
Parece que acordamos diariamente no filme "Feitiço do Tempo" (Groundhog Day, "dia da marmota" no título original), ótima comédia com Bill Murray. Conta a história de Phil (Murray), um cara arrogante que fica "preso" em um dia específico, que ele tem de reviver infinitamente, e onde as coisas ocorrem sempre igual (a menos que ele interfira nos acontecimentos).

A população sofre, a imprensa trata do assunto diariamente, mas nenhuma solução é colocada em prática. A Revista Veja publicou matéria sobre o assunto na semana passada. Comentamos aqui. Nesta semana também as revistas Época e Carta Capital propõem a discussão do mesmo tema.
A Carta Capital apresenta cinco idéias: aumentar o número de corredores de ônibus, proibir estacionamento nas ruas, cobrar pedágio no centro da cidade, tarifa zero no transporte coletivo e limitar o licenciamento de carros.
Ok, há outras tantas propostas ouvidas por aí: aumentar o período ou a abrangência do rodízio, proibir o tráfego de caminhões em determinados horários, aumentar o rigor da fiscalização das leis de trânsito, limitar a circulação dos motoboys, aumentar os investimentos no metrô, construir ciclovias etc. etc. etc.
Mas como resolver este problema crônico? Na última década, a frota paulistana aumentou 2,5 vezes mais do que a população. São licenciados diariamente 800 automóveis na cidade, número superior à média de 500 nascimentos por dia.
A frota nacional também está em franca expansão. Nos últimos dez anos, passou de 30 milhões para 50 milhões de veículos. Em 2007, foram quase 3 milhões de automóveis produzidos e 2,46 milhões vendidos. É o melhor desempenho da história, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.
"Entre os especialistas e gestores públicos, há o consenso de que o transporte coletivo deve ser priorizado, o uso dos automóveis precisa ser restringido, e as cidades devem planejar melhor o uso do espaço público, concentrando as principais redes de transporte nas áreas de maior adensamento populacional. Entre a retórica e a realidade, há, porém, um grande abismo", retrata bem a Carta Capital.
“Hoje, rios de dinheiro são gastos em obras viárias de pouca relevância, que muitas vezes ligam um congestionamento a outro. Mas a expansão dos trens metropolitanos e dos corredores exclusivos de ônibus segue a passos de tartaruga”, pontua o urbanista Cândido Malta , professor aposentado da Universidade de São Paulo.
Diante do agravamento dos congestionamentos na capital, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) apresentou um pacote de medidas para minimizar o estrago. Entre elas, a instalação de semáforos computadorizados, câmeras de monitoramento, equipamentos para fiscalizar o rodízio e a construção de dois corredores de ônibus. “Evidente que não vamos resolver todos os problemas a curto prazo, mas o importante é assumir que existe o trânsito e este é um problema grave da cidade.”
Isso basta? Temos a chance de estabelecer o debate e definir, enfim, quais são as nossas prioridades. Ao trabalho!