domingo, 18 de agosto de 2019

Será que o gado bolsonarista gosta de maus tratos?

Não basta afrontar a educação, a cultura e a ciência, ignorar o aquecimento global, negar os dados do desmatamento e rasgar dinheiro do fundo de preservação da Amazônia. O meme que virou presidente precisa ir além no obscurantismo, na indecência, na calhordice e no ataque às questões ambientais, à qualidade de vida e à agenda da sustentabilidade.

Em mais um gesto de populismo, demagogia, irresponsabilidade e sordidez, Jair Bolsonaro foi à 64ª Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, no interior paulista, para assinar um decreto que retrocede absurdamente nos padrões de bem-estar animal ao liberar provas que estavam proibidas nos rodeios por causar maus tratos e sofrimento.

Numa cerimônia marcada por gritos de "mito" e pela música "Eu te amo, meu Brasil", da dupla Dom & Ravel, tida como um hino do regime militar, o presidente da República discursou para garantir que defenderá os interesses dos promotores de rodeios e vaquejadas.

Menosprezou ainda os movimentos de proteção e defesa dos animais, tachados com deboche de "grupo do politicamente correto" e que, segundo o presidente, querem simplesmente impedir as festas desse tipo no Brasil.

"Respeito todas as instituições, mas lealdade eu devo a vocês. O Brasil está acima de tudo. Neste momento em que muitos criticam as festas de peões ou as vaquejadas quero dizer que, com muito orgulho, estou com vocês. Para nós não existe o politicamente correto, faremos o que tem de ser feito", afirmou Bolsonaro.

Ao insultar o ativismo pelos direitos dos animais, aproveitou para, mais uma vez, desmerecer também a luta histórica de negros e índios, além de demonstrar total ignorância ao opor a defesa do meio ambiente ao progresso do País. "Não voltei pra cá para demarcar terras indígenas ou quilombolas. O meio ambiente pode e vai casar com o desenvolvimento", afirmou.

Com o decreto assinado por Bolsonaro, fica definido que caberá ao Ministério da Agricultura avaliar os protocolos de bem-estar animal elaborados por entidades promotoras de rodeios e será possível a realização de provas não disputadas atualmente em alguns rodeios para poupar os animais de maus tratos.

Em Barretos, por exemplo, uma lei municipal impedia a prova do laço, que agora deve voltar à programação do evento, assim como a chamada prova do bulldog, que consiste no salto do cavaleiro sobre um bezerro em alta velocidade para imobilizar o animal. O veto tinha ocorrido após a morte brutal de um novilho, em 2011, que sensibilizou a opinião pública.

Além do decreto de Bolsonaro, o deputado federal Capitão Augusto, do PSL, mesmo partido do presidente, anunciou o relançamento da frente parlamentar dos rodeios, vaquejadas e provas equestres. Agora com apoio oficial declarado, a estimativa é estimular o setor. Hoje, cerca de 400 dos 645 municípios paulistas já promovem eventos de montarias em touros.

Nota do Blog: na foto postada com essa matéria, Bolsonaro é o de camisa branca.