terça-feira, 3 de setembro de 2013

Política, futebol, a "sorte" e o "azar" de cada um

Sorte ou azar são os dois lados da mesma crendice, mas uma sequência de fatos positivos ou negativos reforça a suspeita de existir algo mais que acaso, coincidência, destino. E o que é visto como adversidade para alguns, talvez seja a fortuna de outros.

Vejamos um exemplo concreto: funcionários da Câmara Municipal de São Paulo reclamam do "azar" de terem substituído o tradicional vale-refeição da empresa VR/Sodexo (Sodexho Pass do Brasil Serviços e Comércio Ltda.) pelo bem menos conhecido Planvale (Planinvesti Administração e Serviços Ltda.).

O problema, segundo os servidores, é a quantidade restrita de estabelecimentos que aceitam o novo cartão. Por outro lado, "sorte" dos poucos restaurantes que o aceitam. Vão faturar mais.

A decisão de trocar o fornecedor do vale-refeição foi da atual Mesa Diretora da Câmara, presidida pelo vereador petista José Américo, aliado do prefeito Fernando Haddad. Sorte do PT, que comanda o Legislativo e o Executivo. Sorte também do empresário Paulo Lofreta, vencedor da licitação aberta em março e cujo serviço foi contratado a partir de junho por R$ 1,5 milhão mensais, ou R$ 18,6 milhões por um ano. Azar dos concorrentes derrotados.

Mas veja que até essa relação do empresário com o PT é marcada por sorte e azar. Presidente da Cebrasse (Central Brasileira do Setor de Serviços), Paulo Lofreta deu sorte ao apoiar Dilma Roussef para a Presidência da República. Foi signatário e divulgador entre esportistas do manifesto "Dilma é do nosso time". Deu mais sorte ainda ao promover, em 13 setembro de 2010, um jantar de apoio à Dilma e ao então candidato a deputado federal José de Filippi Júnior (PT), que teve como sina ser tesoureiro da campanha de Lula em 2006 e de Dilma em 2010.

Coordenador do programa de governo do então candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, em 2012, o deputado José de Filippi compartilhou sua "estrela" com Haddad, que partiu de 2% nas pesquisas de intenção de votos e acabou eleito. Sorte de ambos: Filippi foi nomeado secretário municipal de Saúde, prestigiado por Haddad, por Dilma e pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha (outro que espera ter em 2014 o mesmo destino dos outros dois "postes" de Lula).

Veja que sorte: José de Filippi foi prefeito de Diadema por três mandatos. Pois é justamente nesta cidade (casualidade? destino? coincidência? interferência divina?) que a Planinvesti também é responsável  por cartões magnéticos do bilhete único ou vale-transporte (assim como em São Paulo, Santo André, Osasco e São José dos Campos), ou pelo Cartão Servidor Cidadão em Cubatão, coincidentemente todas administrações petistas.

É em Diadema, também, cidade da região do Grande ABC, que Paulo Lofreta exerce outra atividade importante: é presidente do Clube Atlético Diadema, fundado por meio da sua empresa BR Soccer em 2009. Com uma pitada extra de sorte, já pode chegar à 1ª divisão do futebol paulista em 2014.

O sucessor de Filippi na Prefeitura de Diadema, o igualmente petista Mário Reali, não teve tanta sorte. Tentou a reeleição em 2012 e perdeu. Nessa empreitada, o empresário Paulo Lofreta também deu azar: apesar de ter contribuído financeiramente para a campanha do prefeito Mário Reali, como pessoa física e jurídica (pela Planinvesti), de acordo com dados do sistema de prestação de contas do TRE, assistiu a vitória do opositor Lauro Michels (PV), que teve mais sorte.

Além de Lofreta, contribuíram com a malfadada campanha do petista outros dirigentes do Clube Atlético Diadema, como o vice-presidente de futebol profissional, Jadir da Silva, e o vice-presidente administrativo, Mamede Rasoul Salem. Cada doação individual foi de R$ 5.000,00.

O Clube Atlético Diadema não pode reclamar da falta de sorte: a Prefeitura cedeu equipamentos públicos e campos de treinamento (Taperinha e Piraporinha), dos quais o município foi obrigado por contrato a investir ainda mais recursos (incluindo a construção de alojamentos e a reforma do gramado). O poder público também reconstruiu um estádio municipal (Distrital do Inamar), ampliando-o nas condições exigidas pela Federação Paulista de Futebol.

No início de 2013, Paulo Lofreta reclamava do azar de ser "perseguido" pela administração do prefeito Lauro Michels, que estaria privilegiando outro time da cidade, o Água Santa, o que seria um momento de sorte do adversário, que também disputa a "segundona" do Paulista.

Mas, bem aventurado, o Clube Atlético Diadema tem boas relações na cidade de São Paulo - e, para não ficar atrás do Águas Claras, teria obtido o direito de utilizar dois campos de gramado sintético no Jabaquara, com o aval do secretário de Esportes de Haddad, o vereador Celso Jatene (PTB).

Houve um pequeno infortúnio em outra parceria de Paulo Lofreta no futebol: do Clube Atlético Diadema e da Planinvesti com o Clube Atlético Juventus, que permanece na série A3 do futebol paulista. O tradicional time da Mooca não atravessa a mesma maré de sorte do Diadema que, apadrinhado por Andrés Sanches, pode chegar à elite do futebol paulista em apenas quatro anos de existência.

Voltando às relações com a Câmara e com a Prefeitura, fecha-se o ciclo de sorte de Paulo Lofreta em 2013: foi convidado pelo prefeito Haddad para integrar o Conselho da Cidade, com personalidades que discutem o Plano de Metas de São Paulo, e - como já mencionado - acaba de vencer a licitação para o fornecimento do vale-refeição aos servidores do Legislativo paulistano. O 13 dá sorte! Alguém duvida?

Leia também: Direito de resposta da empresa Planinvesti e da Mesa Diretora da Câmara Municipal de São Paulo.