Mais um dia de chuva e de recorde de congestionamentos em São Paulo. Novidade! Se fossemos uma população de 12 milhões de Soninhas, andando de bicicleta, talvez não sofressemos tanto. Mas não somos ainda cidadãos tão evoluídos. Andamos de quatro (rodas). Desafiamos as leis da física e do bom senso e tentamos fazer com que 6 milhões de carros ocupem o mesmíssimo e reduzido espaço de ruas e avenidas. Tarefa inglória e insana.
Parece que acordamos diariamente no filme "Feitiço do Tempo" (Groundhog Day, "dia da marmota" no título original), ótima comédia com Bill Murray. Conta a história de Phil (Murray), um cara arrogante que fica "preso" em um dia específico, que ele tem de reviver infinitamente, e onde as coisas ocorrem sempre igual (a menos que ele interfira nos acontecimentos).
Pois está na hora de interferirmos para acabar com a mesmice. A questão do trânsito é só um exemplo concreto, talvez o mais urgente. Mas não é por acaso que temos a pré-candidatura da vereadora Soninha Francine à Prefeitura de São Paulo e que o tema da Mobilidade Urbana é prioridade nos debates do Projeto SP. Alguma coisa precisa ser feita.
A população sofre, a imprensa trata do assunto diariamente, mas nenhuma solução é colocada em prática. A Revista Veja publicou matéria sobre o assunto na semana passada. Comentamos aqui. Nesta semana também as revistas Época e Carta Capital propõem a discussão do mesmo tema.
A Carta Capital apresenta cinco idéias: aumentar o número de corredores de ônibus, proibir estacionamento nas ruas, cobrar pedágio no centro da cidade, tarifa zero no transporte coletivo e limitar o licenciamento de carros.
Ok, há outras tantas propostas ouvidas por aí: aumentar o período ou a abrangência do rodízio, proibir o tráfego de caminhões em determinados horários, aumentar o rigor da fiscalização das leis de trânsito, limitar a circulação dos motoboys, aumentar os investimentos no metrô, construir ciclovias etc. etc. etc.
Mas como resolver este problema crônico? Na última década, a frota paulistana aumentou 2,5 vezes mais do que a população. São licenciados diariamente 800 automóveis na cidade, número superior à média de 500 nascimentos por dia.
A frota nacional também está em franca expansão. Nos últimos dez anos, passou de 30 milhões para 50 milhões de veículos. Em 2007, foram quase 3 milhões de automóveis produzidos e 2,46 milhões vendidos. É o melhor desempenho da história, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.
"Entre os especialistas e gestores públicos, há o consenso de que o transporte coletivo deve ser priorizado, o uso dos automóveis precisa ser restringido, e as cidades devem planejar melhor o uso do espaço público, concentrando as principais redes de transporte nas áreas de maior adensamento populacional. Entre a retórica e a realidade, há, porém, um grande abismo", retrata bem a Carta Capital.
“Hoje, rios de dinheiro são gastos em obras viárias de pouca relevância, que muitas vezes ligam um congestionamento a outro. Mas a expansão dos trens metropolitanos e dos corredores exclusivos de ônibus segue a passos de tartaruga”, pontua o urbanista Cândido Malta , professor aposentado da Universidade de São Paulo.
Diante do agravamento dos congestionamentos na capital, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) apresentou um pacote de medidas para minimizar o estrago. Entre elas, a instalação de semáforos computadorizados, câmeras de monitoramento, equipamentos para fiscalizar o rodízio e a construção de dois corredores de ônibus. “Evidente que não vamos resolver todos os problemas a curto prazo, mas o importante é assumir que existe o trânsito e este é um problema grave da cidade.”
Isso basta? Temos a chance de estabelecer o debate e definir, enfim, quais são as nossas prioridades. Ao trabalho!