Dois dos três principais candidatos à prefeitura disputam a vereadora do PPS para vice. Ela jura que não irá na garupa de ninguém: "Eu mesma vou concorrer. Quero ser prefeita"
Alvaro Leme

Nem por isso a vereadora Soninha Francine deixa de ser uma mulher cobiçada, inclusive politicamente. A ex-petista, quem diria, tornou-se a menina-dos-olhos dos caciques do DEM (antigo PFL) e do PSDB, que articulam com o atual partido dela, o PPS, uma aliança para as eleições municipais deste ano.
Eles gostariam de tê-la como vice de seus prováveis candidatos, o prefeito Gilberto Kassab e o ex-governador Geraldo Alckmin, respectivamente. Com uma convicção inversamente proporcional ao seu 1,66 metro de altura, Soninha garante que ambos ficarão na vontade. "Estou 100% certa", afirma. "Eu mesma vou concorrer. Quero ser prefeita."
Mas por que os dois partidos andam de olho comprido numa candidata tão alternativa e desencanada?
"É uma vereadora combativa, uma liderança forte e de valores éticos, além de extremamente simpática. Temos enorme afinidade com o PPS, que está na oposição como o PSDB", diz o tucano Geraldo Alckmin.
"Ela fala a linguagem do público jovem e trabalha pensando o mundo num cenário de transformações", declara Kassab.
Apesar de os dois candidatos não escancararem suas intenções, fica fácil entender por que a querem como vice depois de uma olhada em sua trajetória.

Um exemplo: recolhia tudo quanto era papel que encontrava pelos corredores da emissora e deixava em sua mesa, para reaproveitar. Isso numa época em que a idéia de reciclagem ainda engatinhava por aqui.
"A mesa dela era uma bagunça", conta Astrid Fontenelle, uma das responsáveis por colocá-la no vídeo. Astrid, que também era VJ na MTV, falava tanto de Soninha no ar que a moça começou a ganhar fãs até virar apresentadora. Uma das mais populares, claro, graças ao rostinho bonito.

Mantém ainda hoje, aos 40 anos, essa conexão com os jovens, o que não se aplica exatamente a Kassab e Alckmin. Ou seja, tê-la como vice conquistaria uma fatia do eleitorado distante dos perfis deles e roubaria muitos votos de Marta Suplicy, do PT. Incluem-se aí gays, ecologistas, grupos de defesa da descriminalização do aborto e da maconha.
Ah, sim, a maconha. Soninha afirma que nunca vai superar o episódio em que declarou, na capa de uma revista, que gostava de fumar, em 2001. Perdeu o emprego como apresentadora da TV Cultura – havia saído da MTV em 2000, mas continuou no vídeo como comentarista esportiva do canal pago ESPN, função que desempenha atualmente (é palmeirense, mas equilibrada em suas análises futebolísticas).
Aonde ia era tachada de maconheira, para dizer o mínimo. Hoje, no entanto, aponta aspectos positivos na história polêmica. "Como mantive minha opinião, as pessoas viram que podiam confiar em mim", acredita.
Sua imagem de mulher forte consolidou-se na mesma época por três motivos. Primeiro, por eleger-se vereadora, em 2004, com 51.000 votos (em 2006, é verdade, candidatou-se a deputada federal, teve apenas 45.000 votos e não emplacou).
Depois, pelo relacionamento moderno com o músico Marcelo Terra, de quem se separou há um ano e meio. Enquanto ele cuidava dos afazeres domésticos, ela sustentava o apartamento onde viviam com as três filhas (as mais velhas do primeiro casamento), em Perdizes.

Fala de tudo isso e de como sofreu com a separação do marido e do ex-partido, o PT, em 2007, com muita naturalidade. Não se esquiva nem de revelar seus rendimentos mensais, de cerca de 15.000 reais (somados os vencimentos da Câmara, o trabalho na TV, colunas no jornal Folha de S.Paulo e na revista Vida Simples, da Editora Abril).
E reconhece que suas chances de vencer a corrida à prefeitura são mínimas. "Mas surpresas acontecem, como mostrou a eleição da Luiza Erundina." E ser vice? Ela continua jurando que não.