"Os políticos viram os protestos lançarem o bordão ´sem partidos´ e devem ter entendido que o povo defende 100 partidos no país."
Frase do Deputado Júlio Delgado, presidente do PSB de Minas, sobre a criação do Pros e do Solidariedade e a consequente movimentação para trocas partidárias (publicada na Folha de S. Paulo desta sexta, 27 de setembro).Por ironia, o novo partido com algum grau verdadeiramente renovador na política brasileira - a #REDE de Marina Silva - é exatamente o único que corre o risco de não ser legalizado, após o TSE aprovar numa só tacada a 31ª e a 32ª legendas partidárias, o Solidariedade e o Pros (Partido Republicano da Ordem Social).
A provocação do deputado Júlio Delgado é pertinente. O mineiro, que já foi do PPS e se transferiu ao PSB para acompanhar o então ministro Ciro Gomes no apoio ao Governo Lula, quando o PPS decidiu romper com o PT nos idos de 2004, antes ainda do escândalo do mensalão, conhece bem as idas e vindas partidárias.
Hoje o movimento é inverso: Ciro Gomes e seu irmão Cid, governador do Ceará, estão deixando o PSB porque defendem o apoio à reeleição de Dilma Roussef (PT) e são contra a candidatura presidencial de Eduardo Campos, governador pernambucano, presidente nacional e neto de Miguel Arraes, fundador do PSB, enquanto Júlio Delgado permanece no partido.
Outra contradição: o último "novo" partido a se aproveitar da chamada "janela da infidelidade" (a lei determina que detentores de mandato podem se transferir para partidos recém-fundados sem o risco de serem questionados pela antiga legenda, e ainda carregam a proporção do tempo de TV e do fundo partidário) foi o PSD de Gilberto Kassab, em 2011, que serviu ao governo Dilma para desidratar a oposição e teve o apoio do até então governista Eduardo Campos. Chegou até a ser cogitada uma posterior fusão entre PSD e PSB.
Porém, em 2013, a base cooPTada do governo tentou fechar na cara de Marina e da MD (Mobilização Democrática), legenda que surgiria da fusão do PPS com o PMN, a mesma janela que foi usada por Kassab. Ou seja, um peso e duas medidas. O que é bom, o governo fatura. O que é ruim, joga no colo da oposição. Golpismo? Oportunismo? O fato é que, a partir daí, o PSB de Eduardo Campos ficou mais distante do PT e do PSD kassabista.
Diga-se, PSB que quase perdeu o deputado Romário, o "peixe". E aí, perdoe o trocadilho infame, mas caiu na rede... Leia: Após se dizer 99,9% no Pros, Romário retorna para o PSB.
Proliferam as chamadas "legendas de aluguel", enquanto partidos ideológicos - como a #Rede de Marina, o PPS, o PSOL e outros enfrentam toda sorte de entraves políticos e burocráticos (vide a proposta da cláusula de barreira, por exemplo).
O tema está em pauta. Vejamos o que dizem por aí:
A política do ‘jeitinho’
Novos partidos prometem verba para atrair deputados
Janio de Freitas: O problema de Marina
Demétrio Magnoli: Marina e as regras do jogo
Eliane Cantanhêde: Prós e contras
Marina Silva: Oficina vazia
Reforma política: o que precisa ser mudado no sistema eleitoral