O assunto que mexeu ontem com políticos de todos os partidos em São Paulo foi a inauguração do Hospital Municipal do M'Boi Mirim, um bairro carente da zona sul da capital. Por dois motivos: 1) a disputa pela paternidade da obra; e 2) o ato virou mais uma manifestação em prol da aliança entre o PSDB "serrista" e o DEM pela reeleição do prefeito Gilberto Kassab.
"Hoje é um dia histórico. Quem está aqui vai sempre se lembrar desta inauguração", disse o governador José Serra, que iniciou a obra do hospital quando ainda estava à frente da prefeitura. Kassab, ex-vice de Serra, defendeu a continuidade da parceria. "O importante é que a cidade tenha oportunidade de ter à sua frente uma administração com os mesmos objetivos e que a gente possa manter a aliança."
Pela primeira vez, Kassab afirmou que a decisão sobre a candidatura deve sair em maio. Mesmo ao comentar recente pesquisa sobre avaliação positiva de sua gestão, Kassab não deixou de mencionar o aliado Serra.
"A avaliação do governo eu divido com a equipe e com o governador Serra, prefeito em um primeiro momento", afirmou Kassab. "Tenho vontade de continuar na prefeitura, mas não farei da vontade pessoal um projeto político."
A festa pela inauguração do hospital, com 240 leitos, acabou se prolongando durante a sessão da Câmara Municipal. Vereadores de todos os partidos disputaram a suposta paternidade da obra, com discursos empostados para a TV, tentando assim herdar alguns votos na populosa zona sul.
Petistas quiseram atribuir a obra à "sensibilidade" da ex-prefeita Marta Suplicy, que desapropriou a área para construção do hospital. Colocá-lo para funcionar teria sido, portanto, mera obrigação de tucanos e democratas.
Os vereadores não-petistas (PSDB, DEM, PMDB, PTB etc.), por outro lado, admitiram que Marta desapropriou o terreno, mas afirmaram que a ex-prefeita "não investiu nenhum centavo na obra". Trata-se assim, no entendimento deles, de uma realização inegável da dupla Serra-Kassab.
"De filho bonito todo mundo quer ser pai", ironizou o vereador Gilberto Natalini, líder da bancada do PSDB. O seu colega José Police Neto, líder do Governo, também fez piada: "Chama o Farhat (vereador do PTB que se notabilizou como "o advogado do Ratinho") para fazer o exame de DNA da obra".
No meio dessa guerra de egos e politicagem (aquela típica que desperta a pior avaliação da população sobre a Câmara), a vereadora Soninha Francine, pré-candidata do PPS à Prefeitura de São Paulo, seguia impassível o trabalho no plenário, à frente do seu notebook. Nada mais emblemático para diferenciá-la da mesmice da política paulistana.