No empurra-empurra de culpas que se desenrola à luz do dia e nos bastidores de Brasília, o PR desmoronou nos Transportes, o PMDB balança na Agricultura e o PT escorrega no Turismo, com a Operação Voucher da PF.
Os desvios não são de agora, são herança do governo Lula. No caso do Turismo e da Embratur, particularmente, não são da gestão do PMDB, mas, sim, do PT. É o que os peemedebistas não se cansam de dizer, até com um certo gosto.
O ministro Pedro Novais é do PMDB de Sarney e do Maranhão de Sarney. E os escândalos se desenvolvem em Brasília, em São Paulo e no Amapá, que elege Sarney. Mas o velho senador diz não ter nada a ver com Novais, que deve ter caído de paraquedas no Turismo, às vésperas da Copa e da Olimpíada.
Já Marta Suplicy, ex-ministra do Turismo, não nega a proximidade com Mário Moysés, seu ex-assessor, ex-presidente da Embratur e um dos 35 presos. Não há como evitar o efeito não só numa eventual campanha à Prefeitura de São Paulo, mas já na disputa interna pela legenda do PT. Marta foi vista com lágrimas nos olhos no Senado.
Em meio ao caos, destaca-se a perplexidade e a irritação do Planalto (leia-se Dilma, Ideli, Gleisi) com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que nem atua na articulação política, nem cria fatos positivos, nem é capaz de informar a presidente de uma operação da PF com 200 agentes e dezenas de presos de altíssima visibilidade nacional. Aliás, Cardozo nem sabia.
No final, sobra para a PF, que voltou a usar algemas e a expor suspeitos algemados, como se estivesse testando limites. E sobra também para a imprensa: em falta de boas explicações, surge uma súbita indignação com o "denuncismo".
Até pode haver excessos, e muitas vezes há, mas a PF e a imprensa não inventaram pessoas, desvios e institutos fraudulentos. Ajustar a forma é fácil. Difícil -e prioritário- é mudar o conteúdo viciado.
(Artigo de Eliane Cantanhêde, publicado na Folha de S. Paulo de quarta-feira, 10 de agosto de 2011)