra a absolvição de Jaqueline Roriz, a impunidade de Sarney ou a farra dos mensaleiros. É ótimo que uma figura como Ricardo Teixeira seja identificada publicamente como o que é.
Ainda não está claro, porém, se esse movimento terá consequências menos episódicas. Além de seu caráter difuso a favor da decência e da sua aversão à política, para onde, exatamente, ele aponta? De que lugar falam esses jovens que usam nariz de palhaço e vestem preto, como os caras-pintadas, e portam vassouras, mas não querem ser nem parecem ser apenas herdeiros tardios da pantomima do janismo?
(Artigo de Fernando de Barros e Silva, publicado na Folha de S. Paulo de sexta-feira, 9 de setembro de 2011)