O bloquinho partidário que ensaia deixar a órbita petista no plano federal, coordenado em Brasília pelos deputados Ciro Gomes (PSB), Aldo Rebelo (PCdoB) e Paulinho da Força Sindical (PDT), tenta marcar posição também na eleição de São Paulo - e para tanto lançou ontem na Câmara Municipal um manifesto onde apresenta um discurso bonitinho mas ordinário pelo "resgate" da cidade e pelo fim da polarização entre PSDB e PT.
O pano de fundo do movimento na verdade é a eleição de 2010: e os partidos parecem unidos em torno da construção da candidatura de Ciro Gomes (que pode ir para a sua terceira disputa presidencial). Talvez por ato falho, ou num arroubo de sinceridade, a maioria dos discursos revela nas entrelinhas a verdadeira motivação do bloco: "juntos valemos mais!"
Não deixa de ser irônico que componham o auto-intitulado "bloco de esquerda" partidos como o PRB do vice-presidente José Alencar, do ministro Mangabeira Unger e braço político da Igreja Universal, além do PSC e do PSL, por exemplo, que sem nenhum demérito não têm nem sombra de esquerda.
Outro fato inusitado é quando os partidos pregam "união" na disputa à Prefeitura de São Paulo, sendo que ao menos cinco deles apresentam pré-candidaturas e nenhum parece disposto a abrir mão da cabeça de chapa: Paulinho (PDT), Aldo Rebelo (PCdoB), Penna (PV), Régis de Oliveira (PSC) e Zulaiê Cobra (PHS) mantém as suas pretensões individuais.
Dizem que o critério de escolha do "nome de consenso" será o posicionamento nas pesquisas de intenção de voto. Outra ironia, já que a primeira candidatura rifada foi justamente a de Luiza Erundina (PSB), até então a mais bem colocada entre os postulantes do tal bloquinho. Rifada, diga-se, por manobras de bastidores dos presidentes estadual (Márcio França) e municipal (Eliseu Gabriel) do seu próprio partido.
O próximo na lista da "fogueira santa" (ops! sem nenhuma ironia com os bispos do PRB) é o Paulinho da Força Sindical, que vem ganhando manchetes diárias na grande imprensa com uma sucessão de denúncias e escândalos.
Assim, tudo parece caminhar para uma candidatura do comunista Aldo Rebelo, já com pose e discurso de prefeiturável. Só faltou combinar com os aliados (quem vai convencer Zulaiê a desistir? E o Penna?) e fugir da tentação que tomará conta dos mais sensíveis ao assédio de Marta, Alckmin e Kassab, que já é grande e será intensificado nos próximos dias.
Não se sabe se a cidade ganhará algo com essa "união" do bloquinho. Mas certamente nao faltará emoção e diversão nos próximos movimentos de cada peça do tabuleiro.