A senadora Marta Suplicy resolveu fazer o que nem a oposição faz: enfrentar Lula publicamente. Na sexta-feira passada, em entrevista ao jornal "Valor Econômico", ela disse: "A candidata natural sou eu. O candidato ungido é ele (Fernando Haddad). Lula tem uma força enorme dentro do partido, mas não é maior que o processo nem que a conjuntura".
No domingo, ao jornal "O Estado de S. Paulo", repetiu a dose: "Se não quiser ganhar a eleição em São Paulo, Lula vai com Haddad". Não são declarações muito hábeis, mesmo para os padrões de Marta. Para o público interno, repercutiu como um pequeno desastre diplomático.
No PT está claro que Marta não partiria para o confronto prematuro e aberto com Lula se não estivesse ameaçada, perdendo força no partido. A tentativa de demarcar território e exibir prerrogativas (eu sou o nome natural) é um sintoma da sua vulnerabilidade crescente.
A seu favor, Marta invocou até o fato de ter como suplente o vereador Antonio Carlos Rodrigues, figura notória do PR. Assumindo a vaga da petista, o líder do "centrão" paulistano "ajudaria Dilma a recompor" relações com o aliado. Apelar às virtudes do PR já é demais.
Não significa que Haddad seja o cara -longe disso. A máquina petista torce o nariz para a figura que considera olímpica, pouco disposta a se imiscuir na rotina do partido.
Muita gente no PT especula e ainda trabalha para que o preferido de Lula se inviabilize na disputa contra Marta e abra caminho para um terceiro nome. Se isso ocorrer, o mais cotado é Aloizio Mercadante, palatável para o ex-presidente.
Como José Serra, Marta ainda pode vir a disputar a prefeitura. Mas ela e o tucano são hoje a face mais visível do esgotamento ou da fadiga de material das lideranças tradicionais na cidade. Ambos representam uma espécie de velha ordem que luta para se manter viva.
Falta muito chão. Mas, se o "feeling" de Lula estiver certo, serão atropelados pelo trem da história.
(Artigo de Fernando de Barros e Silva, publicado na Folha de S. Paulo de terça-feira, 9 de agosto de 2011)