ROGÉRIO GENTILE (artigo publicado na Folha de S. Paulo, nesta quinta, 12 de setembro)
Fernando Haddad está há quase nove meses à frente da
Prefeitura de São Paulo, mas, sem dinheiro para grandes coisas, ainda não
ultrapassou a fase do "quer". Haddad quer fazer isso; Haddad quer fazer aquilo.
Na prática, até agora, sua gestão se limita a atualizar o modelo de Washington
Luís. Governar, para o petista, é pintar faixas de ônibus.
Agora, enquanto espera ajuda federal, tenta ganhar tempo divulgando projetos e apostando no velho receituário do marketing político, segundo o qual não há nada melhor do que uma medida polêmica para resgatar sentimentos e encobrir dificuldades. Com as tais faixas de ônibus, Haddad sabe que desagrada boa parte da classe média, mas conta com o apoio da grande maioria, que depende do transporte coletivo.
O problema é que as faixas, embora, como política pública, estejam na direção certa, são soluções de efeito limitado, sem a mesma eficácia de um corredor de ônibus segregado --que não fica sujeito a interferências de veículos que precisam mudar de rua ou entrar em garagens.
E, nitidamente, foram implantadas de modo improvisado. Haddad pretendia criar 150 km de faixas até dezembro de 2016, mas, no calor dos protestos, antecipou a implantação para o final deste ano e ainda aumentou a previsão para 220 km.
Com a pressa, emergiram situações despropositadas como a que se vê na avenida 23 de Maio. Haddad implantou a faixa exclusiva, mas não reorganizou as linhas de ônibus. E o resultado, em vários momentos do dia, é um só. De um lado, trânsito pesado. De outro, faixa de ônibus completamente vazia...